“A
cidade de Damasco vai ser suprimida do numero das cidades, será reduzida a ruínas
abandonada para sempre” (Isaías 17:1). Essa profecia foi feita há mais de dois
mil anos, mas isso jamais aconteceu. Como entender esse texto? – B.
Resposta:
A
profecia de Isaías 17:1 tem que ser entendida em seu contexto histórico. Ela
faz parte de uma série de oráculos dados desde Isaías 13:1 e direcionados
primeiramente contra Israel. A alusão às nações vizinhas (Babilônia, Síria,
Moabe, Etiópia e Tiro) é circunstancial. Israel se filiou a essas nações e o
profeta diz que elas não reterão seu poder para sempre. Na época (estamos
falando do 8º século a.C.), essas nações rivalizavam no poder,
digamos, “global” (note, global para a época e contexto do Oriente Médio, não
no sentido de “globalizado” que temos hoje). Eram como os EUA e URSS, na época
da Guerra Fria. Contra elas estavam o grupo do Egito, Assíria e os
Hititas (que, aliás, tiveram um sítio
encontrado recentemente no Egito). Pois bem, Israel juntou-se com a Síria
para atacar seus próprios irmãos da Judeia (estes, por sua vez, se ajuntariam
com a Assíria, mas isso é outra história). Então Isaías diz que aquelas nações
em redor não durariam para sempre e Damasco (o texto específico de 17:1) “deixaria
de ser cidade”. Veja, essa é uma expressão idiomática. “Deixar de ser cidade”, “deixar
de ser povo” não significa, no hebraico, uma “extinção literal”, mas perda de status político. Pode-se consultar
hebraístas que eles confirmarão isso.
Poderíamos
parar por aqui, apenas afirmando que, de fato, a antiga Damasco, que era uma
espécie de Washington DC para a política da época, hoje não é nada. Mas e o
resto do verso, que diz “será reduzida a ruínas”? Ali Isaías estava
profetizando o iminente ataque dos Assírios (que de fato aconteceu em 722 a.C.)
e não que a cidade nunca mais seria reconstruída. Veja que o texto não diz
isso! Ademais, algumas expressões de retórica aniquilacionista são
hiperbolicamente usadas também em outros documentos do Antigo Oriente Médio.
Por exemplo, a Estela de Merneptah, que está no Museu do Cairo, fala do Ataque
do Faraó a várias nações (entre elas Israel) e termina dizendo “tal cidade foi
devastava, sua semente não mais existe”, e todas as cidades ainda estavam de pé
quando a Estela foi levantada. Ela apenas falava assim para expressar a
vitória.
Mas
atenção! Não se trata de uma mentira. Não é que os egípcios (e a Bíblia) tenham
mentido ao dizer que a cidade foi arrasada quando, na verdade, ela ainda
continuava de pé. Qualquer cidadão que lesse os textos e visse a cidade
derrotada ainda existindo não pensaria que o texto era mentiroso. Ele
compreendia a hipérbole. Como hoje dizemos: “O time A acabou com o time B no
campeonato Paulista.” Ora, o verbo “acabar”, no dicionário, quer dizer “dar fim”,
“terminar”. Mas, na linguagem figurada, isso não significa que o outro time tenha
deixado de existir. Entender isso literalmente é não compreender o contexto em
que a linguagem foi dada.
(Dr. Rodrigo Silva)