segunda-feira, outubro 22, 2007

Versões divergentes?

Li recentemente duas passagens da Bíblia Sagrada na Linguagem de Hoje e me deparei com o que eu acredito ser um equívoco dos tradutores. Os textos são Mateus 18:22 e João 2:1. Ambos os textos têm diferença com o que está na Bíblia traduzida por João Ferreira de Almeida. Gostaria de sanar essa dúvida. - R.

1. Sobre Mateus 18:22: O texto da Almeida Revista e Atualizada traz: "Sententa vezes sete", e o da Nova Tradução na Linguagem de Hoje traz: "Setenta e sete". O texto grego está assim: hebdomekontákis, cuja tradução pode ser "setenta vezes sete" ou "setenta e sete". Assim, tanto a versão de Almeida quanto a Linguagem de Hoje estão certas, pois há duas possibilidades de tradução.

2. Sobre João 2:1: Na versão de Almeida está: "três dias depois". Na Linguagem de Hoje: "dois dias depois". No grego está assim: "E no terceiro dia houve um casamento." Como podem ambas estar certas? A de Almeida parece usar a contagem inclusiva (maneira de contagem comum aos judeus), ou seja, conta o dia em que começa a festa como fazendo parte dos dois dias anteriores. Assim, a festa teria ocorrido "três dias depois", mas, na verdade, o terceiro dia ainda não tinha terminado (ver exemplo de contagem inclusiva em Ester 4:16 e 5:1 - onde a rainha manda que jejuem por ela por "três dias", e ainda o terceiro dia de jejum não havia terminado quando ela se apresentou ao rei). A versão na Linguagem de Hoje, não usando a "contagem inclusiva", mas contando o tempo como nós o fazemos, diz que a festa foi realizada "dois dias depois", ou seja, dois dias completos haviam se passado desde que Jesus Se encontrara com Filipe e Natanael (ver Jo 1:43-51), e ao começar o terceiro dia (desde aquele encontro), teve início a festa de casamento.

quinta-feira, outubro 18, 2007

Acréscimo na Oração do Senhor

Em Mateus 6:13 temos em algumas traduções o seguinte trecho: "...pois Teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém." Pela pesquisa que fiz, concluí que esse versículo não é original - o que não interfere na veracidade da Bíblia. Só que tenho uma dúvida: no livro O Maior Discurso de Cristo, Ellen White faz a seguinte citação: "'Teu é o reino, e o poder, e a glória.' Mat. 6:13. A última, como a primeira sentença da Oração do Senhor, volve-nos para o Pai como Se achando acima de todo poder e autoridade e todo nome que se nomeia" (p. 120). Então cheguei à seguinte conclusão, como ela mesmo disse: "Todos os erros não causarão dificuldade a uma alma, nem farão tropeçar os pés de alguém que não fabrique dificuldades da mais simples verdade revelada" (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 16). Creio que ela transmitiu um trecho por inflências culturais da época, o que não descarta e nem põe em prova a evidência de ter o verdadeiro dom de profecia que é um dos sinais da igreja remanescente. Cheguei a uma conclusão correta? - G.

Na citação feita do livro O Maior Discurso de Cristo, página 120, onde a Sra. White cita "Teu é o reino, e o poder, e a glória" como fazendo parte da Oração do Senhor, a profetisa não está entrando em detalhes de uma crítica textual a essa oração. Apenas cita aquelas palvras como fazendo parte daquela oração, como todos o faríamos, uma vez que, hoje, ela, de fato, faz parte dessa oração. É verdade que se for feita uma crítica textual à Oração do Senhor se verá que a maioria dos manuscritos não traz a parte final "pois Teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém". Deve ter sido um acréscimo por parte de um copista que conhecia a oração de Davi, em 1 Crônicas 29:11 e 12, e pegou parte dessa oração e juntou à Oração do Senhor. (De qualquer maneira, esse provável acréscimo do copista é bíblico.) Então a Sra. White, como não estava fazendo uma crítica textual da Oração do Senhor, podia, sem incorrer em erro, citar a parte final como fazendo parte da oração. Perceba que ela não diz que "Jesus falou" aquela parte da oração, mas que ela é "uma setença da Oração do Senhor".

(Ozeas Caldas Moura, teólogo)

quinta-feira, agosto 30, 2007

Os hebreus no Egito e o Êxodo

A Igreja Adventista assume a posição de 215 anos do cativeiro egípcio. Porém, essa posição, segundo alguns especialistas, colocaria José vivendo na corte egipcia durante o governo dos hicsos sobre o Egito. Contudo, o texto bíblico diz que José viveu e teve seu gorveno sob um faraó egípcio. Como conciliar os 215 anos com a dominação dos hicsos e também com a data do Êxodo? - A.

Como introdução ao tema vale a pena ler o capítulo "José no Egito", do livro Escavando a Verdade, do Dr. Rodrigo Silva. A questão da duração do cativeiro egípcio é um pouco complicada. De fato, os israelitas ficaram ali por volta de 450 anos (430 ou 400 anos), porém, eles não foram escravos durante esse tempo todo. Ao que parece, eles viveram por um bom tempo sem sofrer qualquer tipo de trabalho forçado. Isso só seria possível se eles vivessem entre os hicsos, que também eram semitas. Diversos elementos na narrativa mosaica levam a crer que José e sua família habitaram no Egito justamente no período de dominaçao desses "reis pastores", como eles eram chamados. No entanto, em Êxodo 1:8, lemos sobre o faraó que não conheceu José. Segundo alguns intérpretes, esse seria Ahmose I, o fundador da 18ª dinastia e aquele que expulsou os hicsos do Egito. Foi a partir desse momento que os israelitas foram escravizados, o que daria aproximadamente 200 anos até o Êxodo, que provavelmente ocorreu em meados de 1450 a.C.

O que a arqueologia pode dizer sobre a data do Êxodo é muito pouco, quase nada. O papiro de Ipwer, que menciona vários eventos naturais semelhantes aos das pragas (Ex 7-12), parece ser de 1400 a.C., aproximadamente. As cartas de Amarna, que registram o incessante pedido de reis cananeus que estavam sendo castigados pelos hapirus (hebreus?), é da mesma época.

De uma coisa podemos ter certeza, os israelitas estiveram no Egito. Semelhanças no vocabulário e nos nomes não surgiriam do nada.

segunda-feira, agosto 27, 2007

Milênio literal

Sendo o Apocalipse um livro profético, como interpretar o milênio do capítulo 20 como literal? - P.

Uma regra básica de Hermenêutica diz que a Bíblia deve, primeiramente, ser interpretada de forma literal, a menos que o contexto peça a interpretação alegórica. No livro do Apocalipse, nem tudo é alegórico. Exemplos: a árvore da vida, o rio da água da vida, o trono de Deus, as sete igrejas da Ásia às quais foram mandadas as sete cartas, as sete pragas e o novo céu a nova Terra. O milênio está nesse grupo. Com exceção da "prisão" de Satanás (que é uma prisão de circunstâncias, mas algo bastante real) e do clamor dos decapitados por vingança, tudo no assunto pede uma interpretação literal: Satanás é um ser literal, as nações enganadas por ele ao fim do milênio são literais, os mortos que permanecem na Terra durante o milênio são literais, os salvos que reinam com Cristo no Céu durante o milênio são literais, os que foram decapitados por causa do testemunho que deram quando vivos são literais, o abismo (este planeta escuro e sem vida) também é literal. Então, por que os mil anos deveriam ser simbólicos ou alegóricos? Uma alegoria aponta para uma realidade ainda maior. Caso o milênio fosse alegórico, apontaria para quê?

terça-feira, agosto 14, 2007

Dias e alimentos

Romanos 14 é um texto bastante difícil de ser explicado. Parece dizer que "alimentação" e "dia ou dias de guarda" é uma questão de consciência individual e, portanto, ninguém dever julgado pela sua escolha. - D.

