[Estas
considerações sobre a prática do sexo no sábado representam o entendimento do
autor sobre o assunto e têm que ver especificamente com pessoas que guardam o
sábado como dia sagrado. Este material tem como objetivo testar os argumentos
utilizados a favor do sexo no sábado à luz da Bíblia e do Espírito de Profecia
e propor uma visão alternativa ao “pode”. O autor não encontrou praticamente
nenhum material contra a prática de sexo no sábado, apenas a favor. Apesar de a
Igreja Adventista do Sétimo Dia não ter um posicionamento oficial sobre essa
prática, só se encontram textos a favor. Vários desses materiais foram lidos pelo
autor deste artigo e seus argumentos analisados à luz da Bíblia, dos escritos de
Ellen White e da razão. Logo a seguir a este texto, há três defesas do “pode”.
Leia tudo e tire suas conclusões.]
Ellen
White escreveu o seguinte sobre o cuidado que devemos ter em relação ao que consideramos
certo ou errado quanto à santa lei de Deus e, em especial, quanto à guarda do
sábado: “A lei de Deus é o Seu grande padrão de justiça. Os homens podem, com
suas ideias finitas, criar um padrão próprio, e afirmar que eles são justos;
mas é o padrão de Deus que julgará cada homem naquele grande dia. Os reclamos
do sábado não devem ser considerados de forma a mostrar somente um respeito
parcial, para fingir guardá-lo, tornando-o inteiramente um assunto de
conveniência” (Manuscrito 34, 1897).
Deve-se
procurar o padrão de Deus na questão sobre o sexo no sábado e ajustar nosso
padrão ao padrão dEle. Boa parte das falas a favor do sexo no sábado são
sátiras, zombarias, escárnios apresentados como “argumentos”. Essa abordagem
debochada tenta impor uma superioridade de argumentos, sem ter nenhum
argumento. Outro grande grupo de “argumentos” a favor do “pode” são as falácias
do tipo argumentum ad hominem, quando
se procura negar uma proposição focando no autor e não no argumento. São frases
do tipo: “Se você tiver um pensamento equivocado sobre o sexo ou sobre a
sexualidade, então você será contra o ‘pode’.” “Se sua visão for de que o sexo
seja nojento, então você será contra o ‘pode’.” “Se sua visão for correta,
então você será a favor do ‘pode’.” “Se você for um pervertido sexual, o sexo
no sábado será pecaminoso para você.” “Se você for instruído e inteligente,
apoiará o ‘pode’, mas se você for um cristão imaturo, apoiará o ‘não pode’.” “Se
um homem defender o ‘não pode’, até mesmo sua masculinidade será questionada.” E
etc.
Frases
desse tipo servem para intimidar os que pensam diferente e pressioná-los a
aceitar o “pode” sem questionar, ou os levam a ficar em silêncio para não se
expor como “doentes”, “pervertidos”, “imaturos espirituais” ou outros termos
pejorativos similares. Isso acontece muito em encontros de casais. Relatos de
participantes demonstram que muitos permanecem em silêncio para não ser objeto
de piadinhas.
Outro
“argumento” muito utilizado é o argumentum
ex silentium, ou seja, por mais que o sentimento interior das pessoas
chegue à conclusão natural de que “não pode”, o fato de se não ter um texto
claro proibindo, então, garantiria a total liberação. Como existe um silêncio,
então “pode”. Porém, esse mesmo argumento do silêncio pode ser utilizado para o
“não pode”, pois também não existe nenhum texto dizendo que “pode”. Assim, esse
argumento se anula por si só.
Um
argumento básico para o “pode” é a visão judaica liberal sobre a questão. Os
judeus praticantes podem ser excessivamente cuidadosos com a guarda do sábado.
Deve-se lembrar que eles podem estar coando mosquitos e engolindo camelos, como
em muitos outros casos, parafraseando as palavras de Jesus em Mateus 23:24. Os
judeus ortodoxos são contra a prática sexual aos sábados. Em suma, a guarda do
sábado por um adventista não pode ter como referencial a observância judaica.
