terça-feira, dezembro 07, 2010

É possível ao cristão ser perfeito?

O assunto da perfeição cristã passou a ter certo destaque nos últimos tempos. A Igreja Adventista do Sétimo Dia crê na perfeição cristã. O livro Nisto Cremos – 28 ensinos bíblicos dos adventistas do sétimo dia (nas páginas 160 a 165) detalha o que cremos em relação a esse assunto. Mas, para que possamos entender melhor a amplitude do tema da perfeição, vou introduzir com os textos abaixo, de Ellen White:

“Devemos lembrar que nossos próprios caminhos não são perfeitos. Cometemos repetidamente erros. [...] Ninguém, senão Jesus, é perfeito” (Para Conhecê-Lo [MM 1965], p. 136).

“Ele [Jesus] é um perfeito e santo Exemplo, dado a nós para imitação. Não podemos nos igualar ao Modelo; mas não seremos aprovados por Deus se não O imitarmos e nos assemelharmos a Ele, de acordo com a capacidade que o Senhor nos dá” (Testemunhos Para a Igreja, v. 2, p. 549).

Os textos demonstram claramente que Jesus é o exemplo de perfeição que devemos seguir, mas que não podemos igualar esse modelo perfeito. Podemos, sim, ser perfeitos em nossa esfera, assim como Deus é perfeito na esfera dEle. Um bebê, mesmo não conseguindo se alimentar sozinho e com tantas outras limitações comuns da idade, não deixa de ser perfeito por causa disso. Porém, conforme o tempo vai passando, esse mesmo bebê passa a desenvolver maior autonomia. Se, passados cinco anos, o bebê estiver se comportando como quando tinha dois, com certeza não seria mais considerado perfeito. A perfeição exige crescimento.

Ellen White fala sobre os níveis de perfeição: “Mediante a obediência vem a santificação do corpo, alma e espírito. Esta santificação é um processo progressivo e uma subida de um nível de perfeição para outro” (Minha Consagração Hoje [MM], p. 250).

Observe o gráfico abaixo. Lembre-se de que ele é apenas ilustrativo. Gradualmente, Deus vai nos capacitando a nos assemelharmos ao Modelo. Chamamos isso de “justiça comunicada”. Jamais igualaremos o Modelo perfeito que é Jesus. O que faltar, Deus suprirá a deficiência. Em outras palavras, Deus completará tudo que faltar. Chamamos isso de “justiça imputada”. Ao nos convertermos, automaticamente temos cem por cento de justiça imputada na nossa “conta corrente celestial”. Exemplo: o ladrão na cruz.


Veja a citação abaixo:

“Se está no coração obedecer a Deus, se são feitos esforços nesse sentido, Jesus aceita esta disposição e esforço como o melhor serviço do homem, e supre a deficiência, com Seu próprio mérito divino” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 382).

Tudo que você pratica foi comunicado por Deus a você; tudo que Deus o capacitou a praticar. Conforme veremos mais abaixo, tudo que praticamos como resultado da justiça comunicada por Cristo precisa ser purificado pelo sangue de Cristo, pois “a menos que sejam purificados por sangue, jamais podem ser de valor perante Deus”. Na realidade, Cristo tem que completar tudo, pois até o que praticamos está maculado devido à natureza humana pecaminosa (“canais corruptos da humanidade”). O que faltou para atingir a norma perfeita de Cristo, Jesus completa com Seus próprios méritos (justiça imputada).

A linha do crescimento cristão indica a perfeição relativa que podemos atingir pela justiça comunicada. O nível da norma perfeita é a perfeição absoluta que Cristo atingiu e que nós podemos atingir pela justiça imputada.

Alguns podem achar que o homem pode ser perfeito como Jesus, que também era humano como nós. Entramos nesse ponto no assunto da natureza humana de Cristo. A Igreja Adventista do Sétimo Dia crê que a natureza humana de Cristo era semelhante à nossa, porém com diferenças.

“Quando o homem transgrediu a lei divina, sua natureza se tornou má, e ele ficou em harmonia com Satanás, e não em desacordo com ele. Não existe, por natureza, nenhuma inimizade entre o homem pecador e o originador do pecado” (O Grande Conflito, p. 505).

Jesus não vivia em harmonia com Satanás. Mas a natureza do homem vive em harmonia com Satanás. Podemos ver a diferença entre as duas naturezas neste simples texto: “Era um poderoso solicitador, não possuindo as paixões de nossa natureza humana caída, mas rodeado das mesmas enfermidades, tentado em todos os pontos como nós o somos” (Testemunhos Para a Igreja, v. 2, p. 509).

Jesus não possuía as paixões da nossa natureza humana caída. Paixão não é pecado, mas uma tendência, uma propensão para pecar. Mesmo que alguns fiquem filosofando sobre o que vem a ser paixão, devemos concluir sem dificuldades que Jesus não as tinha. E isso torna a natureza humana de Cristo diferente da nossa. A nossa tem e a dEle não tinha).

“Os serviços religiosos, as orações, o louvor, a penitente confissão do pecado, sobem dos crentes fiéis, qual incenso ao santuário celestial, mas passando através dos corruptos canais da humanidade, ficam tão maculados que, a menos que sejam purificados por sangue, jamais podem ser de valor perante Deus. Não ascendem em imaculada pureza, e a menos que o Intercessor, que está à mão direita de Deus, apresente e purifique tudo por Sua justiça, não será aceitável a Deus. Todo o incenso dos tabernáculos terrestres tem de umedecer-se com as purificadoras gotas do sangue de Cristo. Ele segura perante o Pai o incensário de Seus próprios méritos, nos quais não há mancha de corrupção terrestre. Nesse incensário reúne Ele as orações, o louvor e as confissões de Seu povo, juntando-lhes Sua própria justiça imaculada. Então, perfumado com os méritos da propiciação de Cristo, o incenso ascende perante Deus completa e inteiramente aceitável. Voltam então graciosas respostas. Oxalá vissem todos que quanto a obediência, penitência, louvor e ações de graças, tudo tem que ser colocado sobre o ardente fogo da justiça de Cristo! A fragrância desta justiça ascende qual nuvem em torno do propiciatório” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 344).