Devemos ver primeiro sobre o que o capítulo não trata. Ou seja, não trata da questão do sábado versus domingo (o texto de Romanos é de cerca de 60-65 depois de Cristo e o domingo só passou a ser visto como dia de guarda a partir de 132 d.C., com a revolta de Bar-Cochba, um falso messias). Também não trata de alimentos limpos versus imundos, pois Paulo, como bom judeu, não recomendaria alimentos considerados imundos pela lei de Moisés. Romanos 14 trata de dias cerimoniais judaicos (Páscoa, Pentecostes, etc.), abolidos por Cristo na cruz, e de alimentos (mesmo limpos) oferecidos aos ídolos.

(Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia)

sexta-feira, agosto 03, 2007

Criação concluída na sexta ou no sábado?

No livro de Gênesis certa tradução bíblica reza que "Deus terminou a Sua obra no sétimo dia". Por essa razão, alguns afirmam que Deus criou alguma coisa no sétimo dia. Essa tradução que diz que "Deus terminou Sua obra no sétimo dia" é correta? O que podemos argumentar com aqueles que ignoram o consenso geral das Escrituras e se apóiam nesse verso que parece dar "certa razão" para eles? T.

Gênesis 1:31 e 2:1 responde à sua pergunta. Ali é dito: "Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã o sexto dia. Assim, pois foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército." Percebe como o autor de Gênesis diz que Deus "acabou", "completou" Sua obra no sexto dia? Os dizeres de Gênesis 2:2 - "E, havendo Deus terminado no dia sétimo a Sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a Sua obra que tinha feito" - devem ser entendidos à luz dos versos anteriores já citados. Ou seja, poderíamos traduzir assim: "Quando chegou o dia sétimo, havendo Deus já terminado a Sua obra, descansou nesse dia."

Se houve alguma coisa feita no dia sétimo, foi a instituição do descanso do sábado, através do exemplo do próprio Criador.

quarta-feira, junho 27, 2007

Jesus inferior ao Pai?

Gosto muito do seu blog, acho muito informativo e organizado. Ultimamente venho me questionando sobre a existência da "Trindade", sempre tentaram me explicar sobre essa doutrina mas nunca fui esclarecido e também nunca houve um conceito definido mesmo pelos que acreditam nela. Perguntas como essa do senhor "T" me intrigam a crer na existência da Trindade. Sobre sua explicação ao senhor "T" gostaria de maiores esclarecimentos de alguns tópicos. Sendo Jesus na Sua existência pré-humana Deus, mas em Sua encarnação Se auto-limitou, como então poderia Jesus realizar tantos milagres? Depois que Jesus ressuscitou, Ele teria reassumido os mesmos atributos por ser Deus, como se explica o primeiro versículo de Apocalipse, "revelação de Jesus Cristo, a qual Deus Lhe deu?" Que Deus? Ele mesmo? Aguardo resposta. - A.

Algumas consideraçãos breves:

1. Os milagres de Jesus foram feitos pelo poder de Deus Pai (ver Lucas 11:20; João 11:41-43). Ele poderia tê-los feito por Seu próprio poder, mas não o fez para ser o nosso modelo de dependência do Pai). Para alguém operar milagres não precisa ser Deus, mas pode realizá-los pelo poder divino. Pedro, Paulo e outros também os realizaram, mas pelo poder de Deus, como ocorreu com Jesus.

2. É verdade que, depois de Sua ressurreição, Jesus reassume todos os atributos que sempre tivera por ser Deus (Mateus 28:18 e Colossenses 2:9). Deve-se notar que Ele nunca perdeu nenhum atributo divino. Somente que os velou, enquanto aqui esteve.

3. Apocalipse 1:1 fala da cadeia de transmissão profética ocorrida no Apocalipse: Deus Pai - Jesus Cristo - um anjo - o apóstolo João. É interessante como a Divindade trabalha em parceria e união. Não há egoísmo entre as pessoas divinas. Se Deus Pai quisesse, Ele mesmo poderia ter dado Sua mensagem a João. Mas incumbiu a Cristo disso. Jesus, por sua vez, encarrega um anjo de levá-la até o apóstolo João.O fato de uma pessoa divina aceitar incumbência da outra não denota inferioridade, mas parceria e união. Assim é com as três pessoas da Trindade: o Pai envia Cristo ao mundo e o Espírito, depois da ascenção de Cristo ao Céu, aceita ser enviado por Ele como Seu representante. É uma subordinação funcional (papéis no plano da salvação), e não hierárquica (no sentido de um superior e outro inferior).

Sugiro-lhe a leitura do livro A Trindade, da Casa Publicadora Brasileira, para muitas informações adicionais.

quinta-feira, junho 14, 2007

Predestinação

Gostaria de saber a posição da IASD sobre a predestinação, tendo em vista os inumeros textos bíblicos que confirmam essa doutrina, como romanos 9. - R.

O breve estudo que segue foi preparado pelo pastor Ozeas Caldas Moura, que é doutor em Teologia Bíblica:

Predestinar = destinar antes, com antecedência. É traçar o destino de alguém antes mesmo de ele nascer, para a salvação ou perdição.

O nome mais famoso associado à predestinação é o do reformador francês João Calvino. A seguir, analisemos os cinco pontos essenciais da teologia calvinista (HARRISON, A.W. The Beginnings of Arminianism, 1926, p. 149, 150, In: APOLINÁRIO, P. Estudo de Passagens com Problemas de Interpretação. São Paulo: IAE, 1986, p. 70-73):

1. Deus, por um decreto eterno e irrevogável, ordenou alguns dentre os homens para a vida eterna e alguns para a perdição eterna, sem qualquer consideração à sua obediência ou desobediência. Dessa maneira, os predestinados para a salvação devem forçosa e inevitavelmente ser salvos e os demais devem forçosa e inevitavelmente ser condenados.

O que a Bíblia diz sobre isso? É a própria pessoa quem determina seu destino (Jo 3:17-18 e 36) por meio das escolhas que fizer (livre-arbítrio): “Quem crer e for batizado, será salvo; quem, porém, não crer será condenado” (Mc 16:16).

2. Deus determinou livrar alguns da queda e da destruição e salvá-los como exemplos de Sua misericórdia, e deixar outros sob a maldição, como exemplos de sua justiça, sem qualquer consideração à crença ou descrença. Assim, os eleitos são necessariamente salvos e os réprobos necessariamente condenados.

O que a Bíblia diz sobre isso? Veja os textos de Jo 3:16; Rm 11:32 e 1Tm 2:4.

3. Jesus Cristo, o Salvador do mundo, não morreu por todos os homens, mas somente por aqueles que foram eleitos (para a salvação).

O que a Bíblia diz sobre isso?
Veja Tt 2:11; 1Jo 2:2; 2Pe 3:9; At 10:34 e 35; 17:30; 1Ts 5:9 e Ef 1:5.

4. O Espírito de Deus e Cristo atuam nos eleitos com força irresistível a fim de compeli-los à crença e salvação, mas que aos réprobos não foi dada necessária e suficiente graça.

O que a Bíblia diz sobre isso? Tt 2:11 diz que “a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens”, e At 7:51 afirma que o Espírito Santo pode ser resistido.

5. Aqueles que uma vez obtiveram verdadeira fé jamais poderiam perdê-la por completo e terminantemente.

O que a Bíblia diz sobre isso? Os exemplos de Balaão (Nm caps. 22-24), Saul (1Sm 10:6 e 9) e Demas (Cl 4:14 e 2Tm 4:10) mostram que se pode perder a fé por completo. O apóstolo Paulo fala de pessoas que “naufragaram” na fé (ver o caso de Himeneu e Alexandre, em 1Tm 1:19 e 20).

Passagens mal interpretadas sobre a predestinação:

- Is 45:7: “Crio o bem e o mal” (Deus, na verdade, permite).

- Ex 4:21 e 7:3 e 13: o endurecimento do coração de Faraó (Deus permitiu). No pensamento hebraico, tudo o que Deus permite é de Sua responsabilidade. É como se Ele causasse ou criasse.

- Rm 9:13: “Amei a Jacó, porém me aborreci de Esaú.” Aqui há a predestinação de papéis, mas isso não significava que Esaú devesse se perder.

