quinta-feira, dezembro 14, 2006

As testemunhas de Jeová e a transfusão de sangue

Por que as testemunhas de Jeová não permitem a transfussão de sangue. Em que textos bíblicos elas se baseiam? - K.

A doutrina de que Deus veda e abomina uma medida eficacíssima de salvar vidas humanas, a transfusão de sangue humano, é relativamente nova na sistemática jeovista. Russell jamais pensou nela. Rutherford, idem. Mas logo após a morte do “juiz”, ocorrida em janeiro de 1942, já nos corredores da sede da Sociedade Torre de Vigia se cochichava alguma coisa a respeito da transfusão de sangue. Era ainda uma coisa vaga, que só três anos mais tarde assumiria definitivamente foros de doutrina a ser finalmente incorporada pela organização.

Sob a direção de Nathan Knorr, os “doutores da lei” do neorusselismo, a princípio timidamente, começaram a propalar a grande "descoberta": a transfusão de sangue é proibida pela Bíblia. E sem levar em conta o fato indisputável de que a Bíblia nem toca neste assunto, totalmente desconhecido nos tempos bíblicos, a revista The Watchtower (A Torre de Vigia), em sua edição (em inglês) de 1° de julho de 1945, pela primeira vez anunciou, num artigo intitulado “A santidade do sangue”, que “a transfusão do sangue humano constitui violação do concerto de Jeová, ainda que esteja em jogo a vida do paciente”.

O pensamento jeovista sobre este assunto baseia-se unicamente numa interpretação errônea, livre, extra-contextual e inteiramente descabida das regras do sacerdócio levítico pertinentes ao sangue sacrifical dos animais. Citam livremente os versículos, sempre isolados do contexto, sempre separados do assunto a que se prendem.

Os textos mais usados são os seguintes:

Gênesis 9:4 – “Carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis.” Quem disse aos jeovistas que isso se refere à transfusão de sangue? Após o Dilúvio, não havendo ainda vegetação suficiente para alimento, Deus diz a Noé que, naquela contingência, podia usar alimentação cárnea, porém com o cuidado de tirar-lhe previamente o sangue. Não há aí nenhuma alusão, nem remota, ao sangue humano, e muito menos se refere a transfusões. O assunto é carne de animais. O assunto é alimentação por via oral. É comer, digerir, alimentar-se.

Levítico 3:17 – “Estatuto perpétuo será durante as vossas gerações, em todas as vossas moradas: gordura nenhuma nem sangue jamais comereis.” Primeiramente o adjetivo “perpétuo”, empregado no hebraico, é holam, e significa duração enquanto durar o fato a que se junta. As festas judaicas, luas-novas, páscoa, o sacerdócio arônico, etc., também eram “estatuto perpétuo”, mas não se celebram mais. Em segundo lugar, a proibição, no texto em tela, também se aplica ao consumo de gordura animal, e os jeovistas ainda não resolveram inventar um dogma sobre isso, para serem coerentes. Em terceiro lugar, o texto acima se refere a ofertas queimadas, e a parte dela que devia ser comida, com exceção da gordura e também do sangue. Essas razões serão explicadas mais adiante, mas o assunto ainda é alimentação via oral, e pertinente à carne, gordura e sangue de animais. Nada de humano. Nada de transfusão. Leia os versículos anteriores, com isenção de ânimo, e você terá o sentido exato. Para que distorcer?

Levítico 7:27 – “Toda Pessoa que comer algum sangue, será eliminada de seu povo.” Por que as testemunhas não apresentam o contexto? O versículo anterior dá claramente que é sangue de animais: “Não comereis sangue em qualquer das vossas habitações, quer de aves, quer de gado.” Não há a menor referência a sangue humano, e obrigar a significar transfusão é afirmar que minha avó é bonde elétrico! O assunto é alimentação por via bucal, refere-se a comer e digerir, e não a sangue transfundido.

Levítico 17:10, 11 e 14 – “Qualquer homem da casa de Israel, ou dos estrangeiros que peregrinam entre eles, que comer algum sangue, contra ele Me voltarei e o eliminarei do seu povo.” “Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas: porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida.” “Porquanto a vida de toda carne é o seu sangue; por isso tenho dito aos filhos de Israel: Não comereis o sangue de nenhuma carne, porque a vida de toda a carne é o seu sangue; qualquer que o comer será eliminado.” As testemunhas costumam disparar estes três versículos juntos, e com muita ênfase, para tentar provar a tese contra a transfusão sangüínea, mas com deliberada má fé, porque omitem o contexto. Porque pulam exatamente o versículo 13 que esclarece: “Qualquer homem que caçar animal ou ave que se come, derramará o seu sangue, e o cobrirá com pó.” Aí está o sentido correto. É simplesmente o que a Bíblia diz. A Bíblia em lugar algum se refere a comer sangue humano, e isso porque não havia canibalismo entre os israelitas. A lei de Deus tem um mandamento “Não matarás”, no qual incorre inclusive quem permite que outros morram quando pode salvar-lhes a vida, como no caso da transfusão de sangue. Deus abominava e abomina a antropofagia. “Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu.” Gên. 9:6. Aqui se refere ao homicídio e não às transfusões. Deus proíbe sacrificar pessoas a Moloque (Lev. 20:1-5). Portanto, todos os sacrifícios abonados por Jeová eram de animais, e o sangue desses animais não devia ser ingerido como alimento.

Levítico 19:26 – “Não comereis coisa alguma com sangue.” A ordem é não comer carne com sangue. Carne de animal. Não há referência a transfusões.

Atos 15:20, 29; 21:25 – São três versículos do Novo Testamento, idênticos na enunciação “que se abstenham (...) da carne de animais sufocados e do sangue.” “Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados (...).” “Quanto aos gentios que creram (...) que se abstenham das coisas sacrificadas aos ídolos, do sangue, da carne das animais sufocados (...).” Será que Tiago, na primeiro verso, estava aconselhando os cristãos a que se abstivessem de comer sangue humano? Se foi assim, então havia canibalismo ou antropofagia na igreja primitiva. A referência, nos três versos, é à carne animal, comida como alimento. Sempre evitar de ingerir o sangue.

Por aí se verifica que tudo resulta de falsa interpretação de textos que se relacionam com carne de animais. É verdade que Deus proíbe comer o sangue, bem como a gordura dos animais. Que razão havia para isso? Vamos dar a palavra a um cientista de renome e cristão, o Prof. Flamínio Fávero. Diz ele:

“1. Fundamentalmente [não se deve comer sangue] para inspirar ao homem o respeito pelo sangue. É prescrição, assim, de caráter moral. Pelo sangue se respeita a vida, de que o mesmo é símbolo e até sede... Quando se toma um animal morto violentamente, escorrendo sangue, tem-se a impressão de que a vida ainda lateja naquela carne quente, e que essa vida se extingue justamente quando se for a última gata de sangue. O corpo humano tem grande porção de sangue, cerca de 1/13 do seu peso, ou seja, cinco litros para um peso de 65 quilos. Quando aberto um vaso, há hemorragia, e a morte sobrevém desde que a metade desse líquido se perca. Pelo mecanismo chamado dessangramento processa-se uma anemia aguda, de graves conseqüências, que apenas uma injeção de outro sangue, de tipo adequado, pela transfusão, pode combater.

“O sangue é a vida... E é pela circulação desse líquido que se realizam todas as trocas vitalizadoras nos lugares mais distantes e escondidos da economia orgânica. Bem cabe ao sangue, pois, a sinonímia que a Bíblia lhe empresta, de vida. (...) Enquanto tiverem [os animais] sangue têm resquícios de vida. E a vida não nos pertence, não é nossa...

“2. Em paralelo com essa prescrição de caráter eminentemente moral, que apela para o respeito ao sangue, está outra de aspecto higiênico. (...) A quebra de preceito de higiene pode redundar em males gerais e individuais e, neste último caso, quando são capazes de atingir-nos, lembramo-nos de evitá-los. (...) O sangue não deve servir de alimento, porque é bastante indigesto, pelas albuminas bem resistentes dos seus glóbulos vermelhos e, ainda, pelo teor elevado de pigmento ferruginoso que os mesmos contêm. É desse pigmento, a hemoglobina, que deriva a cor vermelha especia1 que caracteriza o sangue dos mamíferos. E conforme a sua pobreza no mesmo, fala-se em maior ou menor grau de anemia, necessitando ser tratada por medicamentos contendo ferro ou que facilitem a sua fixação adequada.

“Como se não bastasse ser indigesto, o sangue se corrompe facilmente, putrefazendo-se. Basta sair dos vasos que o contém, para coagular-se, dividindo-se em uma parte sólida – o coalho – e outra líquida – o soro. E então, não tendo mais vida, os germes putrefativos invadem, transformando-o inteiramente, dando-lhe aspecto e cheiro repelentes. Compreende-se logo o que vai de perigoso no uso de alimento corrompido, cheio de toxinas venenosas, que causam grave dano à saúde e até a morte. Daí a sabedoria da Bíblia, mandando derramá-lo na terra, que o absorve. (...)” – Extraído do artigo “Não comereis o sangue de qualquer carne”, Fé e Vida, março de 1939, págs. 16 e 17 (itálicos acrescentados).

