Por que não é aconselhável a um cristão (ou a qualquer outra pessoa) ir ao cinema?
Este artigo procura explicar a influência que o “local cinema” pode ter na vida do indivíduo, relacionado a questões de espiritualidade, mente, comportamento e a aspectos fisiológicos. Este estudo não tem como intenção mostrar que filmes são indicados ou não para serem assistidos, ou se os filmes devem somente ser assistidos em casa (existem parâmetros bem definidos para isso na Bíblia e alguns textos de referência estão no fim deste artigo).
Aspectos psicológicos e sociológicos
1. Ritual religioso. Seja do ponto de vista evolucionista ou criacionista, sabe-se que o ser humano sempre teve a necessidade de adorar alguma coisa, algo, em algum lugar e vemos isso presente em todos os tempos, locais e culturas. Em termos de Semiótica e da Psicologia da Comunicação, é sabido que o ato de ir ao cinema se trata de um “ritual religioso”, por meio de uma representação dirigista, e que o cinema (o local) é comparado a um templo. Ou seja, pessoas desconhecidas, de diversos lugares convergem em um único ponto, em um lugar especial, específico (coisas especiais se fazem em lugares importantes) para “venerar” algo/alguém.
“Não é estranho que Hollywood fosse comparada com Meca e que os cinemas fossem comparados com os templos. Em todos esses contextos, os espectadores se abrem para a revelação que lhes é dada, acolhem em atitude de êxtase a força sagrada, veneram com devoção a seus deuses e deusas, recebem com fé mensagens que conferem um sentido a suas vidas e acolhem com reverência os modelos de vida que lhes impõem. É desta forte conexão com a emoção e com o inconsciente que as imagens incidem nas crenças e nos comportamentos, são reguladoras da conduta, veículos privilegiados para a implantação de modelos de vida” (Joan Ferrés,
Televisão Subliminar – Socializando através de comunicações despercebidas, Artmed, 1998; Ferrés é professor na Universidade de Barcelona, pesquisador e pedagogo especialista na área de mídia).
Implicações – O indivíduo que vai ao cinema, intrinsecamente, estará preenchendo sua necessidade de adorar alguma coisa em algum lugar e, como consequência, por que ele sentiria, então, a necessidade de adorar a Deus na igreja? Ele poderá perder esse desejo ou diminuí-lo paulatinamente, substituindo-o por algo muito mais excitante aos seus sentidos.
2. Deuses, astros e ídolos. Outro aspecto “espiritual” do ato de ir ao cinema é a referência aos “astros”, “deuses” e “ídolos” do cinema. Muitas vezes, o indivíduo não vai ao cinema por causa do filme, mas, sim, por causa do ator/atriz que ele tanto admira. Prova disso são frases do tipo “você já viu o novo filme do fulano/fulana?”, servindo como referência ao ídolo do cinema e não ao filme, ou seja, o ator é a referência para que se vá assistir ao filme. Novamente, essa é uma analogia com aspectos religiosos, no ato de ir ao cinema.
Implicações – Novamente, a “concorrência” que tais ídolos, deuses e astros do cinema estariam fazendo ao preencher a busca de um referencial, algo inerente ao ser humano. O verdadeiro Deus ficaria, assim, suprimido e perderia espaço na adoração, na mente e no tempo do indivíduo que vai ao cinema.
3. Suspensão da realidade ou credibilidade. Ao adentrar um ambiente fantasioso, que gera toda uma expectativa, o indivíduo deixa fora sua realidade e se permite sonhar, esquecer seu cotidiano, esquecer o que rege sua vida, seus princípios, do que é louvável ou não, do padrão do certo ou errado. Ele fica envolvido. Quer esquecer a realidade e viver o filme. Joan Ferrés, em seu livro, diz: “O espectador esquece os cabos que sustentam o Superman e as transparências que animam seu voo, porque necessita sonhar com a superação das limitações que lhe atam a uma realidade medíocre e cinzenta.”
Implicações – Quando se vai a um ambiente em que a realidade fica “de fora”, a mente fica “aberta” a novas mensagens apresentadas de modo intenso, porque a noção do certo e errado acaba minimizada.