- Sl 109:4-9: Estava Judas predestinado a trair Jesus? Não. O fato de Deus saber algo com antecipação, não significa que Ele cause isso. A onisciência de Deus não é causativa. Deus viu, séculos antes, que Judas, por livre e espontânea vontade, trairia e venderia Jesus.

Conclusão: Deus predestinou caracteres e não pessoas para a salvação ou perdição. Jo 3:16: “Quem crê ...” – Deus decretou que aqueles que nEle crêem serão salvos. “Quem não crê...” – Deus decretou que se perderão (cf. Mc 16:16).

segunda-feira, junho 04, 2007

Quem escreveu a carta aos Hebreus

Algumas pessoas afirmam em seus sermões e/ou livros que não se pode saber com exatidão quem escreveu a Epístola aos Hebreus. No entanto, Ellen G. White diz que foi Paulo. Como entender isso? - N.

Segundo o doutor em Teologia e editor da Casa Publicadora Brasileira, Ozeas Caldas Moura, quando Ellen G. White menciona que Paulo ou outro escreveu à determinada igreja, não está entrando no mérito de quem realmente fez uso da pena e tinta para pôr no papiro ou pergaminho as palavras de Paulo ou de outros escritores. É como dizer que o presidente Lula escreveu em seu discurso tais e tais coisas, quando, na verdade, na maioria das vezes, é um secretário quem o escreve.

A Sra. White menciona em Cristo Triunfante (Meditações Matinais de 2002), p. 366, que “Paulo escreveu aos Romanos...” E, então, cita as palavras de Romanos 12:18. Se olharmos Romanos 16:22, veremos que quem realmente escreveu a carta aos Romanos foi Tércio. Geralmente, Paulo não escrevia suas cartas, e, sim, secretários, também chamados de “amanuenses”. Mas, para dar validade a elas, as assinava (ver 1 Coríntios 16:21; Colossenses 4:18, etc.). A Epístola aos Hebreus difere em estilo das demais cartas de Paulo: falta-lhe o autor, os destinatários, as ações de graças ou elogio aos destinatários, e a exortação ou solicitação (esses itens, geralmente, vêm no início de cada epístola paulina). Do estilo de Paulo, só há a bênção (Hebreus 13:25).

Provavelmente, seja um sermão de Paulo, transcrito por Lucas ou um outro companheiro de Paulo que, mais tarde, a teria transformado numa epístola.

quarta-feira, maio 23, 2007

Jesus e o dia de Sua vinda

Por que Jesus disse que daquele "dia e hora nem o Filho sabe"? Ele não era Deus? A palavra "Filho" consta no texto original? Não podemos admitir que Ele mentiu, mesmo que Ele tivesse alguma boa razão para isso. Aguardo resposta. - T.

Quanto ao questionamento se a palavra "Filho" consta no original, a resposta é "sim". Com respeito ao texto mencionado, deve-se entender que Cristo falou isso no contexto de Sua encarnação, quando Ele Se auto-limitou (não perdeu nenhum atributo divino, mas preferiu não empregá-los, para ser nosso exemplo em tudo). Se Ele quisesse saber o dia de Sua vinda, Ele poderia, mas aí estaria usando um atributo divino - a onisciência. Quando ressuscitou, Ele disse: "Toda autoridade Me foi dada no céu e na terra" (Mt 28:18). Ou seja, Ele reassumiu todos os atributos que sempre teve por ser Deus, inclusive a onisciência. A partir da ressurreição, Ele sabe o dia de Sua vinda.

(Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia)

quinta-feira, maio 17, 2007

Homens com cabelo comprido

O apóstolo Paulo escreveu que é desonroso para o varão ter cabelos compridos, mas o fato é que a IASD tem representado a Jesus com os cabelos longos em suas ilustrações de livros e cartazes. Como é possível saber o comprimento dos cabelos de Jesus? Qual é a base da IASD para representá-Lo dessa forma? - T.

É verdade que Paulo menciona que "é desonroso para o homem usar cabelo comprido" (1Co 11:14). Mas, segundo o teólogo Ozeas Calsas Mooura, isso era na cultura greco-romana (gregos e romanos geralmente não usavam barbas e usavam cabelo curto). "Note que foi um conselho de Paulo para os membros da igreja de Corinto (uma cidade de cultura grega)", explica ele. "Entre os judeus, as mulheres usavam cabelo comprido, geralmente abaixo da cintura, e os homens cabelo comprido (geralmente até os ombros). Um exemplo de cabelo comprido nos homens é o de Absalão. Quando ficava grande demais, eles eram aparados, mas não curtos demais (ver 2Sm 14:26). Note que Absalão cortava os cabelos só uma vez por ano). Jesus deve ter usado cabelos aos ombros, como todo judeu. Daí o retratarmos de cabelos compridos. Mas, se numa determinada cultura cabelo grande não pegar bem para os homens, então deveria ser evitado."

(Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia)

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Amalgamação

Ouvi falar, certa vez, de que a escritora Ellen White falou sobre a "mistura" de seres, que ela chamou de "amalgamação". O que ela quis dizer com isso? - G

Prezado G., o artigo que segue, escrito por Gordon Shigley, examina a polêmica declaração de Ellen White sobre ter ocorrido no passado "amálgama de homem e besta" dando origem a raças inferiores tanto de homens quanto de animais, segundo a perspectiva de dois pesquisadores adventistas de renome na área de Biologia, autores de livros e vários artigos sobre Ciência e Religião: Dr. Frank L. Marsh e Dr. Harold W. Clark:

Em 8 de setembro de 1947, quinze dos mais importantes líderes eclesiásticos adventistas do sétimo dia reuniram-se perto da cidade de São Francisco, Califórnia, Estados Unidos, para ouvir dois jovens biólogos adventistas - Dr. Frank L. Marsh e Dr. Harold W. Clark - debater o sentido de duas breves declarações publicadas em meados do século 19 pela profetisa de sua igreja, Ellen G. White. Os biólogos discutiam se os escritos da Sra. White deixavam implícito que relações sexuais entre homens e animais teriam produzido espécies confusas, contribuíram para deturpar a imagem de Deus no homem e deixaram evidências de sua ação perduradora a serem notadas em certas raças não especificadas de homens.

As implicações raciais explosivas de tais declarações propiciavam um senso de urgência ao debate. A controvérsia girava em torno da insinuação implícita de que os negros descenderiam de união sexual de seres humanos com animais. Teria Deus revelado a Ellen White numa visão que os negros não eram plenamente humanos? Ao longo dos anos, críticos e apologistas de Ellen White postaram-se em batalha em torno desse assunto de elevada carga emocional. Questões menos tangíveis para a igreja assomavam por trás, no horizonte. Como e em que extensão a religião deveria acomodar os dados científicos que contradizem a revelação? Se a inspiração da Sra. White não detém o caráter de infalibilidade, quais eram os seus limites?

James McElhany, presidente da igreja, reuniu o tribunal de "notáveis" ao longo de uma vasta mesa diante de Marsh e Clark, que tomaram assento em frente de prateleiras repletas de publicações da Sra. White, enquanto Milton Kern, presidente dos Depositários das Publicações de Ellen G. White, assumiu a direção como moderador. Logo após as 9 horas da manhã, Kern iniciou os trabalhos e ofereceu um breve histórico da controvérsia que cercava as declarações sobre a amalgamação.

As declarações da Sra. White primeiro apareceram em Spiritual Gifts, Important Facts of Faith in Connection with the History of Holy Men of Old [Dons espirituais, importantes fatos da fé em conexão com a história de santos homens do passado], coleção em quatro volumes primeiramente publicada em 1864. Após descrever uma série de pecados antediluvianos que incluíam os casamentos entre justos e ímpios, idolatria, poligamia, roubo e assassínio, Ellen White escreveu:

"Mas se há um pecado acima de todo outro que atraiu a destruição da raça pelo dilúvio, foi o aviltante crime de amálgama de homem e besta que deturpou a imagem de Deus e causou confusão por toda parte. Deus propôs-Se a destruir aquela raça poderosa e longeva que corrompera os seus caminhos perante Ele." The Spirit of Prophecy, vol. 1, pág. 69.