Esse texto é carregado de informações fantásticas e esclarecedoras. A primeira parte diz claramente que tudo que podemos achar que seja nosso melhor (os serviços religiosos, as orações, o louvor, a penitente confissão do pecado) não pode ser aceito por Deus por ser originado nos “corruptos canais da humanidade”. Isso é tão abrangente que tornaria toda a perfeição de Cristo rejeitada por Deus, se Jesus também tivesse nossa mesma natureza humana: os corruptos canais da humanidade.

O texto ainda mostra que os méritos de Cristo não são manchados com a corrupção terrestre, assim como seriam os méritos da humanidade decaída. Se Jesus tivesse propensões para o pecado em Sua natureza humana, Ele próprio precisaria de um salvador para que Suas obras perfeitas pudessem ser aceitas por Deus como um sacrifício perfeito.

Os que entram numa linha de interpretação perfeccionista acabam por rejeitar textos muito simples e claros de Ellen White e se colocam num caminho de difícil retorno. Nas palavras da mensageira do Senhor: “Sentimo-nos tristes quando vemos professos cristãos desviarem-se pela falsa e fascinante teoria de que são perfeitos, porque é muito difícil desenganá-los e levá-los ao caminho reto. Eles procuram tornar lindo e aprazível o exterior, ao passo que o adorno interior – a mansidão e humildade de Cristo – lhes está faltando” (Santificação, p. 12).

O primeiro capítulo do livro Santificação compara a verdadeira e a falsa teorias de santificação. Ah, se houvesse humildade para se deixar guiar pelo Espírito Santo!

“Aqueles que estão realmente buscando o perfeito caráter cristão jamais condescenderão com o pensamento de que estão sem pecado. Sua vida pode ser irrepreensível; podem estar vivendo como representantes da verdade que aceitaram; porém, quanto mais consagram a mente para se demorar no caráter de cristo e mais se aproximam de Sua divina imagem, tanto mais claramente discernirão Sua imaculada perfeição e mais profundamente sentirão seus próprios defeitos” (Santificação, p. 7 e 8).

Várias verdades ficam claras nesse texto. Note duas das principais: (1) Quem busca a perfeição jamais ficará preocupado com a possibilidade de viver sem pecar. Essa preocupação não é dos que realmente buscam o caráter perfeito, mas dos perfeccionistas; (2) quem estiver mais próximo de Cristo descobrirá como tem defeitos e quão longe está da perfeição do Mestre.

“Mas aquele que está verdadeiramente procurando a santidade de coração e de vida, deleita-se na lei de Deus, e lamenta unicamente o fato de que fica muito aquém de satisfazer suas reivindicações” (Santificação, p. 81).

O que procura a santidade ama a lei de Deus, mas lamenta não satisfazer suas profundas reivindicações.

Os perfeccionistas, por outro lado, rejeitam a própria igreja como canal de luz. A igreja que surgiu para restaurar a verdade é vista por eles como ensinando heresias. Um posicionamento bastante problemático para eles próprios, à luz de Ellen White e da visão profética da missão da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

“Deus fez de Sua igreja na Terra um conduto de luz, e por intermédio dela comunica Seus desígnios e Sua vontade. Ele não dá a um de Seus servos uma experiência independente da experiência da própria igreja, ou a ela contrária. Nem dá a um homem um conhecimento de Sua vontade para toda a igreja, enquanto esta - corpo de Cristo - é deixada em trevas. Em Sua providência, Ele coloca Seus servos em íntima relação com a igreja, a fim de que tenham menos confiança em si mesmos, e mais em outros a quem Ele está guiando para levarem avante Sua obra” (Atos dos Apóstolos, p. 163).

“Deus está guiando um povo do mundo para a exaltada plataforma da verdade eterna - os mandamentos de Deus e a fé de Jesus. Disciplinará e habilitará Seu povo. Eles não estarão em divergência, um crendo uma coisa e outro tendo fé e opiniões inteiramente opostas, e movendo-se cada qual independentemente do conjunto” (Testemunhos Para Ministros, p. 29).

Que Deus abençoe os sinceros e que eles sejam humildes para retornar, caso estejam em erro.

(Vanderlei Ricken, formado em Biblioteconomia pela UFSC, é bibliotecário do Instituto Adventista Cruzeiro do Sul – IACS)

Leia a entrevista "A natureza humana de Jesus", com o Dr. Amir Rodor e faça o download da apresentação “Perfeição cristã” (clique aqui).

domingo, dezembro 05, 2010

Textos não inspirados na Bíblia?

A Bíblia ensina que toda a Escritura foi inspirada por Deus (2Tm 3:16). Mas em alguns trechos aparentemente é negada a inspiração divina (1Co 7:12, 25). Qual é a solução para essa aparente incoerência? – L.

Resposta:


Em 1 Coríntios 7:10 a 13, o apóstolo Paulo escreve: “Ora, aos casados, ordeno, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido (se, porém, ela vier a separar-se, que não se case ou que se reconcilie com seu marido); e que o marido não se aparte de sua mulher. Aos mais digo eu, não o Senhor: se algum irmão tem mulher incrédula, e esta consente em morar com ele, não a abandone; e a mulher que tem marido incrédulo, e este consente em viver com ela, não deixe o marido” (Almeida, Revista e Atualizada).

Alguns cristãos, ao lerem esse texto bíblico, concluem que Paulo faz diferença entre as coisas que ele disse inspirado por Deus e outras que não passam de opinião pessoal. A respeito daquilo que é inspirado, ele diz: “não eu, mas o Senhor”. Sobre sua opinião, ele declara: “eu, não o Senhor”.