Falou a ciência autorizada. Uma coisa é alimentar-se, por via oral, do sangue de animais, que não deve passar pela química digestiva, tal o perigo que oferece à vida; e outra muito diferente é renovar a corrente circulatória, com o mesmo elemento que a compõe, depois da classificação técnica do tipo sangüíneo, repondo o sangue perdido, evitando a morte do paciente.

Quando ocorre uma transfusão, não se trata de comer sangue humano, nem de alimento, mas de reabastecimento circulatório, uma dádiva feita num espírito de misericórdia e caridade. As estatísticas da Cruz Vermelha, por exemplo, atestam que milhões e milhões de vidas preciosas foram salvas pela transfusão. Ao passo que, por outro lado, quantas vidas são ceifadas por falta de uma transfusão.

A Bíblia diz: “Não matarás.” Negar por vontade própria a transfusão salvadora, é matar, é transgredir a lei de Deus! E disse Jesus: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor de seus amigos.” João 15:13. E a vida é o sangue porque o sangue é a vida!

Quem quer que leia os Evangelhos, com espírito contrito, sem pensar nas extravagantes interpretações das “testemunhas de Jeová”, ficará impressionado com a atitude de Cristo em face do sofrimento alheio. Compadecia-Se dos doentes, curava-os, confortava-os onde os encontrasse. E nós, como servos Seus, como Suas testemunhas, devemos ter o mesmo espírito para com os doentes. Lemos em I João 3:16 que “devemos dar a vida pelos irmãos”.

As “testemunhas de Jeová” não mantêm nenhum hospital, nenhuma instituição de assistência social. Dizem que a missão deles é restaurar o nome de Jeová e não fazer caridade. Que a melhor caridade é fazer prosélitos. Mas quando está em jogo a vida humana, se depender de uma transfusão de sangue, não a aceitam nem a dão, e... que morra o paciente! Para eles a lei “Não matarás” foi abolida!

(Extraído do livro Radiografia do Jeovismo, de Arnaldo Christianini – CPB)

quinta-feira, novembro 09, 2006

Adventismo e Reforma

Sou leitor assíduo do seu blog. Admiro-o muito pela sua visão espiritual e também científica. O seu testemunho e pensamentos deixados no blog nos levam a saber da sua denominação adventista. Tenho grande curiosidade sobre a visão dos adventistas em contraste com as outras denominações vindas do primeiro passo da Reforma protestante. O que eu estava esperando era justamente encontrar um adventista assim como você, que tem uma vida fortemente pública. Não poupe sua visão! Peço de coração. Isso é algo que me traz muitas perguntas e você, como bom estudioso, poderá me ajudar. Não me tenha como crítico, pois não sou. Quero somente entender sobre o adventismo, por haver até alguns mitos envolvendo o assunto. Mas sei muito bem que somos irmãos em Cristo. - A.

Prezado irmão A.:

Muito obrigado pelas palavras de apreço e por prestigiar meu blog que, graças a Deus, tem sido uma verdadeira ferramente evangelística, motivo principal pelo qual foi criado e é mantido.

Quanto à sua curiosidade, ela é legítima. Não nasci adventista. Fui católico de berço e descobri o adventismo quando tinha 17 para 18 anos. Tomei minha decisão baseado em muito estudo da Bíblia, já que era católico praticante e muito preconceituoso em relação aos "crentes" (você pode ler mais sobre a minha conversão no e-book "Deus Nos Uniu"). Cheguei a fazer um estágio num seminário católico em SC, com vistas a tomar a decisão pelo sacerdócio. Então imagine as lutas pelas quais passei, quando decidi tornar-me crente adventista.

Bem, como adventistas, entendemos que o surgimento de nossa igreja, no século 19 (leia mais sobre isso no e-book "Adventismo no Brasil", se deveu também ao forte espírito da Reforma, que se fundamenta no "sola scriptura". Foi estudando as profecias bíblicas, tendo como única regra de interpretação a própria Bíblia, que nossos pioneiros redescobriram verdades que haviam sido sepultadas sob o pó do tempo e das tradições religiosas principalmente herdadas do catolicismo. Verdades como a volta de Jesus, um novo estilo saudável de vida, a mortalidade da alma, o santuário celestial e a vigência dos dez mandamentos, incluindo aí o sábado, passaram a ser vividas e defendidas pelos adventistas, a despeito da incompreensão de muitos.

Digo que podemos traçar uma linha histórica direta com a Refoma pelo fato de mantermos verdades basilares como a justificação pela fé, salvação pela graça e o batismo por imersão, por exemplo. Se você analisar bem, os adventistas sustentam as principais e mais importantes doutrinas mantidas pelas igrejas evangélicas tradicionais. O que nos diferencia, portanto, é o "algo a mais" que temos, como o sábado, por exemplo.

Um abraço fraterno.

(Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia)

quarta-feira, novembro 08, 2006

A guarda do sábado na região do sol da meia-noite

Sou adventista há 17 anos e uma pessoa me perguntou certa vez se eu guardo o sabado de pôr do sol de um dia ao pôr do sol do outro dia. "Então, como os cristãos adventistas que moram nas extremidades do nosso planeta guardam o sábado?" foi a pergunta seguinte. Isso porque tem época do ano em que o Sol fica meses sem se pôr. Valeu pela atenção. - C.

As informações a seguir foram extraídas da apostila “Estudos em Ciência e Religião”, do Professor Orlando Ritter:

No hemisfério norte, acima do círculo polar, vivem criaturas interessadas na guarda dos limites do sábado, conforme o mandamento bíblico. Como procedem nos “longos dias” em que o Sol não se põe ou nas “longas noites” durante as quais ele não aparece nem ao meio-dia?

O processo é simples. Nos períodos em que a claridade dura mais de 24 horas, podendo durar inclusive muitos dias, o Sol circunda o horizonte sem esconder-se. Apenas ao meio-dia está à máxima distância do horizonte e à meia-noite se encontra à menor distância do horizonte (mergulho).

Nos dias anteriores ao “dia longo”, o Sol se esconde cada vez mais tarde, para aparecer cada vez mais cedo (por exemplo, o ocaso às 23 horas e nascimento à uma hora da manhã), até que num determinado dia o seu ocaso e ao mesmo tempo o seu nascimento ocorrem às 24 horas (meia-noite) para não haver mais pôr do sol no dia seguinte.

O último pôr do sol observado foi à meia-noite e por isso os limites do sábado vão desde a meia-noite de sexta-feira até a meia-noite de sábado, tempo que é guardado como sétimo dia da semana. A posição da meia-noite pode ser determinada pelo “mergulho” do Sol e por relógios.

Durante o inverno, quando há uma noite que dura vários dias, o último pôr do sol visível foi ao meio-dia, após o qual o Sol não nasceu mais (antes desse dia, o pôr do sol ocorria cada dia mais cedo até que num dia teve lugar às 12 horas).

Nessa época os limites do sábado estão compreendidos entre meio-dia de sexta-feira e meio-dia de sábado, visto o último pôr do sol ter ocorrido ao meio-dia. Verifica-se então que o início e o fim do dia, sob o ponto de vista religioso, pode ser marcado mesmo na região do Sol da meia-noite e da noite ao meio-dia.

terça-feira, novembro 07, 2006

Invenção da escrita

A revista Época publicou tempos atrás matéria que afirma que a invenção da escrita ocorreu há 6 mil anos, na Mesopotâmia. Acompanhava o texto um quadro com a informação "5.200 anos" e "Ascensão da civilização egípcia e construção das pirâmides", e paralelamente o autor da matéria coloca eventos bíblicos da Criação e do Dilúvio como contraditórios em relação aos outros eventos citados. Minha pergunta é: Seria mesmo verdade que há 6 mil anos a escrita foi inventada na Mesopotâmia, bem como o segundo evento? - R

Prezado R., creio que os comentários abaixo, extraídos de um livro sobre arqueologia bíblica que a Casa Publicadora Brasileira está preparando, devem esclarecer a questão. O autor, Dr. Rodrigo Silva, autorizou a publicação desses comentários e ressaltou que as referências bibliográficas constarão do livro:

"Alguns estudiosos estabelecem a origem da escrita para algo em torno de 3100 a.C. Outros para não mais que 2.500 a.C. Mas no passado essa data era muito mais antiga. A cronologia do dilúvio correlata às primeiras civilizações pré-diluvianas é algo extenso que não tenho como responder por aqui. Mas quanto às datas, verifique este trecho do livro que acabei de escrever e que a Casa vai lançar no ano que vem (2007):

"Mudanças de paradigma nas datações convencionais - À luz do que já ocorreu várias vezes na história da ciência cronologista, não deveremos nos surpreender se algumas datas hoje convencionalmente divulgadas sofrerem alteração. Várias datações da história antiga já foram revistas e encurtadas por respeitados especialistas da área.