“Cristo,
durante Seu ministério terrestre, deu ênfase aos imperiosos reclamos do sábado;
em todo o Seu ensino Ele mostrou reverência pela instituição que Ele mesmo
dera. Em Seus dias, o sábado tinha-se tornado tão pervertido que sua observância
refletia o caráter de homens egoístas e arbitrários, antes que o caráter de
Deus” (Profetas e Reis, p. 183).
Será
que nos dias atuais o sábado tem sido pervertido e tem refletido o caráter
egoísta e arbitrário dos que dizem guardá-lo, assim como os judeus do tempo de
Jesus? Parece muito ingênuo supor que nos dias atuais haveria um total e
completo entendimento sobre a observância do sábado, ignorando-se as ações do
inimigo de tentar destruir essa bênção.
Alguns
imaginam que na sexta-feira da criação Adão e Eva não deixaram passar o sábado
para usufruírem a bênção da sexualidade. Esse argumento deve ser mais bem
analisado para que se possam tirar as devidas conclusões sobre o assunto.
Adão
e Eva foram criados no sexto dia da semana da criação. Assim que Deus os criou,
determinou sua alimentação (comida), disse que deveriam se multiplicar (sexo) e
cuidar do jardim (trabalho). O texto de Gênesis não afirma que essas atividades
não poderiam ser desenvolvidas no sábado. Não fala nem mesmo contra o trabalho
no sábado. Portanto seria absurdo tentar justificar a prática do sexo sabático
com base em um relato que sequer restringe o trabalho aos sábados. Deus havia
acabado de criá-los e dito que eles iriam trabalhar, e mesmo assim não temos o
relato de que eles não poderiam trabalhar aos sábados. Por que querer que Deus
deixasse por escrito a especificação quanto ao sexo? O texto de Gênesis não é
suficiente para se chegar a qualquer conclusão favorável ao sexo no sábado.
Adão
foi criado antes de Eva. Após conhecer o Jardim, a natureza, os animais, ele
percebeu que faltava alguém semelhante a ele, que o completasse emocional, física
e espiritualmente. No momento dessa confusão de sentimentos, Deus o coloca para
dormir e cria Eva. Ao acordar, Adão percebe que não mais está só. Alguém muito
especial está ao seu lado. Deus a apresenta a Adão.
Na
atualidade, se uma moça fosse apresentada a um rapaz, ele rapidamente iria
observar o corpo da jovem. Mas será que foi isso o que aconteceu com Adão e
Eva? Não se pode olhar com nossos olhos o que aconteceu com seres santos,
recém-criados. E se isso aconteceu, mesmo assim ainda era o sexto dia. Por que
razão eles deixariam escurecer para só depois se unirem sexualmente? Com
certeza, eles não teriam vergonha de fazer durante o dia algo “liberado” por
Deus. Por que esperariam para a noite?
Porém,
parece que havia tantas coisas a serem admiradas e tantas conversas a serem
desenvolvidas no sábado que o quadro de um Adão “correndo atrás” de Eva não
parece ser a melhor opção. O que você imagina diz mais sobre você do que sobre
o que realmente aconteceu com o primeiro casal no primeiro sábado.
Alguns
tentam se apropriar de uma versão católica do domingo ao aplicá-lo ao sábado
como o dia da família e, por tabela, o destaque fica para a sexualidade
matrimonial. Porém, a Bíblia diz claramente que o sábado é o dia do Senhor (Isaías
58:13; Marcos 2:28; Apocalipse 1:10). Por mais que a família seja importante,
ela não está no lugar de Deus, o verdadeiro Senhor do sábado. Mais uma vez deve-se
colocar o casamento no seu devido lugar, abaixo de Deus e de Sua lei.
Outro
argumento apresentado a favor do sexo no sábado é o de que quem não concorda
está apoiando uma espécie de ascetismo religioso (privação dos prazeres) com o
objetivo de alcançar determinado nível espiritual. Esse argumento é uma espécie
de falácia do espantalho, tentando criar algo absurdo, diferente do que é dito
para ter mais força argumentativa. Só que essa afirmação não é verdadeira. Quem
é que de fato está se privando de mais prazer? Quem faz sexo depois de uma
semana com intensas atividades, estresse, preocupações, cansaço e baixos níveis
de energia, ou quem faz sexo depois de um dia de descanso? Quem está se
privando de prazer? Obviamente o que faz na sexta-feira à noite não desfrutará
tanto quanto o que faz no sábado à noite.