4. Interação social. O indivíduo vai ao cinema e está, também, interagindo com os demais “adoradores”; estão partilhando do mesmo ideal, pois não existe cinema sem pessoas. Seria totalmente desconfortável estar numa sala de cinema e ter meia dúzia de “gatos pingados”. Desde coisas simples, como onde sentar, quem sentará ao meu lado, o contágio do clima fílmico, toda a questão de “comunidade” está ali presente, pois todos estão ali com o mesmo objetivo. Não é nenhuma coincidência a semelhança com o contágio social, o senso de comunidade em uma igreja, de pessoas que estão ali para adorar a Deus.
Veja esta citação da matéria “Por que os cinemas não morreram”, publicada na revista
Sociologia, edição nº 2 (Editora Escala): “Uma das poucas vantagens do cinema em relação às demais mídias é o forte apelo da indústria cultural divulgando as estreias dos filmes, pois a indústria cultural trabalha constantemente com o novo. Ainda assim, as salas de cinema ainda são capazes de atrair as pessoas para desvendar o mistério de assistir um filme em grande écran, acompanhadas de desconhecidos que compartilham sentimentos e expectativas por um breve período de exibição de uma película. Enfim, parece que as pessoas ainda precisam do clima místico do cinema e da partilha de sentimentos coletiva para se sentirem como parte do mundo, por mais que este hoje pareça tribalista.”
Implicação – Quem vai ao cinema está também preenchendo ali seu senso de coletividade, ao “congregar” e partilhar do mesmo objetivo com outros indivíduos.
O ambiente: aspectos neurofisiológicos
Partindo do princípio de que a sala de cinema é projetada especialmente para dar um grande impacto emotivo, uma hiperestimulação sensorial, ser realmente algo especial e marcante para o espectador, podemos tirar algumas conclusões:
1. O som. No ambiente da sala do cinema o som proporciona ao espectador algo mais do que o envolvimento emocional de uma trilha sonora. Geralmente, é um som alto,
surround e com intensidade acima de 90 decibéis, quando este é então percebido também como vibrações. Essas vibrações penetram no corpo influenciando diretamente nossos órgãos. As ondas sonoras graves têm maior comprimento e podem penetrar em distâncias maiores. No labirinto (órgão do ouvido), existe um líquido que, quando se movimenta, empurra as células ciliadas para um lado ou outro. Quando viramos a cabeça para um lado, o líquido se movimenta e empurra os cílios das células receptoras para o outro lado, aumentando ou diminuindo o número de estímulos elétricos enviados pelo nervo ao sistema nervoso central. O sistema nervoso central é que decifra a quantidade de estímulos elétricos, compara com a posição do resto do corpo e dá a percepção de equilíbrio.
Se um som com 90 decibéis ou mais fizer com que o líquido do labirinto incline os cílios das células receptoras, o sistema nervoso vai decifrar isso como movimento e ajustará os músculos dos membros para equilibrar, podendo assim alterar o equilíbrio do corpo em meio à contemplação de um filme com tal volume de som, por exemplo.
As imagens projetadas nos olhos também influenciam o equilíbrio, pois o Cerebelo é que integra as informações oriundas dos olhos e aquelas oriundas do labirinto. Muitas vezes, em um ambiente de cinema, as informações vindas do labirinto e dos olhos são conflitantes e isso também provoca desequilíbrio.
Como os nervos que levam informações do labirinto para o cérebro são muito próximos do nervo vago, que leva e traz informações do sistema gastrointestinal, uma estimulação forte do nervo que sai do labirinto pode estimular o nervo vago e produzir ânsia de vômito e até vômitos.
Enquanto houver estímulos sobre as células receptoras e o cérebro receber essas informações, esses fenômenos continuarão ocorrendo.
Implicação – A intensidade do som de uma sala de cinema é além de 90 decibéis e, aliada a um efeito
surround, a noção de equilibro é em muito diminuída (o indivíduo fica “zonzo”, “tonto”), no transcorrer do filme. Isso compromete em muito seu estado de lucidez e seu senso crítico/discernimento, nesse tipo de ambiente.
2. Hiperestímulo sensorial. O indivíduo que assiste a um filme em uma sala de cinema está enormemente mais exposto a hiperestímulos sensoriais do que o que assiste a um filme em sua casa, pelos fatores anteriormente abordados e pelo que ainda será abordado mais adiante.