A declaração de Paulo em 1 Coríntios 7:10 a 13 parece contradizer vários outros textos escritos pelo apóstolo. No mesmo capítulo, Paulo argumenta que seus ensinos são dignos de confiança porque ele possuía “o Espírito de Deus” (v. 40). Na mesma epístola, ele diz: “Falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito” (1Co 2:13). O apóstolo sabia que seus ensinos eram a Palavra de Deus, pois declara: “Ao receberem de nossa parte a palavra de Deus, vocês a aceitaram, não como palavra de homens, mas conforme ela verdadeiramente é, como palavra de Deus” (1Ts 2:13). Além disso, Paulo diz que “toda a Escritura é inspirada por Deus” (1Tm 3:16), e isso inclui o que ele mesmo escreveu (2Pe 3:16).

Como entender essa aparente contradição? Afinal, Paulo emitiu ou não opiniões pessoais que não vieram de Deus?

Os primeiros cristãos usavam as palavras “o Senhor ordena” ou expressões semelhantes para mencionar ensinos dados por Jesus nos evangelhos. Apenas dois capítulos depois de 1 Coríntios 7, Paulo escreve: “Da mesma forma, o Senhor ordenou àqueles que pregam o evangelho, que vivam do evangelho” (1Co 9:14). Essa é uma referência ao seguinte ensino de Jesus aos pregadores do evangelho: “Fiquem naquela casa, e comam e bebam o que lhes derem, pois o trabalhador merece o seu salário” (Lc 10:7; também citado por Paulo em 1Tm 5:18). Note que as palavras usadas são as mesmas: “ordeno, não eu, mas o Senhor” (1Co 7:10); “o Senhor ordenou” (1Co 9:14). As palavras são as mesmas também no texto original em grego: parangello (ordenar) e Kyrios (Senhor). É importante observar que, como regra, Paulo usa a palavra “Senhor” para Cristo, e não para Deus, o Pai (veja 1Co 4:5; 5:5; 6:14; 7:22; 8:6; 9:5; 11:20, 26, 27). Veja outro exemplo semelhante em 1 Coríntios 11:23-25.

Seguindo essa prática, quando Paulo escreve “não eu, mas o Senhor”, ele menciona uma ordem explícita dada pelo Senhor Jesus nos evangelhos. O apóstolo cita os ensinos de Jesus sobre divórcio e novo casamento quase palavra por palavra (veja Mt 5:32; 19:3-9; Mc 10:2-12; Lc 16:18). Por outro lado, Jesus não havia dado nenhuma ordem sobre os cristãos que possuíam um cônjuge que não partilhava da mesma fé. É por isso que Paulo escreve: “digo eu, não o Senhor” (1Co 7:12).

Devemos nos lembrar da mesma prática para entender 1 Coríntios 7:25, que diz: “Quanto às pessoas virgens, não tenho mandamento do Senhor, mas dou meu parecer como alguém que, pela misericórdia de Deus, é digno de confiança.” A respeito de virgens, Jesus também não havia deixado nenhum ensino. Nesse texto, a versão Almeida Revista e Atualizada usa a palavra “opinião”; mas a melhor maneira de traduzir é “parecer” (Nova Versão Internacional, Reina Valera-1995) ou “julgamento” (New International Version, American Standard Version, New King James Version). Paulo não estava emitindo apenas uma “opinião” pessoal, mas um “parecer” ou “julgamento” “digno de confiança” e inspirado por Deus.

Portanto, 1 Coríntios 7:12 não contradiz os textos que declaram que todos os ensinos de Paulo contidos na Bíblia são inspirados por Deus (1Co 2:13; 1Ts 2:13; 1Tm 3:16). Além disso, esse versículo não apoia a ideia de que alguns textos bíblicos são mera opinião do autor, sem inspiração de Deus.

Os textos bíblicos foram extraídos da Nova Versão Internacional, salvo outra indicação.

(Matheus Cardoso é editor associado da revista Conexão JA e editor assistente de livros na Casa Publicadora Brasileira; colabora na seção “Perguntas” do blog www.criacionismo.com.br)

sexta-feira, dezembro 03, 2010

O dia da morte de Jesus

Gostaria que fosse analisada a questão do dia da morte de Cristo ser no dia 15 e não 14 de Nisã, e como explicar a não necessidade de Ele ter morrido no mesmo dia em que se sacrificava o cordeiro pascal (14, antes do crepúsculo). E também sobre o aparente equívoco de Ellen G. White ter dito que “no segundo dia da festa [dos pães asmos], as primícias da ceifa do ano eram apresentadas perante Deus” (Patriarcas e Profetas, p. 539; ou O Desejado de Todas as Nações, p. 77). – M.

Resposta:


Astronomicamente falando, só é possível no ano 31 d.C. uma sexta-feira 15 de Nisã. O mês anterior havia começado em 13/14 de março, pôr do sol a pôr do sol. Os meses lunares só podem ter 29 ou 30 dias. Usando todos os 30 dias possíveis num mês, chegamos a 12/13 de abril, pôr do sol a pôr do sol, como 1º de Nisã. Portanto, 14 de Nisã caiu na quinta-feira, 26 de abril, e Cristo morreu na sexta-feira, 27 de abril, dia 15 de Nisã.

Parece haver uma tensão entre João e os sinóticos quanto a este assunto. O evangelho de João parece sugerir que Cristo morreu em 14 de Nisã, enquanto os sinóticos sugerem que Ele morreu em 15 de Nisã.

O cordeiro pascal era morto em 14 de Nisã antes do pôr do sol, e comido, com pães asmos e ervas amargas, após o pôr do sol, isto é, em 15 de Nisã (Êx 12:6, 8), ocasião em que começava a festa dos pães asmos.

As três passagens nos sinóticos (Mt 26:17, Mc 14:12 e Lc 22:7) dizem que os discípulos prepararam a Páscoa para Cristo no primeiro dia dos pães asmos (isto é, Nisã 14/início de Nisã 15). Uma vez que Cristo comeu a Páscoa no dia correto, Ele não pode ter morrido em 14 de Nisã.

Não há forma de se interpretar o primeiro dia dos pães asmos como sendo um dia diferente. Portanto, não há como achar outra explicação para o que os sinóticos dizem. Dessa forma, é mais fácil se achar outra explicação para as passagens problemáticas de João.