Ellen
G. White apresenta alguns textos sobre prazeres que realmente devem dar lugar a
outros no sábado:
“Procurar
prazeres, jogar bola, nadar, não era uma necessidade, mas pecaminosa
negligência do dia sagrado santificado por Jeová” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 258). O sábado é um dia em que
devemos focar nas atividades que nos aproximam de Deus. Apenas as que
caracterizam uma necessidade podem ser justificadas, de acordo com Ellen White.
O sexo no sábado não é uma necessidade assim como o é a alimentação, o dormir à
noite, o tomar água ou o respirar. E também não é uma prática que aumentará a
espiritualidade ou a intimidade com Deus. As coisas proibidas para o santo
sábado não são pecaminosas em si mesmas. Trabalhar, estudar, nadar, correr, etc.
são atividades proibidas no sábado para darem lugar a atividades de
relacionamento íntimo com Deus. Simbolicamente, pode-se dizer que o “sexo” no
sábado tem que ser com Deus e não com o cônjuge.
“Estamos
em perigo de fazer a nossa própria vontade no dia de sábado” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 258). Estaria
Ellen White propagando o ascetismo? Claro que não. A questão é que no sábado
devemos esquecer nossa agenda e lidar apenas com a agenda de Deus. Por isso é
importante identificar a agenda de Deus para o sábado e se adequar a ela. O ser
humano tem seis dias para sua agenda. O sétimo dia é para a agenda de Deus.
O
Dr. Alberto Timm, no livro O Sábado na
Bíblia (CPB), página 116, apresenta uma lista de coisas prazerosas que não
são condizentes com a observância do sábado. Dentre elas, ele cita “frequência
aos shoppings e parques de diversão;
exposição a notícias, músicas e programas seculares da TV, rádio ou internet;
participação em esportes, jogos de mesa ou jogos eletrônicos; banhos públicos
em praias ou piscinas; conversas de cunho secular, etc.”. Será que o Dr. Timm
está pregando o ascetismo?
Dentre
as atividades recomendadas pela Bíblia para o sábado não aparece o sexo.
“A
verdadeira observância do sábado significa uma ruptura com a rotina da vida [...]
sintonizando-a com os valores espirituais e eternos” (ibidem, p. 119).
A
Bíblia afirma que, após a ressurreição, seremos como anjos, ou seja, no Céu a
sexualidade dará espaço para outras realidades. O sábado é um dia focado no Céu.
Hebreus 4 destaca o sábado como um tipo do Céu. Nessa linha de entendimento,
não há espaço para o sexo no sábado, assim como não haverá sexo no céu.
Ellen
White complementa, em Testemunhos para a
Igreja, volume 2, página 702: “Você precisa ter mais alta compreensão dos
reclamos de Deus com respeito ao Seu dia sagrado [precisamos elevar a visão do
sagrado em relação ao sábado, e não diminuí-lo com atividades boas, mas
destinadas aos outros dias]. Tudo o que possivelmente pode ser feito nos seis
dias que Deus lhe deu, deve ser feito [o sexo pode ser feito nos demais dias da
semana? Pode. Então não há necessidade de deixá-lo para o sábado]. Você não
deve roubar a Deus em uma única hora do tempo santo [nem uma hora]. Grandes
bênçãos são prometidas aos que colocam sobre o sábado um alto valor e
compreendem as obrigações que sobre eles repousam com respeito à sua
observância. ‘Se desviares o teu pé do sábado [de pisoteá-lo, desprezando-o],
de fazer a tua vontade no Meu santo dia, e se chamares ao sábado deleitoso e
santo dia do Senhor digno de honra, e se o honrares, não seguindo os teus
caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falar as tuas
próprias palavras, então, te deleitarás no Senhor, e te farei cavalgar sobre as
alturas da terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai; porque a boca
do Senhor o disse’ (Isaías 58:13, 14).” Comentários acrescentados dentro do
texto entre colchetes.