"Petrie e Wooley, pioneiros da egiptologia, datavam a primeira dinastia Egípia em 5.000 anos antes de Cristo. Hoje o cômputo mais aceito é o de 3100 a.C. e há quem sugira uma datação ainda mais recente. As dinastias egípcias, diga-se de passagem, são o marco para a cronologia do segundo milênio a.C. (inclusive a mesopotâmica) e, pelo que veremos mais à frente, elas ainda são tema de constantes debates acadêmicos.

"Num não muito distante simpósio sobre cronologia e história realizado na Europa, foi declarado que até mesmo o Museu Britânico manteve durante décadas uma série de tabletes cuneiformes datados em torno de 4.500 anos antes de Cristo, cujo consenso atual não os atribui a mais que 2500 a.C. Já antes disso, o falecido Dr. Libby, pioneiro do método do C14, declarou em 1956: 'Eu e o Dr. Arnold ficamos chocados quando nossos conselheiros de pesquisa nos informaram que a história se estendia a apenas 5.000 anos. Nós lemos livros e encontramos declarações de que tal e tal sociedade ou sítio arqueológico data, por exemplo, de 20.000 anos. Mas aprendemos, abruptamente, que esses números, isto é, aquelas antigas datas, não são certeza absoluta, elas se baseiam no período [convencional] da primeira dinastia do Egito que á a mais antiga data histórica que se tem uma certeza estabelecida.

"Datações anteriores ao surgimento da escrita - A despeito da importância que os ossos, ferramentas, ornamentos e cerâmicas tenham para o estudo arqueológico, é importante mencionar que, em termos de datação antiga (i.e. anterior à invenção da escrita), sua contribuição é inconclusiva e está sujeita a novas interpretações. Há, por exemplo, um grande debate em aberto sobre a data da destruição de Jericó, pois sua principal evidência vem das cerâmicas encontradas no local que são interpretadas de maneira diferente, de acordo com o especialista que as analisa.

"Se quisermos evitar erros sistêmicos talvez devêssemos nos manter mais confiantemente dentro daquela cronologia que parte da invenção da escrita para o presente. Afinal, documentos escritos são fontes mais seguras que oferecem, por exemplo, o testemunho de um eclipse ou de um terremoto que com os atuais instrumentos de estudo da astronomia ou da sismografia podem ser identificados com absoluta precisão. Isso nos levaria para algo em torno de 2500 a.C., que é quando começa a história registrada por escrito.

"Contudo, mesmo alguns historiadores não bíblicos, como John G. Read, ainda se mostram cautelosos ao afirmar que 'as datas bem autenticadas [em relação à cronologia egípcia] só nos permitem recuar para 1.600 anos a.C.' A razão para este comentário está em que as datas egípcias com maior ou menor grau de precisão só podem ser traçadas com certa margem de segurança até à discutível dinastia de Ramsés (1320 a.C.), que levou pelo menos nove reis a adotarem esse nome.

"As datas a partir desse período são estabelecidas com base em listas de reis sumerianos, cronologia grega e outras fontes correlatas. Porém, para períodos que antecedem essa época, aumenta-se consideravelmente o grau de incerteza. Os egípcios datavam os fatos pelo reinado de seus faraós. Por exemplo: 'isso ocorreu no terceiro ano do reinado de Ahmosis'. Mas hoje é sabido que houve co-regências, de modo que o quinto ano de um rei poderia ser também o seu primeiro ano, pois os quatro anteriores foram em companhia de seu pai que não havia de modo algum abdicado do trono.

"Ademais, não temos precisamente o número de reis que governaram em todos os períodos do Egito. Por razões políticas ou religiosas, os escribas muitas vezes compilavam as dinastias com uma precisão exata, noutras não. Algumas dessas listas sobreviveram até nosso tempo e entre elas podemos citar a Pedra de Palermo, que está em Turim, e a Tábua de Karnak, que atualmente encontra-se no Museu do Louvre. Contudo, nenhuma dessas listas está preservada o bastante para solucionar todos os detalhes a ponto de oferecer uma cronologia absolutamente precisa. Talvez achados futuros poderão nos ajudar, mas, por enquanto, são estes os elementos que a história disponibiliza."

terça-feira, outubro 03, 2006

Reencarnação na Bíblia?

Gostaria de obter alguns esclarecimentos a respeito de duas passagens bíblicas que podem causar interpretações duvidosas. São elas: Jó 1:21 – Sei que um verso bíblico não é suficiente para se estabelecer uma doutrina, mas confesso que esta passagem me deixou intrigado. Li em determinado livro que este verso defende a reencarnação. A expressão de Jó “nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá”, parece indicar que o patriarca admitia a reencarnação. Como este texto é tratado em outras versões e por que o verso foi traduzido dessa forma? O que Jó quis realmente afirmar com esta declaração? João 9:2 – Este versículo envolve o mesmo problema abordado acima. Os discípulos de Cristo criam em alguma forma de reencarnação? A pergunta que fizeram ao Mestre “Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” parece indicar que sim. Como o cego poderia pecar antes de seu nascimento? Agradeceria obter uma resposta esclarecedora. Obrigado pela atenção! – A.

Prezado A., realmente é importante tornar claras todas as passagens bíblicas que apresentem aparentes contradições, deixando que a própria Bíblia, com textos mais claros, esclareça aqueles textos tidos como mais difíceis.

Talvez seja útil, antes de comentar diretamente os versículos a que você se refere, revermos o que as Escrituras ensinam a respeito da morte. As considerações a seguir foram extraídas de meu livreto Esperança para Você, impresso pela Casa Publicadora Brasileira:

“A morte é uma realidade sobre a qual se evita pensar. Tenta-se adiá-la o máximo possível através da ciência médica, mas o que se tem conseguido são poucos anos de vida a mais. Por ser ‘invencível’, a morte desperta muitas dúvidas: O que acontece com os que morrem? Aonde vão? Por que tem gente dizendo por aí que os espíritos dos mortos andam soltos? Isso é verdade?

“Platão, o filósofo grego, ensinava que a ‘alma reside no corpo, como numa prisão de que se vê livre na morte’. Alguns crêem que o homem tem uma alma que lhe sai por ocasião da morte, indo para o Céu ou para o inferno. Outros ensinam que a alma vai ao purgatório expiar suas faltas. Outros ainda dizem que há ‘evolução do espírito’. Portanto, a maior parte das pessoas acreditam que o homem tem dentro de si uma alma e um espírito que, desencarnados, vão para algum lugar. Mas, afinal, qual é a verdade? Para entender o que ocorre com o homem na morte, é preciso que se entenda o que é o homem. Qual a natureza humana.

“Quando Deus criou Adão, utilizou-Se de dois elementos: o pó da terra e o fôlego de vida. E, conforme relata Gênesis (capítulo 2, verso 7) o homem ‘tornou-se alma vivente’. Não diz ali que o homem recebeu uma alma, mas sim que o homem tornou-se uma alma.

“Assim como a lâmpada não tem luz por si só, mas produz luz quando está em conexão com a energia elétrica, e ao mesmo tempo a energia elétrica sozinha não ilumina a menos que esteja conectada com a lâmpada, o pó da terra, sozinho, não tem consciência. É simplesmente pó. O fôlego, ou sopro de vida, igualmente, não subsiste por si só. É simplesmente fôlego. A consciência e a vida são, portanto, o resultado da harmoniosa relação entre o corpo e o sopro ou fôlego de vida que Deus concedeu ao homem.

“A morte, portanto, é o oposto da vida. Veja o que diz o livro de Eclesiastes, no capítulo 12, verso 7: ‘E o pó volte para a terra como era, e o espírito [fôlego] volte a Deus que o deu’ – Almeida.

“Resumindo: Pó da terra + fôlego de vida = alma vivente. Tira-se um dos elementos e a alma vivente deixa de existir.

É a alma imortal? – Antes de Adão e Eva se desviarem da estrita obediência a Deus, Ele lhes havia feito a seguinte advertência: ‘No dia em que você a comer [da árvore da ciência do bem e do mal], certamente morrerá’ (Gênesis 2:17). Mas Satanás introduziu uma mentira que dura até hoje. Disse ele: ‘Vocês não morrerão coisa nenhuma!’ (Gênesis 3:4).

“Antes de mais nada, é preciso que se entenda que a palavra alma, em hebraico, é nephesh. E essa palavra significa apenas ser vivente. Há um texto bíblico, escrito pelo profeta Ezequiel, que deixa mais clara ainda esta questão sobre a alma ser ou não imortal: ‘...a alma que pecar, esta morrerá’ (Ezequiel 18:4 – Almeida). Existe algum ser humano que não peca? Logo, todos são mortais.