Quando escutamos e/ou vemos algo, essa informação sonora e auditiva, esses estímulos sensoriais são transformados em impulsos nervosos, sendo enviados ao córtex cerebral para serem interpretados e se tornarem ou não conscientes (segundo estudos, não mais que 20% do que vemos ou ouvimos vai para o consciente; o restante vai para o inconsciente humano e ali não se tem controle de como atuará em todo o corpo e mente). Antes de chegarem ao córtex cerebral os estímulos chegam a uma “estação retransmissora” chamada tálamo. No tálamo, existem sinapses com várias partes do sistema nervoso:
a) Sistema límbico, responsável pelas emoções.
b) Hipotálamo, que controla o sistema nervoso autonômico, responsável pelo controle dos batimentos cardíacos, sudorese, pupilas, respiração, secreção de adrenalina pela glândula suprarrenal, etc., e a glândula hipófise, responsável pelo controle dos hormônios e das várias outras glândulas do corpo.
c) Tronco cerebral, onde é controlado o ciclo sono/vigília e o movimento e equilíbrio do corpo.
Assim, os sons e imagens podem provocar variadas reações no organismo. Quando os estímulos chegam ao tálamo, ele decide para onde vai enviar sinais nervosos e quais estruturas nervosas e hormonais vai acionar.
Por exemplo, filmes que contenham cenas de suspense, terror, guerra, mortes geram uma reação de estresse e o sistema nervoso autonômico é estimulado e prepara o organismo para lutar ou fugir (reação de fuga ou luta). O corpo então é preparado para esforço físico forte e rápido: aumentam os níveis de glicose no sangue, o sangue é deslocado de regiões como cérebro, estômago e intestino para aumentar o fluxo sanguíneo nos músculos; ainda aumentam a frequência respiratória e cardíaca, a velocidade de coagulação sanguínea, ocorre sudorese, a pupila fica dilatada, diminui o fluxo sanguíneo em outros órgãos como rins e sistema gastrointestinal, aumenta a liberação de adrenalina, noradrenalina e cortisol na glândula suprarrenal.
Essa situação deve ocorrer por pouco tempo, pois se perdurar por mais do que 15 ou 20 minutos, os efeitos do cortisol fazem com que o sistema imunológico fique deprimido. Além disso, os efeitos da adrenalina e da noradrenalina provocarão aumento da pressão arterial e a função renal será prejudicada. Perceba que o indivíduo poderá ter todas essas reações estando estático, sentado em uma cadeira de uma sala de cinema.
Mas um filme que gera essas sensações tem duração de somente 15 ou 20 minutos? Vale lembrar que em qualquer tipo de filme existe suspense em relação a “qual será a próxima cena”, embalado por trilhas sonoras e tomadas de câmera envolventes. Deve-se ter o discernimento do que, como e onde assistir – fatores decisivos que interferem na influência das películas em nossa mente.
Além disso, quando o sistema límbico (responsável pelas emoções) é ativado, várias reações emocionais são acionadas, além de estimular a aquisição de dados na memória.
Uma vez que o hipotálamo seja estimulado, tanto o sistema límbico (emoções) e o sistema nervoso autonômico (batimentos cardíacos, respiração, secreção de adrenalina, etc.) quanto o sistema hormonal ficarão alterados. Quanto mais intensa for a entrada e quantidade de estímulos sensoriais, mais estruturas nervosas serão estimuladas.
O centro do prazer é formado por estruturas do sistema límbico (das emoções) e é estimulado por neurotransmissores e/ou hormônios como: dopamina, serotonina, endorfinas, noradrenalina e adrenalina. Quando esse centro do prazer é estimulado o individuo tende a repetir a experiência para produzir prazer novamente.
A superestimulação sensorial também produz aumento do nível desses receptores nas sinapses. Se esses neurotransmissores estimularem de maneira mais demorada (qual a duração de um filme?), o centro do prazer leva ao estado de dependência – desejo de repetir a experiência – e à tolerância – necessidade de uma dose maior para produzir o mesmo sentimento de prazer. A isso se chama vício. Embora tal mecanismo também ocorra em estímulos neurossensoriais recebidos de um filme em uma televisão, os efeitos em uma sala de cinema são consideravelmente mais intensos, devido aos fatores abordados e a serem ainda expostos.