A segunda referência a amálgama veio no capítulo seguinte e tratava de amalgamação entre homem e besta que ocorrera após o dilúvio:

"Cada espécie de animal que Deus criou foi preservada na arca. As espécies confusas que Deus não criara, resultantes da amalgamação, foram destruídas pelo dilúvio." The Spirit of Prophecy, vol. 1, pag. 72.

Ambas as declarações aparecem mais tarde em The Spirit of Prophecy, vol. 1, e em 1870, na reorganização do material, em Spiritual Gifts. Em 1871 surgem novamente em The Great Controversy, vol. 1, um título alternativo para The Spirit of Prophecy.

Por fim, quase 20 anos depois, ambas as declarações de amálgama não foram incluídas na edição de Patriarcas e Profetas de 1890. Na compilação de 1947, A História da Redenção, os editores das Publicações de Ellen G. White removeram as declarações questionáveis e até certas sentenças do contexto próximo que estão em Patriarcas e Profetas.

Kern observou que as declarações tinham despertado controvérsia quase a partir do tempo em que Ellen White as havia feito publicar, em 1864. Durante os últimos 20 anos, ele prossegue, vários homens haviam oferecido diferentes interpretações das declarações de Ellen White, e era propósito daquela reunião ouvir os advogados das duas posições mais vastamente difundidas, após o que haveria oportunidade para perguntas e discussão. Ele, a seguir, passou a palavra a Clark.

Clark ergueu-se e começou elogiando Marsh por sua contribuição para o estudo da Criação. No que respeitava ao relacionamento deles quanto à teoria da evolução, observou, estavam 100% ombro a ombro e até concordavam substancialmente em muitos aspectos das declarações sobre a amalgamação. Os ansiosos líderes eclesiásticos sentiram-se aliviados ao perceberem que Clark e Marsh eram tão bons amigos, e as declarações introdutórias de Clark ajudaram a desfazer algo da tensão.

Clark a seguir ofereceu um breve sumário do contexto das declarações sobre amálgama, chamando a atenção à sua localização ao fim de um capítulo que detalha crimes cometidos pelos antediluvianos. Era difícil ler as declarações nos seus contextos sem ver uma série de pecados, dentre os quais o últimos deles, aquele tido por "pecado acima de todo outro" - constituía obviamente o clímax. Não seria provável que Ellen White estivesse falando sobre os casamentos mistos, uma vez que já havia descrito esse pecado num parágrafo anterior. Quatro anos depois que as declarações apareceram, Uriah Smith, então editor do órgão adventista Advent Review and Sabbath Herald, defendeu-as em sua obra Visions of Mrs. E. G. White: a Manifestation of Spiritual Gifts According to the Scriptures (1868), com uma interpretação que não deixava margem para malentendidos, e Tiago White, o marido de Ellen, havia, em suas próprias palavras, "cuidadosamente lido o manuscrito" antes de recomendar o livro de Smith a ampla circulação.

A conclusão quase certa, prosseguiu Clark, é de que Ellen White também se interessara em como Uriah Smith a havia defendido e que ela, também, lera a obra. Clark realçou o seu trabalho com o filho de Ellen White, W. C. White, e D. E. Robinson, seu secretário. Nenhum desses homens tinha duvidado de que Ellen White quis dizer o cruzamento de homem e animal com a frase "amálgama de homem e besta". Conquanto houvesse controvérsia sobre as declarações, críticos e apoiadores igualmente haviam aceito essa interpretação. Quão fácil teria sido corrigir seus críticos em 1870 se ela realmente intencionara fazer com que "o aviltante crime de amálgama de homem e besta" significasse os casamentos mistos entre as raças de Sete e Caim. Era prática comum, prosseguiu ele, que Ellen White fizesse mudanças onde suas palavras provocassem uma interpretação errônea, contudo nesse caso ela não fez qualquer tentativa de esclarecimento, não obstante críticos a acusassem de ensinar que os negros não eram humanos.

Se alguém analisasse a expressão "um pecado acima de todo outro... foi... amálgama de homem e besta", continuou Clark, poderia notar que os termos homem e besta situam-se na mesma relação na sentença; são coordenados. O que quer que se aplique a um, aplica-se ao outro, e é impossível fazer do amálgama de besta com besta ou homem com homem o pecado maior do que idolatria, adultério, poligamia, roubo ou assassínio. A história tem revelado que a coabitação com animais era um dos maiores pecados da antigüidade, havendo disso abundante evidência. Ademais, antropólogos descobriram crânios de semelhança humana em muitas partes do mundo que revelavam afinidades simiescas peculiares. Autoridades competentes haviam descrito características de tribos viventes na África e Malásia de natureza distintamente simiesca. Conquanto não houvesse evidência positiva de que homem e animais pudessem hoje cruzar, havia, não obstante, muitos fatos a indicar que um tal cruzamento poderia ter tido lugar no passado. Ademais, as ordens de Deus para Israel especificamente proibindo a coabitação de homem e besta indicavam que a humanidade estava praticando esse aviltante crime. Dizer que a amalgamação entre homem e besta nunca ocorrera no passado porque não ocorre hoje, destacou Clark, é tomar a mesma posição do uniformismo que desorientou os geólogos. Houve, de fato, somente um fato objetivo que não podia ser explicado: a falta de autêntico registro de um tal cruzamento. Esse fato único não justifica a conclusão de que "um pecado acima de todo outro" cometido pelos antediluvianos fossem os casamentos inter-raciais ou casamento entre crentes e descrentes. Tal interpretação faria violência à linguagem que Ellen White realmente utilizou. Ao contrário, duas conclusões ficavam claras: Ellen White sabia o que quis dizer, e ela claramente intencionou que seus leitores interpretassem o "aviltante crime" como ato sexual incluindo o cruzamento de homem e besta.

Eram 9h45 da manhã e Kern convocou Marsh. Ele começou com algumas poucas palavras de louvor a Clark, e observou serem bons amigos que meramente mantinham uma diferença profissional de opinião sobre declarações que sempre haviam sido pouco claras em seu real sentido. Daí, chamou a atenção à definição de amálgama de J. R. Bartlett no Dictionary of Americanisms de 1859. Nos Estados Unidos, a palavra "amalgamar" era universalmente aplicada à mistura das raças branca e negra, destacou, e somente desde o início do século 20 a palavra "hibridização" tinha se tornado um substituto perfeitamente satisfatório. Mas ao tempo em que Ellen White escreveu as declarações sobre amálgama, "o amálgama de homem" traria à mente do leitor comum uma fusão de duas raças, nesse caso a ímpia raça de Caim e os descendentes de Sete, tementes a Deus. Nem a linguagem das declarações por si próprias, as Escrituras, as descobertas da ciência, nem quaisquer outras declarações dos escritos da Sra. White tornavam obrigatória a conclusão de que o homem cruzara com besta. Suponha-se, sugeriu ele, que na primeira declaração Ellen White tivesse dado o sentido de que o homem havia cruzado com besta. Como poderiam ambos os resultados declarados ocorrer? É verdade que a imagem de Deus poderia ser deturpada, mas causaria isso confusão por toda parte? O homem podia, afinal de contas, coabitar com não mais do que umas poucas formas, e coabitação era sinônimo de hibridização. As Escrituras tornam claro, prosseguiu, que o principal pecado que tornou o dilúvio necessário foi a promiscuidade dos "filhos de Deus" e "filhas dos homens". Ademais, se o Espírito Santo realmente tivesse dito a Ellen White que o homem cruzara com besta, ela não teria eliminado as declarações sobre amálgama de Patriarcas e Profetas.