“’A alma não possui existência consciente à parte do corpo, e em parte alguma a Escritura indica que por ocasião da morte a alma sobrevive como entidade consciente. Efetivamente, ‘a alma que pecar, essa morrerá’. Eze. 18:20’ (Nisto Cremos, pág. 458).

“Paulo encerra o assunto quando diz que só Deus é imortal (I Timóteo 6:15 e 16). Paulo mesmo não cria que ao morrer iria imediatamente ao Céu. Ele também esperava ressuscitar somente na segunda vinda de Cristo (ver Filipenses 3:11 e II Timóteo 4:8). E disse mais: ‘E quando isso que é mortal se revestir de imortalidade...’ (I Coríntios 15:54). Você compreende? Se a alma já é imortal, qual a necessidade de se revestir de imortalidade? Somente crendo em Cristo, que é o Caminho, a Verdade e a Vida, o ser humano terá a vida eterna.

Comunicação com os mortos – Alguém pode perguntar: ‘Se a alma não é imortal e, quando morremos, aguardamos pela ressurreição na vinda de Cristo, então é impossível haver comunicação com os mortos?’ Exato. É o que diz a Palavra de Deus: ‘Os vivos sabem que vão morrer, mas os mortos não sabem nada. Eles não vão receber mais nada e estão completamente esquecidos. Os seus amores, os seus ódios, as suas paixões, tudo isso morreu com eles. Nunca mais tomarão parte naquilo que acontece neste mundo’, pois, na sepultura, ‘não se faz nada, e ali não existe pensamento, conhecimento nem sabedoria’ (Eclesiastes 9:5, 6 e 10; Salmo 146:4).

“Por isso, se você quer dizer algo, entregar uma flor ou fazer o bem a alguém, faça-o agora, pois ‘no seol [sepultura], para onde tu vais, não há obra, nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma’ (Eclesiastes 9:10).

Morte = Sono – Quando Lázaro morreu, Jesus disse para Seus discípulos que iria despertá-lo do sono. Eles acharam aquilo estranho, pois não entenderam o que Cristo dissera. Foi somente quando viram o morto (que já estava em estado de decomposição) sair da tumba, vivo, que entenderam aquelas palavras do Mestre (ver João 11:11-15). E é interessante notar, também, que, ao sair do sepulcro, Lázaro nada disse sobre alguma ‘experiência’ após a morte. Ele simplesmente acordou.

“Agora pense bem: se Lázaro estivesse no Céu (lugar para onde iriam os mortos, imediatamente após a morte, como crêem alguns), não seria uma grande injustiça da parte de Jesus chamá-lo de volta a esta triste vida, sujeito às doenças e, novamente, à morte? Não, Jesus não faria isso com Lázaro, nem com ninguém. Lázaro estava dormindo, inconsciente, como ficam todos os que morrem.

“Mas se os que morrem ficam inconscientes, não podem participar deste mundo e só voltarão à vida quando Cristo retornar, quem são os que aparecem por aí, dizendo ser espíritos desencarnados? De uma coisa jamais podemos nos esquecer: Satanás é um inimigo astuto e laborioso. Ele pode ‘se transformar e parecer um anjo de luz!’ (II Coríntios 11:14). Essas supostas ‘almas dos mortos’ são, na verdade, ‘espíritos de demônios, que fazem milagres’ (Apocalipse 16:14). A Bíblia, inclusive, reage contra a consulta aos mortos, condenando essa prática. Basta ler passagens como Deuteronômio 18:10-14; Isaías 8:19 e I Timóteo 4:1, para confirmar.

“O ser humano pode ter a vida eterna unicamente através de Cristo que é o ‘Caminho, a Verdade e a Vida’. Uma vez ‘dormindo’, só poderá ressuscitar ao chamado de Jesus, em Sua segunda vinda, assim como os que estiverem vivos, por ocasião desse acontecimento, serão transformados (ver I Coríntios 15:51 e 52) e juntos com os que estavam mortos – não antes, nem depois – subirão para se encontrarem com Deus (ver I Tessalonicenses 4:13-17).

“Você percebe a astúcia do inimigo? Ele quer fazer com que os seres humanos creiam que a imortalidade lhes é um dom inerente. Assim, ninguém precisa se preparar para a vinda de Cristo. O que Satanás prega é que todos são imortais. De um jeito ou de outro, a vida continuará. É a velha mentira: ‘Vocês não morrerão!’

“Lembre-se do que disse Jesus: ‘Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em Mim, ainda que morra, viverá’ (João 11:25). Satanás não quer que as pessoas creiam em Jesus. Por isso inventa todo tipo de falsas ideologias que, no fundo, servem para afastar-nos de Cristo e eliminar nossa dependência dEle.

E a reencarnação? – A Bíblia é bem clara quando diz que ‘cada pessoa tem de morrer uma vez só e depois ser julgada por Deus’ (Hebreus 9:27). É verdade que muitos dos que crêem na reencarnação se dizem cristãos (e há muitos sinceros entre eles). Mas o verdadeiro cristão é aquele que aceita a Cristo como Salvador. Alguns dizem que, através de reencarnações sucessivas, cada pessoa pode ‘pagar’ pelas culpas da vida anterior. É uma espécie de auto-redenção. Para essas pessoas, o que fez Cristo na cruz? Para que teria Ele morrido pelos pecados de quem é capaz de salvar a si mesmo? Cristianismo e reencarnação, por mais que se deseje, são inconciliáveis.

“O caminho para a vida eterna é único: examine as Escrituras, pois elas testificam de Cristo, que é a vida eterna (João 5:39). E Ele diz: ‘Pois a vontade do Meu Pai é que todos os que vêem o Filho e crêem nEle tenham a vida eterna; e no último dia Eu os ressuscitarei’ (João 6:39). No último dia deste mundo, Cristo ressuscitará aqueles que aceitaram Seu convite para uma relação de amizade e companheirismo, e desenvolveram uma fé genuína. Por isso, para aqueles que ‘morrem no Senhor’ (Apocalipse 14:13), o fim é apenas o começo; o começo de uma nova vida que terá início na segunda vinda de Cristo.”

Bem, creio que agora, conhecendo o que a Bíblia ensina a respeito do estado do ser humano na morte, podemos analisar as passagens que você mencionou. Com relação ao texto de Jó 1:21, note o que diz o Comentário Bíblico Adventista, vol. 3, pág. 501 (em espanhol): “Isto não se deve tomar de forma literal. É verso e não prosa. É tão-somente uma maneira poética de dizer que o homem deixa este mundo tão nu e indefeso como quando veio a ele. Aqui Jó não fala em linguagem específica da teologia, da metafísica ou da fisiologia.” E o próprio livro de Jó nos dá essa certeza, ao dizer que “tal como a nuvem que se desfaz e passa, aquele que desce à sepultura jamais tornará a subir. Nunca mais tornará à sua casa, nem o lugar onde habita o conhecerá jamais” (7:9 e 10); “o homem, porém, morre e fica prostrado; expira o homem e onde está? Como as águas do lago se evaporam, e o rio se esgota e seca, assim o homem se deita e não se levanta; enquanto existirem os céus, não acordará, nem será despertado do seu sono” (14:10-12).

Lembremos que II Pedro 3:7 afirma que “os céus que agora existem e a terra, pela mesma palavra, têm sido entesourados para fogo, estando reservados para o Dia do Juízo e destruição dos homens ímpios”. Quando estes céus passarem, por ocasião da volta de Cristo, os fiéis ressuscitarão.

A suprema esperança de Jó está expressa nas palavras: “Eu sei que meu Redentor vive e por fim Se levantará sobre a terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus. Vê-Lo-ei por mim mesmo, os meus olhos O verão” (19:25-27). Aqui não há nenhuma indicação de um “espírito ou alma imaterial”, mas sim da ressurreição da carne.

O outro texto – João 9:2 – se refere à cura do cego de nascença. Ao vê-lo, os discípulos perguntaram quem havia pecado, ele ou seus pais, para ter nascido cego. Quando se conhece a cultura e as crenças da época dos apóstolos, tudo fica mais claro. De acordo com o Talmude, “não há morte sem pecado, e não há sofrimento sem iniqüidade” (Shabbath, 55a); e “um enfermo não sara de sua enfermidade até que não lhe tenham sido perdoados todos os seus pecados” (Nedarim 41a). Os judeus acreditavam que cada pecado acarretava seu castigo peculiar e criam que era possível determinar – pelo menos em certos casos – a culpa de um homem pela natureza de seus sofrimentos.

Se o homem mencionado em João 9 estava cego como resultado de seus próprios pecados, então devia haver pecado antes de nascer, já que sua cegueira era de nascença. Há uns poucos indícios na literatura rabínica que mostram que os judeus consideravam que ao menos havia a possibilidade de que uma criança pecasse antes de nascer. Por exemplo, o Midrash Rabbah, comentando Gênesis 25:22, sustenta que Esaú cometeu pecado tanto antes de nascer como no momento de nascer. A opinião predominante entre os judeus era de que uma criança podia ser culpada de má conduta antes de seu nascimento!