Ellen White ainda confirma: “No cenáculo de uma morada de Jerusalém, achava-Se Cristo à mesa com os discípulos. Tinham-se reunido para celebrar a páscoa. O Salvador desejava celebrar essa festa a sós com os doze. Sabia que era chegada a Sua hora; Ele próprio era o Cordeiro pascoal, e no dia em que se celebrava [comia] a páscoa, devia ser sacrificado” (O Desejado de Todas as Nações, p. 642).

No original em inglês, o verbo é comer, não celebrar. O que é dito aqui é que Cristo devia ser sacrificado, não no dia em que o Cordeiro era sacrificado, mas no dia em que ele era comido.

Quanto ao fato de não haver necessidade de Cristo ter morrido no dia da Páscoa: o Calvário é o antítipo de todos os sacrifícios do Antigo Testamento. Como tal, ele cumpriu o aspecto sacrifical de todas as festas, e não só da Páscoa. Assim, ele cumpriu o aspecto sacrifical do Dia da Expiação, por exemplo (o sacrifício do cordeiro para fazer expiação pelo santuário e pelos pecados do povo), mas para isso não era necessário que a morte de Cristo ocorresse no Dia da Expiação. O mesmo se aplica à Páscoa. Ademais, Ellen White declara que a morte de Cristo ocorreu no momento do sacrifício diário, não no momento do sacrifício da Páscoa (O Desejado de Todas as Nações, p. 756, capítulo “O Calvário”).

Deve ser lembrado, também, que o cordeiro pascal não era o único tipo de Cristo durante a festa da Páscoa; o pão asmo também era um tipo de Cristo, e o pão asmo estava relacionado a 15 de Nisã, não a 14 de Nisã. E, no memorial que Cristo nos deixou de Sua morte, Ele escolheu o simbolismo do pão asmo para representar Seu corpo.

Quanto às declarações de Ellen White:

Os judeus ortodoxos dizem que o dia das primícias é 16 de Nisã. Contudo, a Bíblia não liga o número 16 a esse dia. Ela diz que o molho da oferta movida devia ser apresentado “no dia imediato ao sábado” (Lv 23:15). A palavra “sábado” aqui se refere ao sábado semanal ou ao sábado cerimonial do primeiro dia dos pães asmos? A primeira era a posição, principalmente, dos saduceus, e a segunda, a posição, principalmente, dos fariseus da escola de Hillel. Hoje em dia, a primeira posição é a dos caraítas, e a segunda, dos judeus ortodoxos.

“Contareis para vós outros desde o dia imediato ao sábado, desde o dia em que trouxerdes o molho da oferta movida; sete semanas inteiras serão. Até ao dia imediato ao sétimo sábado, contareis cinquenta dias; então, trareis nova oferta de manjares ao Senhor” (v. 15, 16).

O nome “Pentecostes” surge justamente do fato de que a Bíblia não dá uma data marcada para essa festa, mas a descreve como ocorrendo após a contagem de sete semanas após a apresentação da oferta da cevada, sendo que o Pentecostes cai no 50º dia (Lv 23:15-20). A contagem deve começar “desde o dia imediato ao sábado” (Lv 23:15). Se tomarmos a posição de que a palavra “sábado” significa sábado cerimonial, nos vemos diante de um sério problema, porque há apenas um sábado cerimonial (21 de Nisã), e não sete, entre 15 de Nisã e o 50º dia (Pentecostes). Então, quando a Bíblia diz, “até ao dia imediato ao sétimo sábado”, a lógica é que esteja se referindo ao sábado semanal.

Então, como Ellen White declara em Patriarcas e Profetas, p. 539, e O Desejado de Todas as Nações, p. 77, que os primeiros frutos deviam ser apresentados no segundo dia da festa?

Se ela declara que Cristo devia ser sacrificado no dia em que a Páscoa era comida, isso significa que sexta-feira foi 15 de Nisã; mas se o dia em que os primeiros frutos deviam ser apresentados (e em que Cristo devia ressuscitar dos mortos) era o segundo dia da festa, ou seja, 16 de Nisã, então Ele devia ter ressuscitado no sábado, e não no domingo. Alguém escreveu a Ellen White sobre essa contradição, e seu secretário deu a seguinte resposta:

“Quando essas perguntas chegam à Irmã White, ela frequentemente diz que o Senhor lhe deu a obra de escrever o que ela escreveu, mas não de tentar explicar todas as passagens aparentemente difíceis. Se ela fosse assumir o fardo de harmonizar passagens aparentemente contraditórias, não teria tempo para fazer o trabalho regular que lhe foi designado de escrever as palavras de instrução e admoestação que escreve para a igreja. Portanto, ela apela a seus irmãos que estudem as Escrituras, e comparem seus escritos com as Escrituras, e com outras porções de seus próprios escritos, e assim procurem descobrir, se possível, a harmonia que existe” (Carta de C. C. Crisler, secretário de Ellen White, ao pastor R. W. Munson, da União Australasiana, 27 de novembro de 1908).

O que é muito possível que tenha ocorrido é que as palavras de Josefo e Filo (o primeiro, declaradamente fariseu; o segundo, aparentemente) tenham influenciado as palavras usadas por Ellen White. Porém, não devemos nos esquecer de que ela mudou algumas palavras e frases inexatas na revisão do livro O Grande Conflito. Portanto, não é impossível que algum pequeno detalhe impreciso tenha escapado em alguma parte de seus escritos, por influência de alguma fonte utilizada. Assim, devemos comparar seus escritos entre si e com a Bíblia, buscando a melhor harmonia possível.

(Rosângela Lira)

O “dia longo” de Josué mudou o dia de guarda?

Como Deus realizou um milagre em favor de Josué “segurando” o Sol por quase um dia, o sábado passou a ser sexta-feira? – M.

Resposta:


Primeiramente, é bom lembrar que Jesus, o Filho de Deus, intérprete autorizado das Escrituras, guardou o sábado do sétimo dia quando esteve aqui na Terra. Portanto, qualquer que tenha sido o fenômeno que ocorreu nos dias de Josué, certamente não afetou o ciclo semanal. O dia pode ter sido mais longo, mas não foram dois dias – terminou ao pôr do sol, e só aí veio um novo dia.