Marsh introduziu o testemunho da ciência. Um dos princípios mais bem demonstrados em Biologia, observou ele, é o de que as diferentes espécies de animais do Gênesis não cruzam entre si, nem mesmo ao ponto de produzir híbridos estéreis. Não havia razão, seja a partir de dados modernos ou do registro fóssil, para supor que essa não fosse uma lei que remonta à Criação. Se o amálgama das espécies do Gênesis fora o principal pecado a causar destruição de formas terrestres necessárias, deveríamos poder encontrar essas formas amalgamadas como fósseis. Quanto à suposta defesa de Uriah Smith das declarações sobre a amalgamação e a reimpressão inalterada de ambas as declarações dois anos depois, isso dificilmente provaria que Ellen White quis dizer que homem e besta haviam cruzado. Ela não fizera qualquer declaração com respeito à defesa de Smith. Além disso, conquanto fosse difícil explicar como homem podia cruzar com besta, dificilmente seria necessário explicar como poderia haver amálgama de seres humanos entre si. Marsh volveu-se na direção da prateleira com livros da Sra. White que rodeavam o salão de conferências, alcançou um exemplar de Fundamentals of Christian Education, e leu na base da página 499: "O inimigo regozijava em seu êxito de deturpar a imagem divina na mente das pessoas... Mediante casamentos com idólatras e constante associação com eles..." Marsh realçou sua posição: "Ellen White disse que o amálgama deturpava a imagem de Deus. Aqui declara que os casamentos mistos apagaram a imagem divina."

Finalmente, Marsh destacou o sensível tema da raça. Aos que insistiam em que evidência de amálgama de homem e besta podia ser vista em "certas raças de homens", restava a impossível tarefa de apontar as raças parte humanas e parte bestiais. A conclusão pareceria óbvia: o amálgama de homem deturpava a imagem de Deus; o amálgama de raças dentro das espécies criadas de animais produzia espécies confusas. Não devemos macular o inestimável dom de Deus aos adventistas encontrando insinuações de caráter racial nas declarações e admoestações da Sra. White, concluiu ele. [1]

Bem antes de Marsh e Clark serem ativos, as declarações de Ellen White haviam despertado discussão tão logo apareceram impressas. A controvérsia, então, havia girado em torno da questão de negros serem o resultado da hibridização de humanos com bestas. Em The Visions of Mrs. E. G. White, uma apologia para o dom de profecia de Ellen White, Urias Smith respondeu 52 objeções que críticos suscitavam a respeito de Ellen White. Sob a "Objeção 39: a raça negra não é humana", ele argumentou que Ellen White havia feito a segunda declaração de amalgamação "no propósito de ilustrar a profunda corrupção e criminalidade a que a raça humana caíra, mesmo uns poucos anos após o dilúvio" [2], e não ensinar que negros não fossem humanos:

Houve amálgama; e o efeito é ainda visível em "certas raças de homens"... Os que fazem exceção de animais sobre os quais os efeitos desta obra são visíveis são chamados pela visão de "homens". Agora, sempre temos suposto que quem quer que haja sido chamado de homem deve ser considerado um ser humano. [3]

Não obstante, que as raças atuais incluíam descendentes de homens que chegaram à existência em resultado de cruzamentos homem-animal estava além de discussão, argumentava Smith, citando "casos tais como os bosquímanos da África, algumas tribos de hotentotes, e talvez os índios cavadores em nosso próprio país, etc." Ademais, reivindicava ele, naturalistas achavam impossível "dizer exatamente onde o humano termina e o animalesco começa. Podemos supor que isso assim foi ordenado por Deus no princípio? Antes, não tem o pecado maculado as fronteiras desses dois reinos?" [4] Conquanto Ellen White não tivesse especificado que raças ela desejava que seus leitores considerassem como evidência parcial do "aviltante crime", a enumeração por Smith de raças específicas tendia a sustentar o ponto de vista de que Ellen White não esperaria que alguém tivesse dificuldade em identificar as "certas raças de homens". Ao Uriah Smith defender as declarações de amalgamação de Ellen White, ele claramente refletia a idéia popular de seu tempo de que cruzamentos entre homens e animais haviam criado uma terra-de-ninguém entre humanos e animais, habitada por gorilas, chimpanzés, selvagens bosquímanos da África, patagônios e hotentotes.

As posições de Uriah Smith eram compatíveis com estudantes da "Escola Americana" de Antropologia, que estava alcançando o seu pico de influência nos Estados Unidos em meados do século 19. Esses antropologistas alegavam que espécies poderiam cruzar-se para produzir formas intermediárias de descendentes. [5] Argumentavam que a mera observação demonstrava que raças de homens eram capazes de cruzar-se ainda que constituindo-se espécies separadas que Deus tencionara deverem permanecer separadas. Samuel George Morton, fundador da paleontologia invertebrada na América e autor do controverso Crania Americana (1839), sugeria que uma vez que desenhos de tumbas egípcias, conhecidas como tendo pelo menos 3 mil anos de idade, revelavam as raças em todo detalhe tão distintas então como agora, não fazia sentido presumir que causas naturais tivessem produzido as raças no que poderia ser "no máximo mil anos" desde o dilúvio. [6] O mais provável é que Deus tivesse criado as raças a partir dos três filhos de Noé, ou talvez junto à Torre de Babel. Reconhecendo que a hibridização seria o campo de batalha sobre que venceriam ou perderiam o seu caso, proponentes da "Escola Americana" atacaram a validade da infertilidade como um teste para espécies. Em 1847, Morton publicou uma dissertação no prestigioso American Journal of Science na qual alegava que híbridos existiram dentre uma impressionante variedade de organismos, incluindo o cervo e o porco selvagem, o touro e a ovelha, ovelhas e cervos, bem como muitos outros cruzamentos entre diferentes espécies de peixes, aves e insetos. [7]

Tiago White leu o livro de Smith e o recomendou entusiasticamente com a seguinte nota na Review and Herald de 25 de agosto de 1868: "A Associação acaba de publicar um panfleto intitulado 'The Visions of Mrs. E. G. White, a Manifestation of Spiritual Gifts According to the Scriptures' [As Visões da Sra. E. G. White, uma manifestação dos dons espirituais segundo as Escrituras]. É escrito pelo redator da Review. Enquanto lia cuidadosamente o manuscrito, senti-me muito grato a Deus por nosso povo poder ter essa apta defesa daqueles pontos de vista tão amados e entesourados, enquanto outros os desprezam e a eles se opõem. Este livro está destinado a ter ampla circulação. - Tiago White." [8]

Tiago e Ellen White levaram 2 mil exemplares do livro de Smith com eles para reuniões campais naquele ano. [9]

A despeito da defesa de Smith das declarações de Ellen White, a controvérsia nunca foi totalmente superada. Mesmo quando Ellen White eliminou as declarações de seu novo livro, Patriarcas e Profetas (1890), as velhas declarações permaneceram um tópico de muito debate.

Quarenta anos depois do aparecimento de Patriarcas e Profetas, cientistas haviam começado a lançar grande sombra sobre a interpretação tradicional de Uriah Smith. Não poderia mais ser alegado, como Smith havia feito uma vez, que "ninguém" negava a possibilidade de cruzamentos de homem com animal. As declarações de amalgamação tornaram-se um tópico popular de debate entre adventistas interessados em ciência natural e revelação.

Na edição de The Ministry de abril de 1931, George McCready Price, o mais destacado oponente da evolução na igreja, propôs que se realizasse uma ligeira alteração na linguagem das declarações de Ellen White - o acréscimo de uma simples palavra entre colchetes - que poderia reconciliá-las com a ciência e remover toda dificuldade associada à controvérsia.

"Sem tentar lidar com todas as interessantes declarações nesta passagem, posso permitir-me dizer algumas palavras sobre a última parte, que julgo ser a porção mais tendente a incompreensões. Permitam-me reescrever uma palavra entre colchetes, e penso que a suposta dificuldade desaparecerá quase por encanto. 'Desde o dilúvio, tem havido amálgama de homem e [de] besta, como pode ser visto em quase infinitas variedades de espécies de animais, e em certas raças de homens.'" [10]

Price estava propondo duas amalgamações independentes - uma para raças de homens e outra para união de várias espécies animais.