Sem dúvida, os discípulos haviam ouvido os sutis argumentos dos rabinos com relação a esta difícil questão, e estavam ansiosos por ouvir o que Jesus tinha a dizer a respeito do assunto.

“Seus pais.” Esta parte da pergunta dos discípulos tinha pelo menos certa base bíblica, pois a lei declara que o Senhor castiga “a maldade dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta geração” dos que aborrecem a Deus (Êxo. 20:5). Freqüentemente, os filhos sofrem as conseqüências das iniqüidades de seus pais, porém não são castigados pelas culpas deles (veja Eze. 18:1 e 2).

Alguns rabinos ensinavam que a epilepsia, a mudez e a surdez, por exemplo, eram o resultado da transgressão das mais triviais regras tradicionais (ver Talmude Pesahim 112b; Gittin 70a; Nedarim 20a, 20b).

Haviam recebido de Satanás sua filosofia com respeito ao sofrimento, pois o “autor do pecado e de todos os seus resultados havia induzido os homens a considerar a enfermidade e a morte como procedentes de Deus, como um castigo arbitrariamente infligido por causa do pecado” (O Desejado de Todas as Nações, pág. 436). Não haviam entendido a lição do livro de Jó que mostra que “o sofrimento é infligido por Satanás, mas que Deus predomina sobre ele com propósitos de misericórdia” (Ibidem).

Ao Jesus responder que nem os pais do cego nem ele mesmo haviam pecado, foi totalmente de encontro ao conceito popular mantido pelos judeus de então.

(Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia)

Religião mutante

Por que há cristãos que muitas vezes mudam sua interpretação religiosa para caber na ciência. – R.

Isso é imprudência e uma tentativa de evitar debates. É o que fez o papa João Paulo II, no fim de outubro do ano de 1996. A revista Veja, por exemplo, trouxe à página 47, de sua edição de 30 de outubro daquele ano, o seguinte subtítulo: “O Papa surpreende ao dizer que a teoria da evolução é mais do que uma simples hipótese.” E o artigo de Laurentino Gomes continua: “A Igreja [Católica] há muito tempo admite que alguns textos bíblicos são narrativas alegóricas, que não devem ser tomadas ao pé da letra. É o caso do livro Gênese...” Bem, isso não é nenhuma novidade, mas a seguinte declaração do Papa, é: “As novas descobertas levam à constatação de que a teoria da evolução é mais do que uma hipótese... Se o corpo humano tem sua origem em matéria pré-existente, a alma foi criada diretamente por Deus” (aqui João Paulo II repete uma frase da encíclica “Humani Generis”, do papa Pio XII).

Ao fazer isso, o papa criou, na verdade, muito mais problemas teológicos (leia o texto “Mistura impossível”, no blog www.michelsonborges.com). Não é preciso adaptar a teologia para se encaixar nos postulados científicos. Muitas vezes na História, o que aconteceu foi o contrário: a ciência teve que, por força dos fatos, admitir que a Bíblia se antecipara a ela.

(Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia)

sexta-feira, maio 12, 2006

Um Deus que condena?

Que sentido haveria em criar para condenar? Que sentido haveria em deixar-Se morrer para salvar o que vai ser condenado por Ele próprio? Que sentido há em Se fazer carne se Ele podia vir e dizer “sou Deus, e para provar vou apagar o Sol dois dias”, e toda a humanidade vê-Lo ao mesmo tempo, já que Ele é onipresente? Para que Deus estabeleceu uma lei? Nada disso tem o menor sentido. – G.

A Bíblia diz, em Romanos, que “o salário do pecado é a morte”. Se pensarmos bem, é a própria lei da causa e efeito. Por exemplo: destruir o “templo do Espírito Santo”, que é o nosso corpo, é pecado. E leva à morte. Você é livre para, por exemplo, fumar. Mas as probabilidades indicam que você terá câncer de pulmão, edema pulmonar, ou algo parecido. É a lei da causa e efeito. Viver em desobediência aos mandamentos de Deus, cedo ou tarde acarreta a morte. Comparo a lei de Deus ao manual de um automóvel. Se seu carro é movido a álcool (e não tem motor flex), você tem toda a liberdade de colocar gasolina nele. Mas terá que arcar com as conseqüências disso. Deus deixou instruções que nos podem livrar de sérios problemas e nos garantir uma vida de paz e felicidade (tanto quanto isso é possível neste mundo de pecado). A lei, na verdade, é um “muro de proteção” para o ser humano. Os quatro primeiros mandamentos dizem respeito à nossa relação com Deus. Os outros seis regem as relações humanas.

Agora note: o salário do pecado é a morte. I João diz que “pecado é transgressão da lei”. Logo, transgredir a lei, cedo ou tarde, leva à morte.

Em última instância, não é Deus quem mata. A Lei de Deus é a base de Seu governo cósmico, e deve reger os seres morais por Ele criados; assim como as leis da Física (as que conhecemos e as que ignoramos) regem o mundo físico. Tomemos a lei da gravidade como exemplo. Você a conhece. Sabe o que ocorre se desobedecê-la, e mesmo assim se atira de um prédio de 20 andares. De quem será a culpa por essa desobediência à lei? Entendo que Deus jamais destruiria ou permitiria que alguém fosse destruído sem ter pleno conhecimento de que está indo contra as leis da vida. Assim, a morte na verdade ocorre pela não-aceitação das regras da vida. E como foi Deus quem criou essas regras (para o nosso bem), acaba sendo responsabilizado injustamente pela “colheita” de algo que as pessoas semeiam.

(Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia)

Origem das raças e dinossauros

Tenho algumas dúvidas que gostaria fossem esclarecidas: (1) Se só havia um casal quando o mundo foi criado, para haver procriação quer dizer que irmãos tiveram que casar entre si? (2) Qual a origem das raças humanas? (3) Os dinossauros realmente existiram? O que os levou à extinção? – A.

1. Em primeiro lugar é preciso levar em conta a longevidade e a perfeição genética das pessoas que viveram antes do Dilúvio. Adão, por exemplo, viveu mais de 900 anos. Outro detalhe importante é que Gênesis menciona que Adão e Eva tiveram “filhos e filhas”, além de Caim, Abel e Sete (cf. Gn 5:4). E depois que teve Sete, Adão teve outros filhos e filhas ao longo de 800 anos – imagine quantos filhos se pode ter nesse período! Agora uma coisa podemos supor: é bem provável que os primeiros filhos e filhas tiveram que se casar para perpetuar a espécie. Mas é interessante notar que a proibição de casamento entre irmãos (o que era normal entre os nobres de culturas antigas, como a dos egípcios), feita por Deus, só ocorreu depois do pecado. Por quê? Porque depois do pecado a raça humana e a vida em geral, neste planeta, começou a se degenerar em todos os sentidos, inclusive geneticamente falando. Devemos lembrar que, segundo a Bíblia, Adão, Eva e seus descendentes imediatos eram geneticamente perfeitos, pois foram criados “à imagem e semelhança de Deus”. Logo, o casamento entre irmãos geneticamente perfeitos não levaria a problemas genéticos como os que podem ocorrer nos casamentos entre irmãos atualmente. Prevendo a crescente degeneração genética, Deus então proibiu o casamento consanguíneo, pois filhos de um mesmo casal provavelmente teriam os mesmos defeitos genéticos e poderiam prejudicar os filhos, ao esses defeitos se somarem.

2. Com relação à existência das diversas etnias (ou raças), esse é um assunto interessante e exigiria quase um livro para poder explicar em detalhes. Mas vamos tentar. Como disse antes, o código genético de nossos primeiros pais era perfeito e capaz de grandes adaptações para sobreviver; não fosse isso, talvez nem estivéssemos mais aqui hoje, devido às grandes alterações climáticas e ecológicas ocorridas no mundo após o Dilúvio (se houver dúvidas sobre o Dilúvio, recomendo a leitura dos livros A História da Vida, Por Que Creio e Origens, da Casa Publicadora Brasileira, além das publicações da Sociedade Criacionista Brasileira [www.scb.org.br]). O criacionismo aceita as modificações dentro das espécies (microevolução). Um bom exemplo são os cães: há vários tipos de cães, mas todos são da mesma espécie. Com o ser humano ocorreu algo parecido: adaptações ao meio ambiente. Hoje existem as "raças" branca, negra e amarela, por exemplo, todas originadas dos primeiros seres humanos, que já continham em seu código genético a informação necessária para essas modificações/variação. Aliás, qual era a cor de Adão e Eva? Não eram nem brancos, nem negros, conforme se pode concluir das evidências bíblicas. A palavra “adão” vem da mesma raiz hebraica da palavra edom, que significa “vermelho”, o que faz muito sentido, uma vez que Deus fez Adão da terra. Além disso, a palavra “homem” deriva do latim humus, que também tem relação com o solo. Portanto, de acordo com as Escrituras, os nossos primeiros pais tinham coloração avermelhada. Os grupos étnicos atuais são apenas modificações/variações dos humanos originais. (Leia também "A origem das línguas e das etnias")