Ao
começar o sábado, devemos nos colocar em guarda, cuidar de nossos atos e
palavras para que não roubemos a Deus, apropriando-nos para nosso próprio uso
daquele tempo que pertence estritamente ao Senhor. Como se rouba a Deus
apropriando-se do que pertence estritamente a Ele? Por meio de atos e/ou
palavras para o nosso próprio uso, nosso próprio interesse. O sexo é do nosso
interesse? Sim. Então deixe para os demais dias da semana. Será que tem que ter
sexo todos os dias da semana, inclusive no sábado? Nem o sábado pode ser
poupado? Seis dias da semana é pouco para os interesses pessoais? Será que é
necessário roubar o tempo de Deus?
É
claro e evidente que a Bíblia não apresenta respostas para todas as questões
quanto ao que se deve ou não fazer aos sábados. Mas a Bíblia apresenta
princípios básicos que devem nortear as questões específicas. A Bíblia não
proíbe especificamente o fumar maconha. Mesmo que alguns utilizem argumentos
como “vantagens” para seu uso, o princípio que a Bíblia apresenta é o do
cuidado do corpo.
Isaías
58:13 e 14 apresenta alguns pontos relevantes que devem ser analisados: (1) não
cuidar dos seus próprios interesses; (2) não seguir seus próprios caminhos; (3)
não pretender fazer sua própria vontade; (4) não falar palavras vãs. O
resultado de se seguir essas recomendações será: “Então te deleitarás no Senhor.”
Quando toda a sua agenda for tirada do foco, então, e só então, você se deleitará
no sábado do Senhor.
“Nenhum
trabalho que vise prazer... é lícito nesse dia” (O Desejado de Todas as Nações, p. 138). Nenhuma atividade que tenha
o foco no prazer, como o sexo, por exemplo, é lícita para o sábado. Deus deu à
humanidade seis dias, e o sétimo é dEle. Depois mais seis dias, e o sétimo é de
Deus, e assim sucessivamente. O que faz algumas pessoas suporem que Deus não tenha
direito à exclusividade de pensamento e de atenção? O que faz algumas pessoas
acharem que possam tratar de aspectos mais pessoais em detrimento de uma
dedicação mais integral a Deus?
“Há
maior santidade no sábado do que lhe atribuem muitos que professam observá-lo.
O Senhor tem sido grandemente desonrado por parte dos que não têm observado o
sábado conforme o mandamento, quer na letra, quer no espírito. Ele sugere uma
reforma da observância do sábado” (Testemunhos
Seletos, v. 3, p. 20, 21). Muitos pontos relativos à observância do santo
sábado precisam ser reconsiderados e reformados para que se não venha a
utilizar esse dia para os próprios interesses. Alguns trabalham tanto durante a
semana que quase não têm tempo para dormir, e procuram “repor o atraso”
dormindo boa parte do sábado. Outros fazem algo parecido em relação ao sexo e à
família. Durante a semana, a família é praticamente desprezada e o sexo é relegado
a um plano último. Então, “já que o sábado é um dia perdido mesmo”, ele é
utilizado para “tirar o atraso sexual”. Claro que o discurso e as
justificativas serão os mais positivos e espirituais possíveis... Devemos dar
tempo de qualidade à família e ao cônjuge todos os dias.
O
Comentário Bíblico Adventista, volume
4, páginas 326 e 327, diz o seguinte sobre Isaías 58:13: “A essência do pecado
é o egoísmo: fazer o que se deseja, sem levar em consideração a Deus ou ao
próximo. O sábado dá ao ser humano a oportunidade de subjugar o egoísmo e
cultivar o hábito de fazer o que agrada a Deus (1Jo 3:22) e que contribui para
o bem-estar de outros.” O texto não está dizendo que atos egoístas podem ser
praticados nos demais dias da semana. Não está dizendo isso! O texto diz que no
sábado devemos viver uma vida de prazer altruísta, focada em nosso
relacionamento íntimo com Deus. Grande quantidade de atividades permitidas nos
demais dias da semana deve ser substituída no sábado por outras focadas em
nosso relacionamento íntimo com Deus. Esse relacionamento produzirá atos de
bondade e misericórdia para com o próximo. Desejos de satisfação própria deixam
de ser prioritários quando entronizamos o Senhor do sábado.