Sua solução despertou uma tempestade de oposição. Um dos primeiros a reagir no mesmo ano foi D. E. Robinson, por muitos anos secretário pessoal de Ellen White. Numa dissertação intitulada "Amalgamation Versus Evolution", Robinson declarou que a inserção da palavra "de" por Price na declaração de Ellen White violentava o "sentido óbvio" pretendido pela própria autora. [11] Argumentou ainda que as declarações de amálgama ajudavam a resolver alguns dos problemas no conflito entre ciência e religião, tais como "de que forma tal variedade de animais... poderia ter sido produzida no breve período permitido pela cronologia bíblica..." [12] e o problema de anatomia comparativa:

"A declaração da Sra. White, se aceita, resolverá problemas relacionados com a semelhança física bem próxima entre homem e alguns dos símios, havendo entre estes e os macacos de rabo diferença estrutural maior do que entre eles e o homem. Qualquer um que observar o chimpanzé, o gorila, ou o orangotango não achará difícil crer que procederam de algum ancestral comum com a raça humana." [13]

Exatamente que raças de homem realmente revelaram indícios de ancestral animal, Robinson admitiu, era impossível determinar: a Sra. White não havia especificado as "certas raças de homens".

O envolvimento de Harold Clark com o problema dos pontos de vista de Ellen White sobre amalgamação começaram quando seus estudantes de Biologia no Pacific Union College lhe perguntavam repetidamente sobre tais declarações. Após consultar os pastores W. C. White e Dores Robinson, sendo o último secretário da Sra. White e um primo da primeira esposa de Clark, este sentiu-se obrigado a propiciar pelo menos uma explicação razoável para as enigmáticas declarações. [14] Em 1940, ele completou Genes and Genesis, onde sustenta a interpretação oficial e sugere possíveis cruzamentos no reino animal. Mesmo que seus exemplos se demonstrassem errôneos, Clark sentia que o princípio básico subjacente às declarações de Ellen White eram válidos.

No ano seguinte, o livro foi tão altamente reputado pela denominação que chegou a ser escolhido para o curso de leitura ministerial. Mas na primavera do mesmo ano, Frank L. Marsh, então recém-formado pela Universidade de Nebraska com um título doutoral, observou que os cientistas não foram capazes de encontrar um único exemplar de híbrido entre homem e besta. Talvez fosse melhor, sugeria ele, aceitar a versão de Price, afinal de contas, quanto ao "amálgama de homem e [de] besta".

Antes do fim de 1941, Marsh completou o seu próprio Fundamental Biology, um texto mimeografado de 128 páginas que destacava a falta de evidência científica para a crença na possibilidade de diversos organismos se cruzarem. [15] Ellen White, argumentava Marsh em dois capítulos dedicados à questão da amalgamação, não dissera que homem havia cruzado com besta. Se espécies confusas resultaram da amalgamação, estas se limitavam a híbridos entre animais intimamente relacionados da mesma espécie do Gênesis. Se Ellen White dissera ter havido união de homem e besta, ela, referia Marsh, "estaria em conflito com todas as leis da Genética". [16] Numa troca de cartas com Marsh, em 1941, Clark argumentava que o que poderia ocorrer agora não era um guia seguro para determinar o que poderia ter ocorrido no passado e advertia Marsh quanto ao perigo de cair no erro uniformista que desorientara os geólogos. [17]

Em 1º de março de 1942, Marsh e Clark completaram dissertações defendendo suas posições alternativas e atacando os pontos de vista contrários. O escrito de Clark, "Amalgamation: an Analysis of the Problem of Amalgamation" [Amalgamação: uma análise do problema da amalgamação], ressaltava que a expressão proposta por Marsh -amálgama de homem (com homem) e besta (com besta) - deixava "besta com besta" numa situação impossível. "A fim de conseguir qualquer sentido disso devemos subentender que foi um pecado que uma espécie de animal cruzasse com outra." [18]

Em sua dissertação, "Analysis of the Amalgamation Statements" [Análise das declarações sobre amalgamação], Marsh argumentava que os cruzamentos entre as diferentes espécies, inclusive o homem e os macacos antropóides, eram contrários a todas as leis da Genética. Para evitar que ficasse implícito que os casamentos inter-raciais ainda constituem um "crime aviltante", Marsh escreveu que, conquanto Ellen White tivesse chamado a amalgamação antes do dilúvio um "crime aviltante", a amalgamação após o dilúvio pode não ter sido um pecado em absoluto. [19]

Evidência adicional de que "o aviltante crime de amálgama de homem e besta" não se refere à fusão de homem e besta foi descoberta, dizia Marsh, "na remoção das declarações sobre amalgamação da história bela e cuidadosamente reescrita em Patriarcas e Profetas, um relato que contrastava nitidamente com o escrito anterior, preparado "um tanto livremente". [20] Com este argumento, Marsh introduzia uma das questões mais curiosas surgidas da controvérsia sobre a amalgamação: o estilo literário de Spiritual Gifts é tão pobre que uma compreensão correta das declarações sobre amalgamação se torna muito difícil. Somente Patriarcas e Profetas indica claramente o que Ellen White quis dizer por "um pecado acima de todo outro", ou seja, os casamentos mistos entre os justos e os ímpios, sustentava ele. [21]

Embora fossem simpáticos ao desejo de Marsh em conciliar as declarações sobre amalgamação com a ciência, Robinson e Clark ainda concordavam em que Ellen White decerto intencionara que seus leitores imaginassem um crime sexual, e que o amálgama de homem e besta após o dilúvio representasse a mesma atividade prevalecente antes do dilúvio; obviamente sendo de igual maneira um "crime aviltante". Ademais, parecia-lhes algo irônico ter a amalgamação "contrafazendo em parte a degeneração de milênios de atividade satânica" quando fora a amalgamação que supostamente produzira a degeneração em primeiro lugar.

Marsh permaneceu inabalável. Em Evolution, Creation and Science, concluído em 1944, ele argumentava que tendo sido "a óbvia intenção do Criador manter as espécies separadas", Deus deve ter criado cada tipo com protoplasmas "fisiologicamente incompatíveis" com o de uma espécie diferente. [22]

Clark logo respondeu a Marsh, visando à sua interpretação de que a amalgamação significara cruzamentos somente entre variedades da mesma espécie do Gênesis: "Presumindo que a hibridização referida em Spiritual Gifts era entre raças ecológicas, teríamos a palavra da Inspiração declarando num lugar que grupos normalmente férteis eram permissíveis dentro da espécie, mas asseverando noutra declaração que os produtos de tais raças tinham negada a entrada na arca [de Noé] por serem confusas, resultantes de processos que Deus não aprova". [23]

Pelo fim de 1946, contudo, o contínuo progresso da Genética, o evidente choque entre Ciência e Revelação, e a necessidade de abordar as implicações raciais do ponto de vista tradicional das declarações de amalgamação, combinaram-se para fazer com que a interpretação de Marsh parecesse mais e mais atraente. No verão de 1947, pouco antes do confronto na Califórnia, Marsh reuniu-se privadamente com o presidente da Associação Geral, McElhany, e vários outros líderes denominacionais em Washington D.C., que participariam da reunião de setembro. Viera a convite deles e passou uma noite inteira detalhando o seu parecer e advertindo quanto aos perigos associados com outras interpretações, tanto no campo da ciência quanto no das relações raciais. Em retrospecto, Marsh pode ter ido à Califórnia já como o vencedor.

Na Califórnia, dia 8 de setembro de 1947, ambos os homens haviam completado suas apresentações às 10h15 da manhã; Kern solicitou perguntas e discussões sobre a questão. Clark recebeu a maior parte das perguntas, e segundo prosseguia a sessão tornava-se evidente que a maioria dos líderes, não obstante o que pudessem julgar ser as intenções originais de Ellen White, claramente favoreciam a posição que poderia acomodar a ciência e desativar os problemas de caráter racial associados com as declarações de amalgamação. Marsh oferecia exatamente tal solução. Se a sua interpretação parecia um pouco forçada, mesmo para alguns de seus defensores, não obstante era possível e razoavelmente defensável. Após um intervalo para almoço, a discussão foi reencetada com cerca de um terço do grupo ausentando-se, somente para ser interrompida às 3 horas da tarde sem um voto tomado. Ao fim da reunião, Kern e Marsh discutiram como as perguntas tinham sido encaminhadas e concluíram que se um voto houvesse sido tomado, teria por resultado, na pior das hipóteses, 12 a 3 em favor de Marsh.