Parece não haver relato desse fenômeno nos registros de nenhum outro povo distante, portanto, é possível que talvez tenha se tratado de um fenômeno local.

Leia mais sobre questões relacionadas ao sábado aqui (em inglês).

quarta-feira, dezembro 01, 2010

O sábado está sendo guardado no dia correto?

Há um grupo chamado World’s Last Chance (WLC) dizendo que o calendário lunar foi estabelecido por Deus e o calendário gregoriano, pela Igreja Católica com o objetivo de mudar os tempos e as leis. De acordo com essas pessoas, a Igreja Adventista teve “medo” de divulgar essa “verdade” depois do grande desapontamento de 1844. Dizem que não estamos adorando a Deus, o Criador, no dia estabelecido por Ele durante a semana da criação, ou seja, estamos adorando em um dia qualquer. Desde já agradeço a atenção e aguardo ansioso sua resposta. – S.

Resposta:

Essas pessoas afirmam que o sábado não é o sétimo dia do ciclo semanal, mas o sétimo dia do “calendário lunissolar” proposto por eles, sendo que o primeiro dia do mês (“lua nova”) e o último dia do mês precedente – caso este tenha tido 30 dias – são considerados “não-dias”. Assim, o “sábado” seria sempre o 8º, 15º, 22º e 29º dias do mês nesse calendário.

Em www.worldslastchance.com/wlc-challenge.html é apresentada uma série de pressuposições que na verdade são falsas. Logo no início, é dito que “o primeiro dia da festa dos pães asmos era no dia 15 [do mês de abibe], que era um sábado”. A WLC afirma que esse era um sábado semanal, e a única “prova” que apresentam disso é o argumento de que nesse dia havia uma “santa convocação”. Ora, esse argumento não tem validade nenhuma, porque havia “santa convocação” não só no sábado semanal, mas em todos os sábados cerimoniais. Assim, havia santa convocação também no sétimo dia da festa dos pães asmos (Lv 23:8), na festa das primícias ou pentecostes (Lv 23:20, 21), na festa das trombetas (Lv 23:24), no dia da expiação (Lv 23:27), e no primeiro e último dias da festa dos tabernáculos (Lv 23:34-36). Destes, eles consideram que o dia 15 do primeiro mês e os dias 15 e 22 do sétimo mês eram sábados semanais. Baseados em quê?

Para sustentar suas pressuposições, dizem ainda que “Israel saiu do Egito na noite de 15 de abibe” (já que consideram que o dia 15 era um sábado). A Bíblia diz: “Aconteceu que, ao cabo dos quatrocentos e trinta anos, nesse mesmo dia, todas as hostes do Senhor saíram da terra do Egito. Esta noite se observará ao Senhor, porque, nela, os tirou da terra do Egito; esta é a noite do Senhor, que devem todos os filhos de Israel comemorar nas suas gerações. Disse mais o Senhor a Moisés e a Arão: Esta é a ordenança da Páscoa: nenhum estrangeiro comerá dela” (Êx 12:41-43). A Bíblia é clara em dizer que os israelitas saíram nesse mesmo dia. Que dia? Ora, o dia 15 de abibe. Se tivessem saído à noite, já não seria dia 15 de abibe, mas 16 (já que o novo dia se inicia ao pôr-do-sol). E que noite é essa, em que a Bíblia diz que Deus “os tirou da terra do Egito”? A noite que “se observará ao Senhor”, e, portanto, a noite do dia 15, em que o povo comeu a Páscoa, e não a do dia 16. Não há como escapar ao fato de que os israelitas saíram em sua jornada no dia 15 e, portanto, que esse dia não poderia ser um sábado.

Outras “provas” são acrescentadas que absolutamente não são provas. Por exemplo, o argumento de que o maná cessou no dia 16 de abibe e que, portanto, o dia anterior seria um sábado semanal em que o maná não caiu. Qual a lógica desse argumento? Nenhuma. O maná cessou no dia 16 porque no dia 15 eles já comeram pães asmos feitos com o fruto da terra.

Outra “prova”, retirada do livro de Ester, diz que “o 15º dia do 12º mês foi um dia de descanso, o que torna o 8º, 22º e 29º dias, dias de descanso também”. O que a Bíblia diz é que uma parte dos judeus fez do dia 14 um dia de banquetes e de alegria pela vitória sobre seus inimigos, e que os judeus de Susã fizeram isso no dia 15. Então, “Mordecai [...] enviou cartas a todos os judeus que se achavam em todas as províncias do rei Assuero, [...] ordenando-lhes que comemorassem o dia catorze do mês de adar e o dia quinze do mesmo, todos os anos, como os dias em que os judeus tiveram sossego dos seus inimigos” (Et 9:20-22). Dois dias foram instituídos como feriados, e isso não tem nada a ver com o sábado.

O calendário dos judeus era realmente lunissolar, mas esse calendário seguia o ciclo semanal normalmente e não havia nenhum dia considerado “não-dia” da semana. O mês começava quando a estreita faixa de lua nova era avistada; os meses eram lunares, de 29 ou 30 dias. Como isso perfazia apenas cerca de 354 dias no ano, ou seja, deixava o ano cerca de 11 dias mais curto, a fim de manter o ano em harmonia com as estações, um mês adicional era intercalado cada vez que a cevada ainda não estava madura para a Páscoa. Assim, o calendário lunar era mantido em harmonia com o ano solar, e, portanto, o calendário era lunissolar.

Aqui é dito que em 31 d.C. “não se tem e não se pode ter uma crucifixão na sexta-feira”. Isso é totalmente contestado no livro Chronological Studies Related to Daniel 8:14 and 9:24-27, de Juarez Rodrigues de Oliveira. A crucifixão é possível em 31 d.C., não, porém, numa sexta feira, 14 de abibe/nisã, mas numa sexta-feira 15.

