terça-feira, novembro 07, 2006

Invenção da escrita

A revista Época publicou tempos atrás matéria que afirma que a invenção da escrita ocorreu há 6 mil anos, na Mesopotâmia. Acompanhava o texto um quadro com a informação "5.200 anos" e "Ascensão da civilização egípcia e construção das pirâmides", e paralelamente o autor da matéria coloca eventos bíblicos da Criação e do Dilúvio como contraditórios em relação aos outros eventos citados. Minha pergunta é: Seria mesmo verdade que há 6 mil anos a escrita foi inventada na Mesopotâmia, bem como o segundo evento? - R

Prezado R., creio que os comentários abaixo, extraídos de um livro sobre arqueologia bíblica que a Casa Publicadora Brasileira está preparando, devem esclarecer a questão. O autor, Dr. Rodrigo Silva, autorizou a publicação desses comentários e ressaltou que as referências bibliográficas constarão do livro:

"Alguns estudiosos estabelecem a origem da escrita para algo em torno de 3100 a.C. Outros para não mais que 2.500 a.C. Mas no passado essa data era muito mais antiga. A cronologia do dilúvio correlata às primeiras civilizações pré-diluvianas é algo extenso que não tenho como responder por aqui. Mas quanto às datas, verifique este trecho do livro que acabei de escrever e que a Casa vai lançar no ano que vem (2007):

"Mudanças de paradigma nas datações convencionais - À luz do que já ocorreu várias vezes na história da ciência cronologista, não deveremos nos surpreender se algumas datas hoje convencionalmente divulgadas sofrerem alteração. Várias datações da história antiga já foram revistas e encurtadas por respeitados especialistas da área.

"Petrie e Wooley, pioneiros da egiptologia, datavam a primeira dinastia Egípia em 5.000 anos antes de Cristo. Hoje o cômputo mais aceito é o de 3100 a.C. e há quem sugira uma datação ainda mais recente. As dinastias egípcias, diga-se de passagem, são o marco para a cronologia do segundo milênio a.C. (inclusive a mesopotâmica) e, pelo que veremos mais à frente, elas ainda são tema de constantes debates acadêmicos.

"Num não muito distante simpósio sobre cronologia e história realizado na Europa, foi declarado que até mesmo o Museu Britânico manteve durante décadas uma série de tabletes cuneiformes datados em torno de 4.500 anos antes de Cristo, cujo consenso atual não os atribui a mais que 2500 a.C. Já antes disso, o falecido Dr. Libby, pioneiro do método do C14, declarou em 1956: 'Eu e o Dr. Arnold ficamos chocados quando nossos conselheiros de pesquisa nos informaram que a história se estendia a apenas 5.000 anos. Nós lemos livros e encontramos declarações de que tal e tal sociedade ou sítio arqueológico data, por exemplo, de 20.000 anos. Mas aprendemos, abruptamente, que esses números, isto é, aquelas antigas datas, não são certeza absoluta, elas se baseiam no período [convencional] da primeira dinastia do Egito que á a mais antiga data histórica que se tem uma certeza estabelecida.

"Datações anteriores ao surgimento da escrita - A despeito da importância que os ossos, ferramentas, ornamentos e cerâmicas tenham para o estudo arqueológico, é importante mencionar que, em termos de datação antiga (i.e. anterior à invenção da escrita), sua contribuição é inconclusiva e está sujeita a novas interpretações. Há, por exemplo, um grande debate em aberto sobre a data da destruição de Jericó, pois sua principal evidência vem das cerâmicas encontradas no local que são interpretadas de maneira diferente, de acordo com o especialista que as analisa.

"Se quisermos evitar erros sistêmicos talvez devêssemos nos manter mais confiantemente dentro daquela cronologia que parte da invenção da escrita para o presente. Afinal, documentos escritos são fontes mais seguras que oferecem, por exemplo, o testemunho de um eclipse ou de um terremoto que com os atuais instrumentos de estudo da astronomia ou da sismografia podem ser identificados com absoluta precisão. Isso nos levaria para algo em torno de 2500 a.C., que é quando começa a história registrada por escrito.

"Contudo, mesmo alguns historiadores não bíblicos, como John G. Read, ainda se mostram cautelosos ao afirmar que 'as datas bem autenticadas [em relação à cronologia egípcia] só nos permitem recuar para 1.600 anos a.C.' A razão para este comentário está em que as datas egípcias com maior ou menor grau de precisão só podem ser traçadas com certa margem de segurança até à discutível dinastia de Ramsés (1320 a.C.), que levou pelo menos nove reis a adotarem esse nome.

"As datas a partir desse período são estabelecidas com base em listas de reis sumerianos, cronologia grega e outras fontes correlatas. Porém, para períodos que antecedem essa época, aumenta-se consideravelmente o grau de incerteza. Os egípcios datavam os fatos pelo reinado de seus faraós. Por exemplo: 'isso ocorreu no terceiro ano do reinado de Ahmosis'. Mas hoje é sabido que houve co-regências, de modo que o quinto ano de um rei poderia ser também o seu primeiro ano, pois os quatro anteriores foram em companhia de seu pai que não havia de modo algum abdicado do trono.

"Ademais, não temos precisamente o número de reis que governaram em todos os períodos do Egito. Por razões políticas ou religiosas, os escribas muitas vezes compilavam as dinastias com uma precisão exata, noutras não. Algumas dessas listas sobreviveram até nosso tempo e entre elas podemos citar a Pedra de Palermo, que está em Turim, e a Tábua de Karnak, que atualmente encontra-se no Museu do Louvre. Contudo, nenhuma dessas listas está preservada o bastante para solucionar todos os detalhes a ponto de oferecer uma cronologia absolutamente precisa. Talvez achados futuros poderão nos ajudar, mas, por enquanto, são estes os elementos que a história disponibiliza."

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