Outra consequência de filmes assistidos em salas de cinema é a “anestesia e atrofia” do que popularmente chamamos de “consciência”. Um dos centros nervosos que recebem impulsos do hipotálamo e do ouvido é um núcleo denominado Lócus Cerúleos. Esse núcleo envia neurotransmissores para algumas partes do cérebro, entre elas está o córtex pré-frontal. Quando ocorre muita estimulação do Lócus Cerúleos (como assistir a um filme no cinema), ele faz com que estímulos nervosos liberem noradrenalina dos terminais dos nervos que chegam ao córtex pré-frontal. A atuação de níveis altos de noradrenalina no córtex pré-frontal atua como uma forma de anestesia das funções dessa região.
Por isso, as funções de tomar decisões corretas ficam prejudicadas, pois o córtex pré-frontal não consegue buscar informações armazenadas na memória e em outras regiões (como se a “base de dados” do que é certo e errado estivesse sendo bloqueada). Assim, a razão, o domínio próprio, a consciência ficam afetados. Como a razão fica “anestesiada”, as emoções dominam as ações. Como os hormônios foram liberados em maior quantidade pela estimulação do hipotálamo, o desejo sexual e qualquer outra função ficam fora do controle da razão, por exemplo.
Implicação – Podemos enumerar as implicações:
1. Assim como não temos mais domínio sobre a ação de um copo d água dentro do corpo depois que a ingerimos, não temos mais domínio próprio em uma informação visual e auditiva que percebemos, pois ela se transforma em impulsos nervosos e torna-se algo fisiológico; não mais há o domínio próprio sobre o efeito que terá no corpo do indivíduo.
2. Funções metabólicas e sistema imunológico ficam prejudicados mediante a exposição a uma hiperestimulação do corpo em uma sessão de cinema (alteração de batimentos cardíacos, pressão arterial, sudorese, pupilas, respiração, secreção de neurotransmissores e hormônios, etc.).
3. A exposição a esses estímulos neurosensoriais intensos leva a um estado de: (1) dependência – desejo de repetir a experiência, e (2) tolerância – necessidade de uma dose maior para produzir o mesmo sentimento de prazer. Tais fatores são popularmente chamados de vício. Surge então o perigo de que o ato de frequentar o cinema não será mais um prazer suficiente para gratificar o mecanismo de recompensa do cérebro, pois este pedirá estímulos mais intensos.
4. Outra consequência é a que o espectador assíduo do cinema acaba por achar monótono tudo o que é abstrato ou estático (como a leitura de livros e revistas, que requerem mais concentração e um cérebro mais treinado na abstração que é requerida na leitura). O indivíduo acaba necessitando de sobrecarga sensorial para se sentir vivo e gratificado.
5. O córtex pré-frontal e suas funções (consciência, razão, discernimento, domínio próprio) ficam atrofiados e anestesiados pela atuação de níveis altos de noradrenalina liberados pela estimulação do Lócus Cerúleos. As funções de tomar as decisões corretas ficam prejudicadas e o indivíduo passa a tomar suas decisões baseados em aspectos emotivos e não racionais.
3. Dimensões da tela de cinema
Um dos grandes diferenciais entre assistir a um filme em uma televisão e em uma sala de cinema, com certeza, é a dimensão da tela. Somente por essa comparação, deduz-se que a quantidade de informação e influência visual é muito mais intensa. Quantas televisões “cabem” em uma tela de cinema?
Ainda nessa comparação, a tela de cinema envolve a visão fóvica (central) e a visão periférica. Uma televisão comum certamente não engloba as visões fóvica e periférica ao mesmo tempo, por mais que as telas estejam maiores e quase sempre haja interferência e distrações no ambiente (alguém se levanta, vai ao banheiro, cozinha, existem comentários entre os espectadores, etc.).
Indo para o campo fisiológico, explicaremos como ocorre a estimulação da retina e como isso chega ao córtex visual (SNC – Sistema Nervoso Central).
Campo receptivo é a chamada área da retina em que um estímulo luminoso (imagem) altera os fotorreceptores (cones e/ou bastonetes), provocando atividade dos neurônios da via visual (nervo óptico). Na fóvea (visão fóvica, central), que fica no centro da retina onde a acuidade visual é maior, os campos receptivos são menores comparados àqueles da retina periférica (ou visão periférica). Tais campos receptivos dos neurônios que recebem informações dos fotorreceptores são circulares. Esse campo receptivo circular é dividido num círculo central e num círculo periférico. A área central desse círculo central (visão fóvica, central) é estimulada de forma antagônica à do círculo periférico (visão periférica), ou seja, se antagonizam mutuamente.