Os oficiais da igreja não encorajaram Marsh nem Clark a escreverem sumários de seus pontos de vista. Todavia, quando Marsh retornou ao Union College, ele julgou que um sumário seria útil para os seus estudantes. Em 16 de novembro de 1947, completou uma dissertação de 11 páginas, "The Amalgamation Statements", e remeteu-o a Clark sugerindo que ele, também, escrevesse uma dissertação sumariando brevemente os seus argumentos. Em 1º de março de 1948, Clark completou o seu "Amalgamation: a Study of Perplexing Statements Made by Mrs. E. G. White" [Amalgamação: um estudo de declarações desconcertantes da Sra. E. G. White]. Incluía uma refutação ponto por ponto da última dissertação de Marsh. Sobre a sugestão de Marsh de que híbridos somente poderiam resultar do cruzamento da mesma "espécie" de animais, por exemplo, Clark novamente desejava saber por que tal atividade se constituiria um "crime aviltante".

Quando duas criaturas cruzam entre si, de maneira nenhuma produzem uma espécie corrompida ou confusa. Elas simplesmente dão origem a uma nova variedade dentro da mesma espécie. Tais cruzamentos parecem ser processo perfeitamente natural e bem ordenado. [24]

Tampouco podia Clark crer que o "amálgama de homem e besta" após o dilúvio não se tratasse da mesma atividade de antes do dilúvio, ou que em qualquer medida tivesse decaído em pecaminosidade. Em vista de que a dissertação de Clark respondia a argumentos particulares de Marsh em dissertações passadas, Marsh decidiu redigir apenas um documento mais: "A Discussion of Harold W. Clark's Paper 'Amalgamation', published March 1, 1948" [Uma discussão da dissertação 'amalgamação' de Harold W. Clark, publicada em 1º de março de 1948].

A real "batalha" estava terminada, contudo, e essas eram basicamente escaramuças de "pós-guerra". Os pontos de vista de Marsh prevaleceram. Em 1951, quando F. D. Nichol estava preparando a sua obra Ellen G. White and Her Critics, ele solicitou todas as dissertações de Marsh sobre amalgamação. Marsh as enviou e Nichol baseou-se grandemente nelas para o seu capítulo quanto às declarações sobre amalgamação. [25] Os Depositários White tornaram disponível em 1968 uma cópia do capítulo de Nichol, sob o título "Ellen G. White Statements Regarding Conditions at the Time of the Flood", by F. D. Nichol [As declarações de Ellen G. White concernentes às condições do tempo do Dilúvio, por F. D. Nichol]. Esse ainda é o material remetido àqueles que solicitam uma declaração oficial sobre Ellen G. White e a questão da amalgamação.

Por anos a comunidade adventista presumiu que a Sra. White cria que parte da queda do homem envolveu união sexual de homem com animal e defendeu seus pontos de vista como científicos. Depois de 1947, a posição prevalecente mudou e prosseguiu assim por 35 anos. Incapaz de conciliar a mais óbvia leitura das declarações de Ellen White com a ciência, e com um compromisso para com a igualdade genética entre as raças, a Igreja aceitou a engenhosa interpretação de Marsh sobre o que Ellen White quisera dizer. Pode ser que a presente geração de adventistas concorde com as gerações anteriores de adventistas em que - pelo menos numa ocasião - Ellen White realmente creu que amálgama de homem com besta teve lugar, mas não aceitará essa posição como cientificamente abalizada hoje.


Notas e referências:

1. Os acontecimentos dessa reunião foram reconstituídos a partir de relatos dados ao autor por Harold W. Clark e Frank L. Marsh e a partir de dissertações escritas antes e imediatamente após a reunião de 1947. Posteriormente remeti uma cópia de minha descrição tanto para Clark como para Marsh para comentário e revisão adicionais.

2. Uriah Smith, The Visions of Mrs. E. G. White: a Manifestation of Spiritual Gifts According to the Scriptures (Battle Creek: Seventh-day Adventist Publishing Association, 1868), p. 103.

3. Ibid.

4. Ibid.: "Alguém negará a declaração geral contida na citação dada acima? Ninguém. Se alguém o fizesse poderia ser facilmente silenciado por uma referência a tais casos como os selvagens bosquímanos da África, algumas tribos de hotentotes, e talvez os índios cavadores de nosso próprio país, etc. Ademais, os naturalistas afirmam que a linha de demarcação entre o humano e raças animais é perdida em confusão. É impossível, como afirmam, dizer exatamente onde o humano termina e o animalesco começa. Podemos supor que isso foi assim determinado por Deus no princípio? Antes, não maculou o pecado os limites desses dois reinos?" Ibid.

5. Para um relato detalhado do surgimento da "Escola Americana" de antropologia, ver William Stanton, The Leopard's Spots: Scientific Attitudes Toward Race in America, 1815-1859 (Chicago: The University of Chicago Press, 1960).

6. Samuel George Morton, Crania Americana; or A Comparative View of the Skulls of Various Aboriginal Nations of North and South America, to which is Prefixed on Essay on the Varieties of the Human Species (Philadelphia, 1839), pp. 1-3. Ver William Scranton, Leopard's Spots, pp. 24-44.

7. Samuel Morton, "Hybridity in Animals, considered in reference to the question of the Unity of the Human Species", American Journal of Science, 1847, 3 (segunda série): 39-50, 203-212; também citado em William Stanton, op. cit., pp. 114-115. Quando Morton morreu em 1851 estava no auge de sua influência, proclamado como um dos maiores cientistas da América. "Um dos mais brilhantes ornamentos de nossa era e país", elogiava o Daily Tribune, de Nova Iorque, de 20 de maio de 1851, acrescentando que "provavelmente nenhum cientista na América desfrutasse reputação mais elevada entre eruditos por todo o mundo, do que o Dr. Morton". Citado em William Stanton, Leopard's Spots, p. 144.

8. James White, "New and Important Work", Advent Review and Sabbath Herald, XXXII (25 de agosto de 1868), p. 160. Ao comentar sobre a nota de James White, Harold Clark disse: "Este trabalho foi cuidadosamente examinado por James White com a quase certa suposição de que a Sra. White também o teria lido atenciosamente." Harold Clark, "Amalgamation: a Study in Perplexing Statements Made by Mrs. E. G. White" (1 de março de 1948), p. 2. Conquanto Clark questionasse a aplicação de Smith a raças específicas, "é, porém, evidente que ele [Uriah Smith] corretamente entendeu o que a Sra. White quis dizer, pois em 1870, quando as declarações foram reimpressas, nenhuma mudança da linguagem foi realizada. Mudanças foram realizadas em outras publicações onde uma errônea interpretação havia sido atribuída às suas palavras". Ibid.

9. Esta informação aparece como uma nota manuscrita na base de uma cópia do escrito de Uriah Smith "Objeção 39: a raça negra não é humana", propiciada por Frank Marsh. Sendo que James White havia sugerido em sua nota da Review que o livro de Smith destinava-se a "circulação bem ampla", pode ser que ele levou essas cópias para venda nas várias reuniões campais daquele ano.

10. George McCready Price, "The Problem of Hybridization". The Ministry (31 de abril de 1931), p. 13

11. D. E. Robinson, "Amalgamation Versus Evolution", s.d., mas escrito pouco após abril de 1931, p. 1.

12. Ibid., p.2.

13. Ibid., p.3.

14. Informação numa carta de Harold W. Clark ao autor (14 de junho de 1979). Tanto Robinson quanto W. C. White definitivamente criam que Ellen White quis dizer amálgama de homem com besta.

15. Informação numa carta ao autor vinda de Marsh (8 de fevereiro de 1979).

16. Harold W. Clark para Frank L. Marsh, 10 de abril de 1941 (cortesia de Frank L. Marsh).

17. Informação de Harold W. Clark (14 de junho de 1979) numa carta ao autor. Ver também Harold W. Clark, "Amalgamation", 1 de março de 1942. Francis D. Nichol, um apologista da igreja que mais tarde defendeu a posição de Marsh em seu Ellen G. White and Her Critics, realmente aceitava essa estranha sugestão. Os animais seriam capazes de "crime aviltante" e "pecado", argumentava Nichol, por estarem violando a lei natural. F. D. Nichol, Ellen G. White and Her Critics (Washington, D.C.: The Review and Herald Publishing Association, 1951), p. 317.