3. A existência dos dinossauros realmente intriga muitas pessoas. Primeiro porque é difícil imaginar que Deus tenha criado um animal como o Tiranossauro rex. De fato, é inconcebível a ideia de Deus ter criado certos animais violentos, como alguns dos dinossauros. Mas também sabemos que Deus não criou animais como o tubarão e o Rottweiller, por exemplo, que podem ser extremamente ferozes. Também não criou algumas das raças de gatos que têm problemas respiratórios, nem tampouco o cachorro Basset (linguicinha), que tem sérios problemas de coluna. O que houve com os cães e gatos, então? O homem, por meio de isolamento genético, originou outras modalidades de cães e gatos. No entanto, apesar de bonitinhos, não foram aperfeiçoados, mas “danificados”. O mesmo pode ter ocorrido com os dinossauros. A maioria deles era herbívora. Algum tipo de variação genética (natural ou causada) deve ter ocorrido para dar origem a algumas espécies mais violentas. Como eram uma ameaça aos seres humanos, cremos que o Dilúvio (e os eventos que se sucederam a ele) os levou à extinção. E uma das evidências disso são os inúmeros fósseis de dinossauros espalhados pelo mundo (a fossilização em massa só pode ser explicada de maneira catastrófica). (Leia mais sobre dinossauros aqui.)

(Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia)

Salvação só em Jesus?

Se Jesus é o único Salvador, quer dizer que as pessoas que morrem sem conhecê-Lo estão perdidas? Como Deus julgará a esses? – P.

Sobre a questão da salvação, a Bíblia diz que “a quem muito foi dado, muito será cobrado” e que “quem sem lei pecou, sem lei será julgado”. Portanto, creio que cada um será julgado pelo nível de conhecimento que possui a respeito da verdade. Deus não é irrazoável, e Sua justiça excede em muito a dos mortais.

Creio, sim, que Jesus é o único Salvador, porque é o único que proveu efetivamente um meio de salvação para a humanidade (Ele é Deus que Se fez homem para morrer pelo ser humano). Mas há um texto muito interessante no livro de Zacarias que sugere que haverá pessoas salvas que não saberão exatamente por que estão ali, já que perguntarão a respeito das cicatrizes de Jesus: “Que feridas são essas nas Suas mãos?” (Zac. 13:6). Pense também nas crianças que morreram sem conhecer a Jesus, ou nos índios isolados na Amazônia... Jesus morreu por toda a humanidade. Aqueles que viverem à luz do que sabem ser o correto (aí entra em cena a moral implantada por Deus no coração de todos), terão acesso à vida eterna. Agora, conhecer a Cristo e rejeitá-Lo ou mesmo rejeitar a possibilidade de conhecê-Lo, nos coloca em terreno perigoso.

(Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia)

Os dias da Criação

Deus somente criou o Sol e a Lua no quarto dia da Criação? Se sim, como podia haver o cômputo dos dias antes, então? – V.

Prezada V., o relato de Gênesis 1 afirma que em cada um dos três primeiros dias da semana da Criação “houve tarde e manhã” (versos 5, 8 e 13), e que o Sol, a Lua e as estrelas só apareceram no quarto dia (versos 14-19). Mas não existe um consenso geral entre os comentaristas bíblicos a respeito de quando esses astros foram realmente criados. Alguns chegam a crer que todos os astros, além da Terra, vieram à existência apenas no quarto dia da Criação. Outros assumem que nesse dia foi criado apenas o sistema solar. Ainda um terceiro grupo sugere que o sistema solar já havia sido criado no primeiro dia, como fonte de “luz” para o mundo (versos 3-5), ou até mesmo junto com o próprio Universo, num “princípio” remoto (verso 1). Para esse grupo, no quarto dia da Criação Deus teria apenas alterado as condições atmosféricas para que a luz dos astros pudesse iluminar adequadamente a Terra.

Gleason L. Archer argumenta em sua Enciclopédia de Dificuldades Bíblicas (pág. 66): “Gênesis 1:14-19 revela que na quarta fase criadora Deus abriu o manto de nuvens o suficiente para que a luz direta do Sol caísse sobre a terra e para que tivesse lugar a observação correta dos movimentos do Sol, da Lua e das estrelas. Não se deve entender que o versículo 16 mostra a criação dos corpos celestes pela primeira vez no quarto dia criador; antes, ele nos informa que o Sol, a Lua e as estrelas, criados no primeiro dia como fonte de luz, tinham sido colocados em seus lugares designados por Deus com a idéia de no final das contas funcionarem como indicadores de tempo (‘sinais, estações, dias, anos’) para os observadores terrestres.”

Seja como for, Gênesis 1 nos informa que no primeiro dia da Criação Deus não apenas formou a “luz” (verso 1), mas também “fez separação entre a luz e as trevas” (verso 4). Embora os três primeiros dias da Criação já fossem dias naturais de 24 horas, compostos de “tarde e manhã” (versos 5, 8 e 13), no quarto dia Deus trouxe à existência uma nítida “separação entre o dia e a noite” e uma nova realidade que permitisse aos seres humanos distinguir as diferentes “estações” e contar os “anos” (verso 14). Deus mesmo não necessitava desses recursos para computar o tempo, mas Ele os criou para benefício dos seres humanos, dos animais e das plantas. Cremos, portanto, que as atividades criadoras do quarto dia não conspiram contra o fato de Deus haver previamente realizado Suas atividades em dias literais de 24 horas.

(Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia)

Um Criador que interage com as criaturas

Embora eu creia em um Deus, discordo que a Bíblia seja a Palavra de Deus e que ela deva ser seguida como se contivesse toda a verdade. Nem ao menos estou certo de que Deus tenha um plano específico para Sua criação ou que Se comunique conosco. – D.

Pense por um momento: que sentido haveria em um Ser todo-poderoso criar seres inteligentes e deixá-los num canto obscuro do Universo, num dos braços em espiral de uma galáxia de tamanho médio, sem Se comunicar ou estabelecer interação com eles? Por que um Criador traria à existência seres pensantes para depois ignorá-los? E, se fomos realmente criados por um Ser inteligente, não devemos buscar conhecê-Lo e, no mínimo, ser-Lhe gratos por existirmos?

É aí que entram em cena a Bíblia e Jesus, as supremas revelações de Deus. Ambos revelam facetas importantes do Criador, o suficiente para termos um vislumbre dEle com nossa mente finita. A Bíblia, como tudo que tem a participação humana, também tem lá suas limitações. Uma delas é a natural limitação da linguagem humana. Como expressar nessa forma realidades praticamente insondáveis para o ser humano? Essa foi uma das dificuldades com que tiveram de lidar os profetas e demais escritores bíblicos. Imagine-se tendo que explicar física quântica para um garoto de 5 anos. Deus lidou com “problema” semelhante ao Se revelar ao ser humano. A Bíblia é, portanto, a Palavra de Deus em linguagem humana. Mas era necessário mais do que isso para que pudéssemos conhecer a Deus. Por isso, Ele Se tornou carne em Jesus, o Deus-Homem. Caminhou com o ser humano. Abraçou, curou e confortou seres humanos. E disse que “quem Me vê a Mim, vê ao Pai”, e “o Pai e Eu somos um”. Ou seja, se havia dúvidas quanto ao caráter do Criador e Suas motivações e intenções quanto ao ser humano, elas foram dissipadas por meio da vida de Jesus, o Emanuel, “Deus conosco”.

Considero lógico que o Criador, como bom Pai, quisesse Se comunicar com Seus seres criados inteligentes. E considero lógico que Ele Se utilizasse de um meio perene como um livro (aliás, milagrosamente preservado até hoje, a despeito de tantas perseguições) e Se fizesse um de nós para Se relacionar mais intimamente conosco e afirmar Seu interesse por nós (isso sem mencionar que essa atitude também cumpria um importante requisito do plano da redenção). O próprio Jesus disse que as Escrituras constituem a Palavra de Deus. E se Ele disse, eu acredito. E prefiro acreditar nEle, com todas as credenciais que Ele tem, do que na palavra de homens falhos, seguidores de meras filosofias humanas.

(Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia)

Moral e bons costumes

O que é “moral e bons costumes”, esse chavão tantas vezes utilizado. De onde isso teria vindo, de acordo com o evolucionismo e o criacionismo? – U.

Bem, talvez pudesse dizer que, num contexto puramente humanista, “moral” sejam os padrões de conduta que as sociedades ditas civilizadas desenvolvem para poder viver com um mínimo de civilidade. Mas como sou cristão, creio que moral é algo mais profundo, que diz respeito não apenas ao comportamento exterior, mas a pensamentos, emoções e motivações. Acredito que a fonte da moral é Deus e que, pelo contato com Ele (oração e leitura da Bíblia), essa moral nos é implantada no coração. “Bons costumes” derivam dessa moral divina. O Dez Mandamentos bíblicos seriam a expressão máxima desse código moral divino, cuja base é o amor.