Quando
se lê o que Ellen White escreveu sobre o preparo para o sábado, é impossível
não notar que atividades muito mais simples do que o sexo sabático são ali
reprovadas. Como exemplo, veja o texto a seguir: “Na sexta-feira, deverá ficar
terminada a preparação para o sábado. Tenhamos o cuidado de pôr toda a roupa em
ordem e deixar cozido o que houver para cozer. Escovar os sapatos e tomar o
banho. É possível deixar tudo preparado, caso se tome isso como regra. O sábado
não deve ser empregado em consertar roupa, cozer o alimento, nem em
divertimentos ou quaisquer outras ocupações mundanas. Antes do pôr do sol,
coloquemos de parte todo trabalho secular, e façamos desaparecer os jornais profanos.
Os pais devem explicar aos filhos esse procedimento e induzi-los a ajudarem na
preparação, a fim de observar o sábado segundo o mandamento” (Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 355).
Lembrando
que ocupações mundanas não são proibidas em si, mas elas o são no sábado. São
atividades comuns que não nos aproximam de Deus, sendo reservadas para os
demais dias da semana.
“A
sexta-feira é o dia de preparação. O tempo pode ser então dedicado a fazer os
necessários preparativos para o sábado, a pensar e falar sobre isso. Coisa
alguma que possa, aos olhos do Céu, ser considerada transgressão do santo
sábado, deve ser deixada por dizer ou fazer no sábado. Deus requer, não somente
que nos abstenhamos do trabalho físico no sábado, mas que a mente seja disciplinada
de modo a pensar em temas santos. O quarto mandamento é transgredido mediante o
conversar-se sobre coisas mundanas, ou leves e frívolas. Falar sobre qualquer
coisa ou sobre tudo que nos vem à mente, é falar nossas próprias palavras. Todo
desvio do direito nos põe em servidão e condenação” (Testemunhos Seletos, v. 1, p. 290).
A
mente tem que ser disciplinada para pensar em temas santos no sábado. Será que
pensar em sexo é um tema adequado para o sábado? O sexo não é pecaminoso, assim
como várias outras atividades proibidas para o sábado também não são
pecaminosas em si. Atividades pecaminosas não podem ser praticadas em dia
nenhum, não só no sábado. Porém, várias atividades que não são pecaminosas não
devem ser praticadas no sábado.
Tanto
no Antigo quanto no Novo Testamento aparecem textos em que são retratadas a
abstenção sexual em determinados momentos de santificação. Esses textos não
falam especificamente sobre o sábado, mas demonstram que, sob certas condições
de santificação, era necessário se abster da prática sexual. O que será que isso
pode dizer à igreja da atualidade?
Êxodo
19:14 e 15: quando o povo estava se consagrando para receber a santa lei de
Deus, foi determinado que eles não se chegassem a mulher. Por alguma razão,
Deus solicitou uma prática de abstenção para consagração do povo antes de
receber os dez mandamentos. Alguns imaginam que o que é santo é santo de igual
forma e intensidade. Seria difícil essa pessoa explicar a diferença entre os
dois compartimentos do santuário, o santo e o santíssimo. Obviamente, existem
níveis de santidade. A lei de Deus era colocada no santíssimo, num lugar
distinto e mais especial do que as demais leis: dentro da arca da aliança. Não
existe nada mais santo do que a lei de Deus, pois representa o próprio Deus,
Seu caráter. O sexo é santo somente no casamento. E precisa seguir as normas
dos dez mandamentos para continuar sendo santo. Não adulterar, não desejar a
mulher do próximo, lembrar-se do dia do sábado são alguns exemplos de
mandamentos que norteiam o casamento e o sexo no casamento.
I
Samuel 21:4-6: apresenta outro caso em que a abstenção do contato com as
mulheres foi avaliado e determinante na questão. Mesmo que seja apenas um
aspecto cerimonial, ela pode encerrar um princípio moral relevante ainda em
nossos dias.