Com base nesse “problema”, tomam uma carta de M. L. Andreasen para Grace Amadon e dizem que ele argumentou contra a adoção de um calendário em que o sábado “flutuava” ao longo da semana moderna, calendário este que estava sendo advogado por alguns da comissão. O problema não era esse. Na carta, Andreasen argumenta contra a adoção de um calendário como o que era usado nos tempos bíblicos, porque “embora o esquema proposto não afete de maneira alguma a sucessão dos dias da semana, e, portanto, não afete o sábado” (o que é justamente o contrário do que a WLC afirma que ele disse), a adoção de um calendário assim pela igreja causaria confusão, porque, devido ao fato de o crescente lunar, que marca o início do mês, se tornar visível em dias diferentes nas diversas localidades, as pessoas dessas diversas localidades poderiam começar seus meses em dias diferentes (por exemplo, cidades vizinhas poderiam estar, uma no último dia de um mês, outra já no primeiro dia do outro).

Os guardadores do sábado lunar estão divididos quanto ao que fazer nos dias 30 de um mês e 1º do mês seguinte, que são os dias da “festa da lua nova”. Alguns descansam nesses dias, considerando-os uma extensão do sábado do dia 29; outros se abstêm apenas de atividades comerciais e emprego remunerado, mas podem realizar outras tarefas comuns. Então, na última semana do mês, (1) no primeiro caso, trabalham seis dias e descansam três (em vez de um); (2) no segundo caso, trabalham sete ou oito dias (em vez de seis), antes de descansar um dia. Com qualquer dos dois métodos, o mandamento do Criador de que se trabalhasse seis dias e se descansasse no sétimo é violado. (Confira aqui.)

(Rosangela Lira)

sexta-feira, novembro 26, 2010

Existem erros na Bíblia?

Os cristãos, ao longo dos séculos, têm aceitado a Bíblia Sagrada como a Palavra da verdade. Porém, especialmente desde o Iluminismo no século 17, muitos estudiosos afirmam que a Bíblia contém uma variedade de erros – equívocos doutrinários, erros científicos, contradições, discrepâncias relacionadas a nomes e números, bem como linguagem imprecisa. Antes de analisar essa ideia, precisamos compreender qual é a origem da Bíblia. De acordo com o próprio testemunho das Escrituras, “toda a Escritura é inspirada por Deus” (2Tm 3:16). Pedro afirmou que “nenhuma mensagem profética veio da vontade humana” (2Pe 1:21, Nova Tradução na Linguagem de Hoje). Essa verdade não se limita ao Antigo Testamento, porque os apóstolos consideravam sua mensagem como possuindo autoridade divina. Paulo, por exemplo, escreveu: “Ao receberem de nossa parte a palavra de Deus, vocês a aceitaram, não como palavra de homens, mas conforme ela verdadeiramente é, como palavra de Deus” (1Ts 2:13, Nova Versão Internacional).

A Bíblia foi dada por inspiração de Deus, mas os escritores bíblicos não foram meramente a pena ou caneta (instrumento de escrita) de Deus, e sim verdadeiros autores. Em outras palavras, eles escreveram os 66 livros da Bíblia usando seu próprio estilo pessoal, linguagem e forma de pensar – mas tudo sob a direção do Espírito Santo. Todos os livros da Bíblia, portanto, carregam as marcas da autoria humana. Podemos considerar isso como “o rosto humano da Bíblia”.

Alguns livros, tais como Reis, Crônicas e o evangelho de Lucas afirmam claramente que foram escritos por meio de pesquisa histórica (1Rs 22:39, 45; 1Cr 29:29; Lc 1:1-4). Alguns escritores bíblicos chegam a citar autores pagãos (At 17:28) e Judas parece se referir a um livro não inspirado (Jd 14, 15).

Existem vários outros elementos desse “rosto humano” da Bíblia:

Linguagem

Ao lidar com declarações bíblicas, precisamos nos lembrar de que os escritores bíblicos frequentemente utilizam linguagem não técnica, comum, do dia a dia, para descrever o que aconteceu. Por exemplo, eles falam sobre nascer do sol (Nm 2:3; Js 19:12) e pôr do sol (Dt 11:30; Dn 6:14), ou seja, utilizavam a linguagem baseada na observação e não uma linguagem científica precisa. Não podemos ler esses textos e concluir que a Bíblia ensina que o Sol gira em torno da Terra. Mesmo cientistas e outros estudiosos usam essa linguagem popular em seu dia a dia. Portanto, imprecisão técnica não significa erro ou mentira.

Recursos literários

Os escritores bíblicos utilizavam também diferentes recursos literários, tais como poesia, parábolas, metáforas, símbolos, etc. Muitos livros bíblicos, especialmente no Antigo Testamento, são narrativas históricas; outros contêm textos jurídicos, ditos de sabedoria ou profecias apocalípticas. Diferentes tipos de materiais exigem diferentes métodos de interpretação; portanto, distinguir esses recursos literários nas Escrituras ajuda a evitar interpretações equivocadas. Não seria correto entender ao pé da letra uma metáfora e dizer que determinado texto bíblico contém um erro.

Costumes antigos

Muitas passagens bíblicas refletem costumes antigos, e conhecê-los pode ser muito útil para interpretar um texto. Por exemplo, na Antiguidade era comum dar diferentes nomes à mesma pessoa. Assim, Esaú também era conhecido como Edom, e Gideão como Jerubaal.