É claro que não se chega a essas idéias meramente pela racionalidade. Mas quem disse que a razão humana é o único meio de se obter conhecimento? Quando tentamos abarcar todo o conhecimento com os recursos humanos, não estamos sendo um pouco arrogantes? Sou adepto do método científico e defendo suas premissas, no que diz respeito àquilo que a ciência pode alcançar. Mas sou contra a extrapolação desse método para o sobrenatural, área que não compete à ciência experimental. Acho que a complementaridade dessas duas facetas da realidade – o imanente e o transcendente – é que nos ajudam na busca da verdade. Conforme disse Einstein: “A ciência sem a religião é manca; a religião sem a ciência é cega.”

Em seu interessante livro A Presença Ignorada de Deus, o fundador da Logoterapia, Viktor Frankl, afirma que “a consciência como um fato psicológico imanente já nos remete, por si mesma, à transcendência; somente pode ser compreendida a partir da transcendência, somente como ela própria, de alguma forma, constituindo um fenômeno transcendente. Da mesma maneira que o umbigo pode ser compreendido a partir da pré-história, ou melhor, da história pré-natal do homem, como sendo um ‘resto’ no homem que o transcende e o leva à sua procedência do organismo materno, no qual estava contido, exatamente desta mesma forma a consciência só pode ser entendida em seu sentido pleno quando a concebermos à luz de uma origem transcendente. ... O homem irreligioso, portanto, é aquele que ignora esta transcendência da consciência. Com efeito, também o homem irreligioso ‘tem’ consciência, assim como responsabilidade; apenas ele não questiona além, não pergunta pelo que é responsável, nem de onde provém sua consciência” (págs. 41 e 42).

(Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia)

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Dúvidas de um ateu

Gostaria de fazer algumas perguntas e quero que, por favor, você me esclareça, pois ninguém melhor que um cristão para responder tais indagações. Primeiro quero deixar bem claro que eu não tenho religião, não sou adorador do demônio, nem espírita e nem católico, não acredito nem em Deus e nem no diabo. Primeira pergunta: Há tantas religiões que falam de Deus, algumas até que rivalizam com outras, até mesmo com violência. Qual delas me levaria ao Paraíso? Segunda pergunta: Por que sua Bíblia não fala dos dinossauros? Terceira pergunta: Sua Bíblia fala que no juízo final o nome que não estiver escrito no livro da vida será lançado no lago de fogo, e o seu nome somente é escrito no mesmo após o batismo. Pois bem, suponhamos um índio, que mesmo antes do nascimento de Jesus estava vivendo sua vida em paz no mais profundo da floresta amazônica. Ele foi um bom índio, nunca roubou e nem matou. Ele envelhece e morre sem nunca ter ouvido falar em Jesus, mas segundo a lei do seu Deus ele deve sofrer o tormento eterno. Pergunto: Isso é um ato de um Deus justo? – M.

Prezado M., suas perguntas são muito pertinentes e é bom ver que você busca respostas, já que há tantos que, embora se digam sem religião ou ateus, não se dispõem a conhecer o “outro lado da moeda” a fim de decidir o melhor paradigma para sua vida. Vamos às suas perguntas:

1. Que religião nos levará ao Paraíso? Num primeiro momento, eu diria que nenhuma. Explico: Jesus afirmou que Ele é o “caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim” (João 14:6); “Quem crê em Mim tem a vida eterna” (João 6:47); e “a vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (João 17:3). Portanto, o único meio de salvação, segundo a Bíblia, é Jesus Cristo. Isso porque, sendo Deus Se fez homem (eis outro assunto digno de profundo estudo) e levou sobre Si nossos pecados, assumindo a conseqüência da má escolha da humanidade (Adão e Eva) – a morte, ou separação de Deus. É claro que ainda morremos, mas graças a Jesus temos a garantia da vida eterna em Sua segunda vinda, e isso não depende necessariamente de estarmos vinculados a essa ou àquela igreja. A igreja foi estabelecida por Deus como uma espécie de “hospital”, para ajudar a curar feridas e sustentar os cansados. Na igreja nossa fé é fortalecida pelo contato com Deus e com os irmãos. Se a vida eterna consiste em conhecer a Deus, a igreja deve prover esse conhecimento também.

A palavra “religião” (religio) também significa “religar”, ou seja, religar a humanidade caída a Deus, ajudando a manter a relação Criador/criatura. Entendo, portanto, que ter uma religião (a bíblica) é um privilégio que nos é concedido por Deus, já que ela (a religião bíblica) nos ajuda a manter essa relação com a única fonte e caminho da salvação, Jesus Cristo. “Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam o pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes [à igreja] o Senhor, os que iam sendo salvos” (Atos 2:47).

2. Na verdade, é possível que a Bíblia faça menção, sim, aos dinossauros. Note o que o livro de Jó, capítulo 40, versos 15 a 23, diz: “Contempla agora o beemote, que Eu criei como a ti, que come a erva como o boi. Eis que a sua força está nos seus lombos, e o seu poder nos músculos do seu ventre. Ele enrija a sua cauda como o cedro; os nervos das suas coxas são entretecidos. Os seus ossos são como tubos de bronze, as suas costelas como barras de ferro (...) Deita-se debaixo dos lotos, no esconderijo dos canaviais e no pântano (...) Eis que se um rio transborda, ele não treme; sente-se seguro ainda que o Jordão se levante até a sua boca.” Alguns dizem se tratar do hipopótamo ou do elefante, mas nenhum deles “enrija a cauda como o cedro”. A descrição confere melhor com um tipo de dinossauro herbívoro, como o Braquiossauro. A evidência fóssil da existência dos dinossauros é incontestável, e mesmo que a Bíblia não os mencionasse (como ocorre, por exemplo, com o gato), isso não mudaria os fatos. O que ela não poderia fazer é afirmar que eles não existiram. Aí seria um problema.

3. De fato, a Bíblia diz que no juízo final o nome que não estiver escrito no livro da vida será lançado no lago de fogo, mas o restante de sua pergunta não está bem de acordo com as Escrituras. Note o que diz o apóstolo Paulo, em Romanos 2:11 e 12: “Porque para com Deus não há acepção de pessoas. Assim, pois, todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram mediante lei serão julgados.” Jesus também disse que a “quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão” (Lucas 12:48). Portanto, cada um será julgado pelo nível de verdade que lhe foi revelado (o que não quer dizer que podemos rejeitar deliberadamente a verdade, uma vez que tenhamos a chance de conhecê-la). A Bíblia diz que Deus é justo e julgará tudo com justiça, por isso não precisamos temer o juízo. Um bonito exemplo de salvação pela graça é o do “bom” ladrão. Lucas 23:39-43 menciona os dois ladrões que foram crucificados ao lado de Jesus. Um deles se converteu ali e foi perdoado por Jesus, recebendo a garantia da vida eterna. Ele foi batizado? Praticou alguma boa obra depois? Evidentemente que não, pois morreu na cruz. Logo, não é o batismo ou a prática de boas obras que nos garantem a salvação. Novamente fica claro que ela é um dom de Deus. Evidentemente que se o ladrão convertido tivesse tido a chance de descer da cruz, começaria nova vida e seria batizado, já que o batismo cristão é o símbolo da união com Cristo e da vida nova pela fé.

Assim, se o índio bom, lá na selva amazônica, praticou a justiça conforme a aprendeu, Deus saberá como julgá-lo. É interessante que Zacarias 13:6 dá a entender que haverá pessoas no Céu que não terão ouvido falar do sacrifício de Jesus aqui, mas terão sido salvas por Ele: “Se alguém Lhe disser: Que feridas são essas nas Tuas mãos?, responderá Ele: São as feridas com que fui ferido na casa dos Meus amigos.”

Às vezes atribuímos a Deus características e ações que mesmo nós, seres humanos com tendência ao mal, jamais faríamos, como condenar alguém que ignora os fatos sobre Deus. João diz que “Deus é amor” (I João 4:8). E essa revelação deve nortear sempre nossos pensamentos e conclusões sobre o Pai celestial.

(Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia)

Monumento no tempo

Tenho ouvido que o sábado é considerado um “monumento no tempo”. Por quê? – A.

As pessoas costumam construir monumentos para recordar grandes feitos e acontecimentos. Um monumento é um marco comemorativo no espaço. Você sabia que existe um memorial no tempo, também? Não é o simples marco de uma construção qualquer, é o memorial da origem da vida, o monumento comemorativo da Criação.

É verdade que ele anda meio esquecido ultimamente. E é justamente por isso que existe uma pergunta que ainda continua tirando o sono de muita gente: “De onde viemos e para onde vamos?”