I
Coríntios 7:5: ao Paulo solicitar que não houvesse um tempo muito grande de
abstinência sexual para não cair em tentação, ele destaca um ponto interessante
que encontra eco nos textos anteriores e que contraria filosofias pagãs que acreditam
que o sexo aproxima os seres humanos da divindade. Por alguma razão o texto
apresenta um conflito de interesses entre a oração e a prática sexual. O texto
claramente destaca que a prática sexual não possui as mesmas propriedades
espirituais da oração que eleva a humanidade até Deus.
No
Antigo Testamento, aparecem muito frequentemente a prostituição cultual como
uma demonstração da crença pagã de que a prática sexual elevava a humanidade até
a divindade. E essa prática sexual era muitas vezes entronizada nos templos
pagãos. Alguns parecem acreditar que possuem uma espécie de “carne santa”, e
que tudo o que fazem está revestido de santidade. E que a prática sexual os
elevaria a Deus, devendo ser praticada no sábado.
“A
Religião do Falo ensina até hoje que, ao orar, o homem invoca Deus; mas, ao
unir-se sexualmente à sua mulher, se converte em Deus. O fogo do sexo é o fogo
da santidade; a origem do sexo tem a raiz na própria Divindade. O sexo está em
Deus, assim como o Filho está no Pai. O sexo e a santidade são duas linhas
paralelas que se encontram em Deus; mas os olhos do libertino e os do hipócrita
e fanático não podem ver esse encontro” (Do
Sexo à Divindade: As religiões e seus mistérios, de Jorge Adoum, p. 18).
“Devemos
esclarecer, de uma vez por todas, que, se os sacerdotes deram ao povo o culto
da adoração ao Sol e aos planetas, foi porque os homens começaram a perverter a
religião do sexo” (ibidem, p. 20).
“A
união carnal, para os adoradores do sexo, é obra luminosa. Toda união é motivo
de criação ou expressão. O mal não está no ato, e sim nos pensamentos que o
precedem e o acompanham” (ibidem, p. 19).
Esses
textos são uma amostra do pensamento pagão de que o sexo elevaria o ser humano
a Deus. Alguns adventistas têm argumentado de forma semelhante ao tentar
justificar a prática sexual sabática como uma ação que elevaria o ser humano a
Deus, e que essa prática estaria em total sintonia com o espírito sabático.
No
livro de Heschel, O Schabbat, é
destacado o sábado como o santuário/templo no tempo. Onde quer que estejamos
poderemos estar no templo do tempo, o santo sábado. É preocupante quando se
defende a prática sexual no templo do tempo, assemelhando-se, assim, de certa
forma, aos pagãos em seus pensamentos e práticas.
Conclusão
Sábado
não é o dia da família. Não é o dia das minhas vontades sexuais. Sábado é o dia
do Senhor. É dia de fazer a vontade de Deus. É o dia de se relacionar
intimamente com Ele. Claro que isso tudo irá refletir no relacionamento com o
próximo, mas não a ponto de ofuscar e/ou distorcer o relacionamento com Deus.
“George
Knight mencionou certa ocasião a existência de uma pergunta ‘anticristã’ e
outra ‘cristã’ em relação ao sábado. A pergunta anticristã é: ‘Posso fazer isso
no sábado e ainda ser salvo?’ e a pergunta cristã seria: ‘Qual é a melhor
maneira de observar o sábado?’” (O Sábado
na Bíblia, p. 112).
“O
sábado não deve ser passado em ociosidade, mas tanto em casa como na igreja,
cumpre-nos manifestar espírito de adoração. [...] Nesse dia todas as energias
da alma devem estar despertas; pois não temos que nos encontrar com Deus e com
Cristo, nosso Salvador?” (Testemunhos Seletos,
v. 3, p. 28).
O
fato de não existirem textos específicos sobre determinado detalhe não pode ser
um salvo conduto para se praticar todas as possibilidades. Quando se fala em
roupa decente, por exemplo, já se está apresentando o padrão a ser seguido, não
uma roupa específica. Na questão do sábado, de igual forma, temos claros
princípios bem firmados e estabelecidos por Deus, tanto revelados na Bíblia quanto
no Espírito de Profecia.
A
Bíblia e Ellen White falam pouco sobre a sexualidade, mas o suficiente para
entendermos os princípios que devem nortear nossos procedimentos práticos
diários.