18. Frank L. Marsh, "Analysis of the Amalgamation Statements" (dissertação não publicada, 1 de março de 1942), p. 5.

19. Por exemplo, ver Frank L. Marsh, "The Amalgamation Statements" (dissertação não publicada, 16 de novembro de 1947), pp. 4, 5. Este argumento tem prosseguido até o presente e é refletido em Ellen G. White de F. D. Nichol. Marsh apresentou o mesmo argumento numa sessão de perguntas e respostas seguindo-se à apresentação sobre "Ciência e Religião" na Universidade Andrews, verão de 1976, para o Workshop sobre Ellen G. White. (Da transcrição da fita com gravação da sessão, feita pelo autor.)

20. Ver Marsh, "Amalgamation Within Genesis Kinds", 11 de junho de 1942, pp. 1-4, e "The Amalgamation Statements" (manuscrito não publicado, 16 de novembro de 1947), p. 6. Também a partir de informações numa carta de Frank L. Marsh (26 de março de 1979) ao autor. A não ser pela ausência das declarações sobre amalgamação, as mudanças nos vários relatos são triviais. Comparar Spiritual Gifts, III, pp. 61-74, com The Spirit of Prophecy, I, pp. 67-78, e Patriarcas e Profetas, pp. 90-107. Uma leitura paralela de Spiritual Gifts, The Spirit of Prophecy e Patriarcas e Profetas, contudo, mostra uma notável semelhança. Uma pessoa pode, de fato, facilmente seguir o fluxo de idéias parágrafo por parágrafo, sentença após sentença, observando onde Ellen White acrescentou material novo, até ao ponto da última palavra antes do parágrafo que começa cada declaração de amalgamação e incluindo-as. A melhoria em estilo literário em Patriarcas e Profetas parece consistir mais na remoção das declarações sobre amalgamação do que em alterações substanciais de linguagem ou novo arranjo de idéias, e fica aquém da tansformação que Marsh deixa implícita quando escreveu: "O escritor treinado vê quase com horror a falta de unidade, coerência e ênfase no texto de 1864. Contudo, ... nessa descrição [Patriarcas e Profetas] a unidade, coerência e ênfase de seu escrito estão tão acima de repreensão para não deixar dúvida sobre o que constituía o principal..."

21. Ver Frank L. Marsh, Evolution, Creation and Science (Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Assn., 1944), p. 140. Marsh pediu que o anúncio desse livro como seleção para o Curso de Leitura Ministerial - que vinha na página de título da primeira edição - fosse removido porque "parecia despertar preconceito da parte de alguns evolucionistas". De uma carta de Marsh para o autor, de 26 de março de 1979. A Review and Herald omitiu o anúncio a partir da segunda impressão.

22. Harold W. Clark, "Hybridization in Relation to Genesis Kinds" (Angwin, Calif.: 1 de maio de 1945), p. 2. Leon Caviness, um professor de línguas bíblicas do Pacific Union College, tentou estabelecer um acordo em sua breve dissertação "The Meaning of the Amalgamation Statements" [O sentido das declarações de amalgamação]. Aqueles que realmente desejavam descobrir o que Ellen White originalmente tencionara dizer com suas declarações não deviam passar por alto o fato de que ela reimprimiu as mesmas expressões, sem alteração, seis anos depois da controvérsia inicial e dois anos depois da defesa de Uriah Smith. Caviness não descartou a possibilidade de cruzamentos entre homens e animais, mas julgava que o híbrido, caso pudesse ser produzido, não conduziria à introdução de uma nova espécie intermediária entre homem e macaco. Cada cruzamento representaria um evento simples, e o descendente seria incapaz de cruzamento posterior. Caviness resolveu o problema racial associado às declarações da Sra. White postulando produtos não mais trazidos à existência e um processo não mais funcional, pelo menos entre homem e besta, mas sua tentativa de harmonização não satisfez a nenhum dos lados. L. L. Caviness, "The Meaning of the Amalgamation Statements", s.d., pp. 1-2.

No mesmo mês em que o ensaio de Clark apareceu, Marsh respondeu com "The Basic Unit of Creation", um estudo que empregava a infertilidade como teste para definir as espécies do Gênesis. O argumento resultante parecia circular. Um ano depois ele completou Studies in Creationism, um texto mimeografado usado durante 1946 e 1947 como uma referência para suas classes no Seminário Teológico Adventista do Sétimo Dia, em Washington D.C. Marsh dedicou vinte e cinco páginas à questão da amalgamação, novamente declarando a maior parte de seus argumentos anteriores. A Review and Herald Publishing Association publicou uma versão grandemente revista de Studies in Creationism em 1950 que realçava a impossibilidade de que as espécies do Gênesis cruzassem, mas omitia completamente qualquer discussão do próprio problema da amalgamação.

23. Harold W. Clark, "Amalgamation, a revision of a paper issued March 1, 1942" (Angwin, Calif.: 1948).

24. Informação numa carta ao autor procedente de Marsh (10 de janeiro de 1979).


E para concluir esta análise, uma notícia interessante:

Cientistas querem criar híbrido de homem e rato

Um grupo de cientistas norte-americanos e canadenses está desenvolvendo uma experiência na qual injetariam células-tronco (que começam a ser produzidas dias depois que o óvulo fertilizado começa a se dividir e que os órgãos são desenvolvidos) humanas em um embrião de rato, o que criaria um ser híbrido. A informação foi divulgada hoje no jornal The New York Times. O objetivo seria comprovar as propriedades de diferentes linhagens de células-tronco.

A pesquisa não poderia ser realizada com seres humanos por razões éticas. Mas ao injetar células-tronco em um embrião de rato, o animal que nascesse poderia ter células humanas espalhadas por todo seu corpo, incluído o cérebro. O rato poderia, inclusive, produzir esperma ou óvulos humanos.

Alta Charo, vice-reitora da Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin e especializada em bioética, disse que as questões fundamentais são onde será injetado o material genético humano, quanto será injetado e se começa a se tornar confusa a diferença entre o animal e o ser humano. Charo considera aceitável que sejam utilizadas células-tronco para o desenvolvimento de um órgão determinado e sejam inoculadas relativamente tarde no desenvolvimento do embrião do animal.

Em uma reunião organizada pelo biólogo Ali Brivanlou, o grupo de cientistas discutiu a possibilidade de implantar células-tronco humanas em um embrião de rato quando este é uma pequena bola de células chamada blastócisto. Brivanlou disse ao The New York Times que depois comprovariam se as células humanas aparecem em todos os tecidos do roedor.

A medicina vê as células-tronco como uma panacéia que têm a capacidade primordial para a diferenciação, e podem se transformar em sangue, ossos, pele e qualquer outra parte do corpo. Os cientistas desejam usá-las na resistência aos efeitos degenerativos de doenças como Parkinson e câncer. O enigma é como controlar a capacidade das células-tronco para desenvolver tecidos e órgãos específicos que possam ser usados em transplantes. Os cientistas ignoram qual parte do corpo é o lugar apropriado para implantá-las e se o melhor momento de injetá-las no paciente é quando começam a desenvolver o tecido ou antes. ...

O dilema ético em torno desta experiência aponta para o centro da controvérsia sobre o aborto. Alguns pensadores opinam que o ser humano é o material genético e portanto começa com a concepção, enquanto outros acham que a humanidade radica na consciência de si mesmo. Para a segunda corrente, seria preocupante se o experimento fizesse com que as células humanas se desenvolvessem no cérebro do rato e "o animal percebesse a si mesmo de forma diferente que um animal faria", declarou Charo.

A professora afirmou que uma forma extremamente simples de evitar os problemas éticos apresentados pela criação de um híbrido de um ser humano e um animal é matar o embrião antes que ele nasça.

(Terra notícias)

Obs.: Não seria este o tempo em que Deus novamente vai colocar ponto final nas deturpações feitas em Sua criação, como fez com o mundo antediluviano?

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