Muita tinta e papel se tem gasto na tentativa de respondê-la, mas a verdade é que a resposta depende da filosofia de vida da pessoa e da fonte de informação que ela adota. Nesse assunto, dois grupos se destacam: os evolucionistas e os criacionistas.

O primeiro grupo defende a origem da vida espontaneamente a partir de matéria inanimada, e tem como nome de maior destaque o inglês Charles Darwin (1809-1882), grande defensor da teoria da evolução e autor do livro A Origem das Espécies.

Os criacionistas, por outro lado, advogam a idéia de que Deus é o Criador da matéria e da vida. Baseados na Bíblia, eles crêem que “em seis dias fez o Senhor o céu e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou; por isso o Senhor abençoou o dia de sábado, e o santificou” (Êxodo 20:11). Do pôr-do-sol de sexta-feira ao pôr-do-sol de sábado (o ocaso do sol é o referencial bíblico para a passagem dos dias – ver Levítico 23:32), o sétimo dia permanece em meio ao tempo, entre duas semanas, e entre duas épocas também: o passado e tudo o que foi feito e o futuro e aquilo que ainda pode ser realizado. É “o passo atrás antes do salto adiante”; um dia especial que acrescenta qualidade à vida humana.

Portanto, o sábado é o grande memorial da Criação de Deus. Ao separarmos o sétimo dia da semana para fins religiosos (culto a Deus, auxílio aos necessitados, contato com a natureza), estamos reconhecendo ao Senhor como o Todo-Poderoso Criador do Universo. E o sábado é mais do que um simples repouso físico, é antes de tudo uma pausa para um contato mais íntimo com Deus, de tal maneira que as outras atividades ficam para depois.

Por isso, os adventistas do sétimo dia, em homenagem ao Senhor e obedientes à Sua Palavra, cessam suas atividades habituais para dedicar essas 24 horas especiais à adoração e comunhão com o Criador do Universo.

Experimente você também desfrutar das bênçãos desse memorial. Reúna-se com sua família ao pôr-do-sol de cada sexta-feira e, juntos, busquem ao Deus Criador dos céus e da terra. O sábado existe para isso. É, além de um monumento da Criação, um belo presente divino.

(Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia)

Memes e evolução

Os memes de Dawkins não seriam uma evidência de evolução? – T.

A expressão “meme” vem do grego mimeme, palavra que transmite a idéia de uma unidade de imitação. Para Dawkins, os memes estariam para a transmissão cultural como os genes estão para a transmissão genética. Diz ele em seu livro O Gene Egoísta: “Exemplos de memes são: melodias, idéias, slogans, modas, maneiras de fazer potes, vestuários, da mesma forma como os genes se propagam no ‘fundo’ pulando de corpo para corpo através de espermatozóides e óvulos, os memes propagam-se no ‘fundo’ cultural pulando de cérebro para cérebro num processo que pode ser chamado, num sentido amplo, de imitação (...) os memes devem ser considerados como estruturas vivas, não apenas metafórica, mas tecnicamente. Quando você planta um meme fértil em minha mente, você literalmente parasita meu cérebro, transformando-o num veículo para propagação do meme exatamente como um vírus pode parasitar o mecanismo genético de uma célula hospedeira.”

Acho bastante interessante essa teoria e ela, de fato, tem seu fundo de verdade, até mesmo expressa pela máxima “no mundo nada se cria, tudo se transforma”. O grande problema que muitos tendem a ignorar, está sempre na origem das coisas. Como Michael Behe bem questiona em seu livro A Caixa Preta de Darwin, como explicar a origem dos chamados sistemas de complexidade irredutível? Que eles são fantásticos e sofrem alterações ao longo dos anos, está ok. Mas como apareceram neste planeta?

A mesma pergunta pode ser feita com relação à informação que se replica, passa de mente para mente (“infectando” os cérebros) e se modificando: De onde se originou essa informação? O que ou quem deu o start para os pensamentos? E, em nível genético, de onde surgiu a fantástica informação genética contida em nosso DNA? Se alguém lhe dissesse que uma pichação num muro, com os dizeres “João ama Maria”, por exemplo, apareceu ali por mera acumulação de pigmentos por acaso e ao longo do tempo, naturalmente você resistiria a essa explicação. Mas há quem creia que a informação tenha surgido sem que tenha havido um informante à princípio. Essa idéia não me parece muito lógica.

Em Desvendando o Arco-Íris, o mesmo autor de O Gene Egoísta, Richard Dawkins, vai um pouco além do que foi com a teoria dos memes. Pega como metáfora a Lei de Moore (os microchips dobram de capacidade a cada ano e meio) e mostra que, se os computadores ficam cada vez mais rápidos e potentes, é porque novos softwares exigem rapidamente todo seu poder de processamento.

Tanto na teoria dos memes quanto nessa idéia proposta em Desvendando o Arco-Íris, creio que se deveria levar em conta o fato de que, no campo da “evolução das idéias” essa evolução ocorre de maneira mais ou menos organizada e dirigida, já que passa por cérebros pensantes. Comparar a evolução biológica à evolução da informação não me parece muito correto, uma vez que a evolução em âmbito biológico ocorreria de maneira casual e não dirigida, diversamente do que ocorre com a informação. Se os softwares evoluem e se tornam mais complexos, é porque há mentes inteligentes por trás disso, dirigindo o processo. A casualidade jamais daria origem aos sofisticados programas de computador.

(Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia)

Morcego é ave?

Em Levítico 11:13 a 19 há certas restrições dietéticas recomendadas por Deus ao Seu povo. Dentre as “aves” imundas, consta o morcego. Morcego, pela classificação biológica atual, é considerado um mamífero. Como explicar a sua inclusão no grupo das aves por Moisés? – F.

Prezado F., na verdade, você mesmo já indicou a resposta: é a biologia moderna que classifica morcego como mamífero, o que não deixa de ser correto, tomando como referencial suas características similares às dos animais dessa Classe. Mas também são perceptíveis suas semelhanças com as aves, se assumirmos a capacidade de voar como principal peculiaridade desses animais.

Do ponto de vista bíblico (em sua linguagem pré-científica), “aves” são todos os animais que voam. O mesmo ocorre com relação aos animais aquáticos, classificados por Moisés como simplesmente “peixes”. Levítico indica como próprios para consumo humano (não-imundos) os peixes que têm escamas e barbatanas, não se enquadrando nessa descrição, por exemplo, o camarão e o polvo, apesar de modernamente não serem considerados peixes.

A palavra “réptil”, para mencionar apenas mais um exemplo, também é usada de forma bem genérica na Bíblia. Portanto, e concluindo, as nomenclaturas e classificações da ciência moderna não devem ser necessariamente aplicadas a um texto cuja distância no tempo chega a vários séculos. Os princípios científicos comprovados pela experimentação, no entanto, têm sempre se demonstrado em conformidade com as Sagradas Escrituras.

Mitologia na Bíblia?

O unicórnio não é descrito como um ser fabuloso, semelhante a um cavalo com um chifre no meio da testa? Não pertence esse animal à mitologia? A Bíblia, no entanto, o menciona em números 23:32. A referência poderia estar relacionada com outro animal conhecido na natureza, como o rinoceronte? – F.

Prezado F., de fato, na versão Almeida Revista e Corrigida (e em outras) aparece a expressão “unicórnio”. Mas há diversas outras versões que trazem “búfalo”, “boi selvagem” e até “rinoceronte”. Note algumas delas:

“Deus os tirou do Egito; as forças deles são como as do boi selvagem” (Almeida Revista e Atualizada).

“Deus os tirou do Egito; ele tem a força de um touro selvagem” (Bíblia na Linguagem de Hoje).

“God bringeth them forth out of Egypt; He hath as it were the strength of the wild-ox” (American Standad Version). Obs.: Ox é boi.

“It is God who has taken them out of Egypt; his horns are like those of the mountain ox” (Bible in Basic English).

“God who brought them out of Egypt is for him like the lofty horns of the wild ox” (Green s Literal Translation).

“Dio, che lo ha fatto uscire dall Egitto, è per lui come le corna poderose del bufalo” (La Sacra Biblia Nuova Riveduta).

“God brought them out of Egypt. He has, as it were, the strength of an ox” (Modern King James Version).

“Deus eduxit eum de Aegypto cuius fortitudo similis est rinocerotis” (Jerome's Latin Vulgate).

Segundo o Comentário Bíblico Adventista (em espanhol), esse animal era “provavelmente um boi em estado selvagem. Sem dúvida um animal de grande fortaleza, valor e de dois chifres (Deut. 33:17; Sal. 22:21; note-se o plural ‘chifres’). A Septuaginta [tradução grega do hebraico] traduz esta palavra hebraica com um termo grego que significa ‘um corno’, pensando que se refere ao rinoceronte. Evidentemente os tradutores não se deram conta de que outras passagens – como as mencionadas – falam deste animal como tendo dois chifres” (Vol. 1, pág. 923).

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