À
lei e ao testemunho são os critérios válidos para testar se algo é de Deus ou
não. O casamento foi criado por Deus antes mesmo da existência do pecado e deve
ser resguardado dele. Pecado é a transgressão da lei. O casamento deve ser
norteado pela prática dos dez mandamentos. Por isso não se deve adulterar, pois
a lei diz: “Não adulterarás.” Não se deve desejar a mulher do próximo, pois a
lei determinada assim. Não se deve transgredir o santo sábado, pois a lei
também destaca a importância de se lembrar de santificar o sétimo dia.
(Vanderlei
Ricken é bibliotecário)
[Conheça
agora outra linha de argumentação, a favor do “pode”. O primeiro material vem
do livro Sexo: Respostas honestas a perguntas
sinceras, da Casa Publicadora Brasileira, escrito por Jorge Bruno e
Maurício Bruno. Veja o que consta no capítulo 5 dessa obra:]
Se
a relação sexual é do tipo concupiscente ou oposta à ordem natural estabelecida
por Deus, será ilícita não só no sábado, mas em qualquer outro dia da semana.
Quando se trata de uma relação legítima, fundada no amor como princípio
racional, nenhum membro da igreja vê problema em mantê-las nos dias comuns da
semana. Mas por que se questiona fazê-lo no dia do Senhor? Em relação a essa
dúvida, temos visto e ouvido muitas discussões que não ajudam a unidade da
igreja. Cremos que deve haver suficiente amplitude de mente e espaço
eclesiástico para o pensamento das posturas que defendem o “sim” e o “não”. Não
há motivo para dogmatizar em assuntos que são uma questão de consciência, sobre
os quais não há um claro “assim diz o Senhor”, nem sequer uma palavra explícita
no Espírito de Profecia.
Os
que defendem o “não” apresentam o argumento de Isaías 58:13 e 14: “Se desviares
o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no Meu santo
dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o
honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria
vontade, nem falando palavras vãs, então, te deleitarás no Senhor...” A ideia é que não se pode fazer a própria
vontade no dia de sábado, e fazer o ato sexual é, segundo eles, um ato
voluntário próprio. Os que defendem o “sim” respondem a esse argumento dizendo
que se o ato sexual se harmoniza com o plano de Deus para a sexualidade humana,
aquilo que se faz não se opõe à vontade de Deus nem à santidade do sábado,
muito ao contrário, exalta e a magnificas.
No
sábado, eu decido ir à igreja, e esse é um ato de minha vontade, muito legítimo
por certo, mas ninguém o questiona porque está em harmonia com a vontade de
Deus. É a vontade divina que torno minha. Assim também acontece com a
sexualidade, já que é legítima quando se harmoniza com essa vontade criadora
que a inventou. Deus designou que fosse posta em ação a partir daquela primeira
sexta-feira da criação, quando disse: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a
Terra” (Gênesis 1:28). Isso não dá permissão à mera complacência carnal,
naturalmente – como todas as coisas – desviada do ideal divino. É curioso que a
ordem fora dada na sexta-feira, antes do pôr do sol, e que a oportunidade de
concretizá-la pela primeira vez estava precisamente naquele glorioso primeiro
sábado da criação, que Adão e Eva passaram juntos, inaugurando sua
“lua-de-mel”. Daquilo que foi feito e dito na sexta-feira, Deus declarou que
era “muito bom” (Gênesis 1:31), superlativo que inclui indubitavelmente a
sexualidade para colocar em ação o maravilhoso fenômeno da procriação.
Outra
coisa: a Palavra de Deus apresenta um pormenor significativo para nós hoje.
Quando Adão e Eva foram apresentados um ao outro, diz-se-nos que “estavam nus e
não se envergonhavam” (Gênesis 2:25). Essa expressão descreve para nós a
transparência e intimidade física que faz com que os esposos possam estar despidos
e desejar-se um ao outro. Isso facilita iniciar o jogo amoroso que os levará ao
êxtase supremo do prazer planejado e ordenado pelo Criador. Quando se faz
aquilo que foi planejado por Deus, nada pode torná-lo profano ou sujo, como
tampouco fazê-lo violar o santo dia do Senhor, porque o santo não pode
invalidar o santo.