Quando estímulos visuais (imagens) atingem apenas a periferia de um campo receptivo, a estimulação dos neurônios é mínima. Porém, quando a imagem estimula a periferia e o centro de um campo receptivo, simultaneamente, então a estimulação das células nervosas é máxima e, como consequência, muitíssimo mais informações visuais adentrarão o cérebro.
Possivelmente, a exposição de um filme numa tela grande facilite a estimulação de uma área maior na retina, principalmente nas regiões laterais onde os campos receptivos dos neurônios são maiores. Lembramos que em uma sala de cinema o indivíduo permanece estático, sem muitos movimentos de corpo e cabeça, por no mínimo 90 minutos.
Apenas para completar, existem vias nervosas separadas para levar até o córtex visual os diversos estímulos: uma para cor, outra para forma e profundidade da imagem e outra para movimento. As informações visuais contidas numa imagem são primeiramente detectadas e analisadas por diferentes circuitos neurais, depois permitindo a síntese da informação para a percepção global no córtex visual.
Implicação – Não existe “escape visual” ao estar em uma sessão de cinema. Por no mínimo 90 minutos, o indivíduo estará exposto a uma estimulação máxima nas células receptoras da visão devido à dimensão da tela, por englobar visão fóvica e periférica, o que gera uma influência muito maior da mensagem filosófica do filme e seus efeitos fisiológicos na mente e corpo.
4. Resposta pupilográfica
Outro fator relacionado ao ato de assistir a um filme em uma sala de cinema é a dilatação da pupila, ou midríase (nomenclatura fisiológica) ou ainda resposta pupilográfica. A pupila é a porta de entrada dos estímulos luminosos (imagens), portanto, quanto mais dilatada estiver, com maior abertura, mais estímulos neurossensoriais adentrarão com maior intensidade no organismo do indivíduo.
É bem conhecido que em um ambiente escuro a pupila se dilata mais para que entre mais luz (estímulos luminosos, imagens) e, assim, se tenha melhor acuidade visual. Obviamente, em uma sala de cinema não existe luz ambiente (o ambiente é projetado para ser escuro) e a tela não emite luz como uma TV, uma vez que as imagens do filme são projetadas sobre a tela e ela refletirá pouca luz. Com isso, o ambiente tende a ficar mais escuro do que num ambiente em que o filme é assistido em uma TV e a abertura da pupila é maior – ou seja, mais estímulos neurossensoriais chegarão ao cérebro.
A pupila aumenta de tamanho; “abre-se” frente a estímulos agradáveis (alguém vai a uma sala de cinema para assistir a um filme que para si é “desagradável”?), e diminui de tamanho, “resiste”, se fecha frente a estímulos desagradáveis. Toda experiência nova faz com que adrenalina e noradrenalina sejam liberadas estimulando o centro do prazer. Como os jovens estão mais interessados em experiências novas, pois em sua memória ainda não estão registrados os resultados dessas experiências e suas consequências, eles desfrutam de prazer por praticar atividades que liberem esses neurotransmissores. Assim, situações novas ou desafiadoras fazem com que o sistema nervoso autonômico simpático libere noradrenalina e adrenalina, e uma das ações dessas substâncias é a midríase (dilatação das pupilas). Como mencionado anteriormente, essa dilatação proporciona maior entrada de luz nos olhos e uma visão mais acurada, e maior entrada de estímulos neurossensoriais.
Em situações de repouso, quem comanda nossas atividades autonômicas é o sistema nervoso autonômico parassimpático. Entre suas funções estão: diminuição dos batimentos cardíacos, aumento dos movimentos gastrointestinais, miose (contração das pupilas), dilatação dos vasos sanguíneos dos órgãos internos, etc.
Implicação – Podemos comparar, quem sabe, a pupila como um funil. Quanto maior for sua abertura, mais substâncias entrarão pelo orifício. A pupila é um “funil visual”: quanto maior a abertura, mais informação, mais influência, mais consequências comportamentais e fisiológicas. O olho não passa somente de um sensor e cerca de ¼ do cérebro é dedicado à visão.