Outro exemplo é que eram utilizados diferentes métodos para contar o período de governo dos reis. Durante muito tempo, aqueles que não acreditavam na Bíblia calculavam a duração de governo dos reis de Israel e Judá e encontravam várias contradições. Até que, em 1943, o estudioso adventista Edwin Thiele conclui sua tese doutoral na Universidade de Chicago e mostrou que as informações bíblicas estão em perfeita harmonia com os métodos de contagem antigos.[1]

A transmissão dos manuscritos bíblicos

É um fato bastante conhecido que todos os manuscritos originais dos autores bíblicos se perderam. Embora os judeus fossem muito cuidadosos ao copiar os manuscritos bíblicos, ocorreram alguns erros de escrita ao longo do processo de transmissão e cópia dos manuscritos. No entanto, esses erros são tão insignificantes que nenhuma pessoa honesta precisa ficar confusa ou entender a Bíblia de maneira errada. Em realidade, a Bíblia é o documento mais bem transmitido e preservado da Antiguidade. Nenhum livro antigo foi tão bem preservado quanto a Bíblia, em que algumas cópias foram produzidas poucos anos depois que o original foi escrito.[2]

Durante o período em que a Bíblia era copiada a mão, surgiram várias discrepâncias entre os manuscritos. Por isso, alguns manuscritos dizem que Davi tomou 700 cavaleiros de Hadadezer, enquanto outros dizem que foram 1.700 (2Sm 8:4). Já outro texto bíblico afirma que foram 7 mil (1Cr 18:3, 4). A origem desse problema é que esses números têm um som muito parecido em hebraico. Quando um escriba ditava o texto para outro, às vezes surgia essa confusão. É importante observarmos, no entanto, que esses erros nunca estão relacionados à mensagem ou às doutrinas da Bíblia, mas apenas a detalhes periféricos, como números e nomes de pessoas.

Algumas dessas discrepâncias possuem explicações perfeitamente satisfatórias; outras podem ter sua origem nos erros dos copistas. Quase todos os supostos “erros” da Bíblia podem ser explicados pelas razões acima.

A Bíblia é confiável

Na Bíblia existem pequenas discrepâncias do ponto de vista técnico de nossos dias, mas isso não significa que ela não seja confiável sobre a história e os fatos que descreve. Não podemos questionar a historicidade de Gênesis capítulos 1 a 11, as histórias dos patriarcas ou os eventos relatados nos livros proféticos ou nos evangelhos. A fé cristã é histórica no sentido de que ela depende essencialmente daquilo que, de fato, aconteceu (veja 1Co 15:12-22).

Os aspectos históricos da Bíblia, portanto, não podem ser separados de seu conteúdo teológico. Em realidade, “remover o aspecto histórico das Escrituras é remover o que demonstra a fidelidade de Deus”, porque Deus atua na história.[3] Jesus Cristo e os apóstolos aceitavam como verdadeiros os eventos históricos registrados no Antigo Testamento, inclusive os relatos sobre Adão e Noé (Mt 19:4, 5; 24:37; At 24:14; Rm 15:4), porque esses e os demais eventos históricos são parte da história da salvação apresentada na Bíblia.

Conclusão

Existem erros na Bíblia? Se “erro” quer dizer que a Bíblia não utiliza a linguagem moderna, científica ou técnica, então podemos dizer que ela contém erros. Mas isso seria impor sobre a Bíblia um conceito estranho a ela e que é irreal até mesmo para o nosso dia a dia. Mas se “erro” significa que a Bíblia ensina mentiras em sua mensagem ou sobre a história humana, a resposta é: “Não, a Bíblia não contém erros.” A Bíblia é a revelação da verdade e vontade de Deus. Muitos dos assim chamados “problemas” da Bíblia não estão com o texto bíblico, mas com o leitor.

Sem dúvida, encontramos declarações desafiadoras e mesmo discrepâncias em detalhes na Bíblia. Mas nenhuma delas interfere no ensino e confiabilidade histórica das Escrituras. Podemos estar certos de que a Bíblia que temos em nossas mãos é a verdade de Deus e que ela pode nos tornar sábios para a salvação.

(Frank M. Hasel, Ph.D., é professor de Teologia no Seminário de Bogenhofen, Áustria. Fonte: Gerhard Pfandl, ed., Interpreting Scripture: Bible Questions and Answers, Biblical Research Institute Studies, v. 2 [Silver Springs, MD: Biblical Research Institute, 2010], p. 33-41. Traduzido e adaptado por Matheus Cardoso.)

Referências:

[1] Edwin R. Thiele, The Mysterious Numbers of the Hebrew Kings, 3ª edição (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1983).
[2] Sobre os manuscritos do Novo Testamento, veja Wilson Paroschi, Crítica Textual do Novo Testamento (São Paulo: Vida Nova, 1999).
[3] Noel Weeks, The Sufficiency of Scripture (Edimburgo: Banner of Truth, 1988), p. 50.

Leia também: "A Bíblia Sagrada é inerrante?"

terça-feira, novembro 09, 2010

Nome de Deus, gigantes e filhas e filhos de Deus

Qual a origem e o significado do nome “Deus”? E quem são os gigantes mencionados na Bíblia? Seriam filhos de mulheres que tiveram relações sexuais com anjos? – B.

Prezada B., sua primeira pergunta é sobre a origem e significado da palavra “Deus”. Em português, essa palavra vem do latim Deus e divus. Essas palavras em latim e a palavra em grego διϝος (leia teós), que significa “divino” vêm do Proto-Indo-Europeu deiwos, que significa “divino”, “resplandecente”, “luminoso”. O Antigo Testamento foi escrito em hebraico e, nesse idioma, a palavra “Deus” é אל (leia El), que significa “elevado”, “poderoso”.

A sua segunda pergunta é sobre os gigantes mencionados em Gênesis 6. Muitos acreditam que, quando os “filhos de Deus” e as “filhas dos homens” tiveram relações sexuais, os filhos deles nasceram gigantes. Em Gênesis 6:4, lemos: “Ora, naquele tempo havia gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos; estes foram valentes, varões de renome, na antiguidade.” A Nova Tradução na Linguagem de Hoje diz: “Havia gigantes na terra naquele tempo e também depois, quando os filhos de Deus tiveram relações com as filhas dos homens e estas lhes deram filhos. Esses gigantes foram os heróis dos tempos antigos, homens famosos.” Observe que os gigantes existiam antes e “também depois” que os “filhos de Deus” tiveram relações com as “filhas dos homens”. Então, não foi a relação entre os dois grupos que produziu os gigantes. Gênesis 6:4 simplesmente descreve como eram as pessoas daquele tempo: no original em hebraico diz “nefilim”, que significa pessoas fortes, altas, realmente “heróis”.