Nossa
opinião é que não há sabedoria em posições extremistas para o “sim” ou para o
“não”. Referimo-nos aos que creem que é um grande pecado fazê-lo no sábado e
aos que creem que não deve haver limite algum sobre o assunto. Não se deve
impor nenhuma postura pela força de uma posição de liderança eclesiástica.
Cremos que deve haver respeito mútuo entre os que defendem uma ou outra
posição, e que finalmente cada um deve decidir. Em assuntos de consciência,
cada qual deve ser deixado livre. Quando o casal não está de acordo,
entretanto, já que um defende o “sim” e o outro o “não”, a decisão que
aconselhamos é a favor do não. Dessa forma, aquele que crê ser errado fazer
sexo não violará sua consciência moral, pecando consequentemente.
Por
fim, nossa posição é que não há nada que possa tornar ilícito ou imoral o ato
sexual no dia do sábado. Isto é, desde que seja um ato legítimo que não
interfira com o dar a primazia a Deus e às atividades sagradas do sábado
planejadas pela igreja. Também pensamos que, embora seja legítimo fazê-lo no
sábado, não se deveria planejá-lo sistematicamente para esse dia, como tampouco
para nenhum dia específico da semana, dando assim lugar à espontaneidade.
É
errado fazer sexo no sábado?
Respondemos
que não há nada sujo ou errado no sexo praticado como Deus manda [e não como o
homem bem entende] e que, portanto, não violamos o dia do Senhor amando-nos
sexualmente. Essa pergunta se encaixa no contexto da ideia de que o sexo tem em
si mesmo algo mau e que por isso é incompatível com o dia santo.
Lamentavelmente,
ainda existe na grande comunidade cristã o preconceito milenar de que o sexo
teve algo a ver com o pecado original do casal edênico. Portanto, crê-se que é
um “mal necessário” para procriar, mas que fora isso, praticá-lo por puro
prazer é promover as “concupiscências da carne” e desejar o pecado. Tal postura
é totalmente antibíblica, já que antes da queda o casal edênico recebeu a ordem
de povoar a Terra, obviamente, amando-se sexualmente. Além disso, o pecado
original está relacionado com a desobediência produzida pelo espírito de
independência da vontade de Deus. Não há outro pecado original, e menos ainda
que tenha alguma relação com o sexo. O que está claro na Bíblia, sim, é que o
pecado degradou o sexo e o submergiu no lodaçal das paixões impuras e
descontroladas. Mas, quando ele é praticado segundo o plano de Deus, é uma
atividade que une e fortalece o amor. Também provê intenso prazer e produz a
maravilha de um novo ser feito à imagem de Deus e à imagem de seus
progenitores.
No
livro de Provérbios, a relação sexual não tem limitações de tempo, pois está
escrito: “Saciem-te os seus seios em todo o tempo; e embriaga-te sempre com as
suas carícias” (5:19). Obviamente, em todo o tempo e sempre incluem os sete
dias da semana. A propósito, recomendamos que leia e estude com oração todo o
capítulo 5 de Provérbios. Esse capítulo contém as duas faces da paixão, a
impura que leva ao adultério e a pura que conduz ao gozo delicioso do amor
físico planejado por Deus.
Existe
na Bíblia, entretanto, uma declaração específica que proíbe fazer sexo durante
o período menstrual da mulher. Levítico 20:18 diz: “Se um homem se deitar com
mulher no tempo da enfermidade dela e lhe descobrir a nudez, descobrindo a sua
fonte, e ela descobrir a fonte do seu sangue, ambos serão eliminados do meio do
seu povo.” (Ver também Levítico 18:19.) Vários séculos depois, o profeta
Ezequiel registrou as palavras de Deus que relacionam o “homem justo” com
aquele que não se chega “à mulher na sua menstruação” (Ezequiel 18:5 e 6). Hoje
podemos compreender que, por razões higiênicas e estéticas, a penetração deve
ser descartada durante as regras da mulher.
[Leia agora este artigo de um professor de Teologia da Universidade Andrews. Clique aqui.]
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[Finalmente,
assista ao vídeo produzido pelo apresentado do programa “Na Mira da Verdade”,
Leandro Quadros:]