5. Hipnose. Todas as questões anteriormente abordadas, somadas à “equação” ambiente escuro + corpo estático + olhar fixamente por mais de 90 minutos para um único ponto de luz, sugerem um estado de princípio de hipnose. Na hipnose, há a ausência de piscadas dos olhos e, quanto menos piscamos, mais intensamente estamos no estágio de pré-hipnose. A hipnose ocorre quando nossa mente está sob controle de um comando externo e perdemos o controle voluntário. Isso pode ocorrer voluntariamente ou involuntariamente.
Quando o indivíduo se dispõe a fazer todo o ritual de ir ao cinema, ficar exposto a toda sorte de estímulos psicológicos, sociológicos e fisiológicos, a “entrar no filme” e participar dele com todas as influências já abordadas, contemplando fixamente a produção que fabrica emoções, esse indivíduo está permitindo que as mensagens daquele filme dominem sua mente e suas emoções por um determinado espaço de tempo; ele se expõe a uma hipnose voluntária.
O simples fato de tais mensagens e filosofias dos filmes começarem a fazer parte da cultura e comportamento do indivíduo e predominarem em sua mente por meio da contemplação passiva desses já pode ser considerado uma hipnose voluntária.
Ademais, o período de tempo em que esses “valores hollywoodianos” permanecerão na mente e no comportamento do indivíduo dependerá do quanto sua consciência interferirá nesse processo (já abordamos anteriormente como o córtex pré-frontal é “anestesiado” sob tais influências).
A avaliação do “certo e errado” das mensagens conscientes do filme ficará então muito prejudicada com a consciência “bloqueada”, “anestesiada” e não conseguindo avaliá-las na comparação com os padrões éticos e morais memorizados.
Além desses aspectos, as mensagens abaixo do limiar da consciência (subliminares) não estão disponíveis para avaliação e escolha do que seja certo ou errado.
Assim, quanto mais cada indivíduo ficar exposto a todas as influências comentadas neste artigo e a menos padrões éticos, mais os conceitos enviados pelos filmes dominarão sobre os padrões estabelecidos.
Implicação – Se comentasse com um amigo que você iria se dirigir a uma reunião com indivíduos com quem jamais se encontrou antes, em um salão, auditório fechado, escuro, com som alto que compromete seu equilíbrio corporal, contemplando fixamente um único ponto de luz que envolve toda sua visão, sem escape visual, por cerca de duas horas, com suas emoções em seu limiar, acolhendo mensagens, filosofias e roteiros cuidadosamente elaborados para gerar um estado de êxtase em você, o que esse amigo lhe diria a respeito disso?
Para reflexão: “Não porei coisa má diante dos meus olhos” (Salmo 101:2). “A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz” (Mateus 6:22). “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Provérbios 4:23). “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” (Filipenses 4:8).
(Cristiano James Kleinert, designer/programador visual)
Contribuições técnicas:
Prof. Dr. Hélio Pothin (professor de Fisiologia Humana na Universidade Federal de Santa Maria)
Prof. Dr. Eduardo Guillermo Castro (professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria)
Assista a este vídeo em que o pastor Erton Köhler, presidente da Igreja Adventista na América do Sul, fala sobre cinema.
Quero adicionar apenas mais dois simples argumentos [MB]:
1. Aparência do mal: para muitos irmãos adventista e evangélicos, cinema é local inapropriado para o cristão. Alguns nem sabem bem por quê. O fato é que ficam escandalizados de ver um adventista/cristão lá. Qual seria a postura do apóstolo Paulo, por exemplo, nesse caso? Ainda que ele não visse mal em ir ao cinema (coisa que duvido), ele não iria para não servir de pedra de tropeço. Ele evitou carnes sacrificadas aos ídolos justamente por causa da consciência mais fraca de alguns irmãos. Se nos preocupamos com a salvação dos outros, evitaremos tudo aquilo que pode atrapalhar a edificação da fé deles. Nossos prazeres e preferências não podem ser mais importantes que isso.
2. A igreja não recomenda a frequência ao cinema e creio sinceramente que Deus guia Seu povo, especialmente quando este, reunido e representado por sua liderança, toma decisões ou faz recomendações aos membros.