Na sua pergunta, você sugere que os “filhos de Deus” seriam anjos. Essa é uma ideia muito comum, mas, se estudarmos melhor a Bíblia, veremos que existe uma explicação melhor. Os “filhos de Deus” não poderiam ser anjos, porque anjos são seres espirituais (Hb 1:14) e não têm relações sexuais (Mt 22:30; Mc 12:25; Lc 20:34-36). Se estudarmos o contexto (os capítulos próximos) de Gênesis 6, veremos que os “filhos de Deus” eram os descendentes de Sete, fiéis a Deus (Gn 5) e as “filhas dos homens” eram descendentes de Caim, rebeldes contra Deus (Gn 4:1-24). Depois que houve essa união entre os dois grupos, que foi reprovada por Deus, apenas Noé e sua família permaneceram leais a Deus (Gn 6:8-10). Veja mais sobre esse assunto nos seguintes estudos: “Filhos e filhas de Deus”, de Alberto R. Timm e “Os ‘filhos de Deus’ em Gênesis 6:1-4”, de Reinaldo W. Siqueira.

(Matheus Cardoso é editor associado da revista Conexão JA e editor assistente de livros na Casa Publicadora Brasileira; colabora na seção “Perguntas” do blog www.criacionismo.com.br)

sexta-feira, novembro 05, 2010

O que o Antigo Testamento diz sobre o Messias?

Durante a história, muitos judeus têm afirmado ser o Messias prometido no Antigo Testamento. Todos esses tiveram seguidores, mas logo o movimento deles desapareceu. Por que Jesus de Nazaré é o único Messias que ainda tem seguidores? Por que muitos judeus de Sua época acreditavam que Ele cumpria as profecias antigas? Este artigo é uma adaptação de dois textos preparados por Jacques Doukhan, intitulados “O Messias – por que e como?” e “O Messias – quando e quem?”. Doukhan é um estudioso judeu que acredita que Jesus é o Messias. Depois de estudar em um seminário teológico rabínico (yeshiva), ele concluiu dois doutorados (D.H.L. e Th.D) em Bíblia Hebraica e cultura judaica. Atualmente, ele é professor de Bíblia Hebraica e diretor do Instituto de Estudos Judaico-Cristãos na Andrews University, Estados Unidos. Ele é reconhecido por judeus e cristãos.

O estudo a seguir está organizado em perguntas e respostas. Nas respostas, são citados textos do Antigo Testamento e antigos comentários judaicos. A tradução bíblica usada é a Nova Versão Internacional, salvo outra indicação. O nome próprio de Deus, Yahweh, é mencionado como SENHOR, tanto na Bíblia quanto na literatura judaica. “O Santo” é outra maneira pela qual os judeus se referiam a Deus.

1. Por que existe a necessidade de um Messias?

Deus disse a Adão e Eva: “Mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá” (Gn 2:17). Devido ao pecado, merecemos a morte e não há nada que possamos fazer para salvar a nós mesmos. “Depois de expulsar o homem, [Deus] colocou a leste do jardim do Éden querubins e uma espada flamejante que se movia, guardando o caminho para a árvore da vida” (Gn 3:24).

A crença na vinda do Messias é central para a fé judaica. O artigo de fé (em hebraico, Yigdal) nº 12 de Maimônides afirma: “[Deus] finalmente enviará Seu Messias para redimir aqueles que esperam e aguardam o fim.” Esse artigo se tornou o “Hino dos Mártires” (Ani Maamin) durante o Holocausto nazista.

A esperança messiânica é a esperança mais antiga de Israel. Em Gênesis 49:10, Jacó abençoa a Judá e fala sobre a vinda de Siló (o Messias). O texto hebraico diz: “O cetro não se arredará de Judá, nem bastão de entre seus pés, até que os homens venham a Shiloh, e a Ele será a obediência dos povos” (Bíblia da Jewish Publication Society).

Números 24:17 afirma: “Eu O vejo, mas não agora; eu O avisto, mas não de perto. Uma estrela surgirá de Jacó; um cetro se levantará de Israel. Ele esmagará as frontes de Moabe e o crânio de todos os descendentes de Sete.” A estrela representa a vinda do Messias. É interessante notar que a estrela de David (Magen David), que se tornou o emblema de Israel, é o símbolo da esperança messiânica.

2. Qual foi a primeira promessa de Deus para a humanidade?

Deus disse à serpente: “Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente [ou semente ou filho] dela; Este lhe ferirá a cabeça, e você Lhe ferirá o calcanhar” (Gn 3:15).

A luta com o mal (yetser ha-ra) terminará graças à vinda do Messias, porque “em seguida, o Santo (bendito seja) vai matar o mal” (Sukkah 52a).

A ideia de “descendente” ou “semente” é muito importante nas Escrituras hebraicas. Deus prometeu a Abraão e Jacó uma descendência formada por reis, que abençoaria a todas as nações da Terra (Gn 17:6, 16; 35:11). A esperança dos israelitas era de que um descendente de Davi seria o Rei eterno (Sl 2; 72; 89:4, 20, 24-29, 36; 110:1, 4).

3. Quem é representado pelo “descendente” da mulher em Gênesis 3:15?

“O SENHOR disse ao meu Senhor: ‘Senta-Te à Minha direita até que Eu faça dos Teus inimigos um estrado para os Teus pés’. [...] O SENHOR jurou e não Se arrependerá: ‘Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque’” (Sl 110:1, 4).

O descendente da mulher é o Rei e sacerdote eterno. É interessante observar que, durante a história de Israel, a classe dos reis e dos sacerdotes sempre permaneceu separada. Jamais houve alguém que fosse, ao mesmo tempo, rei e sacerdote. Apenas o Messias ocuparia as duas funções.

4. Como sabemos que a “semente” da mulher em Gênesis 3:15 representa um indivíduo?

“Novamente Adão teve relações com sua mulher, e ela deu à luz outro filho, a quem chamou Sete, dizendo: ‘Deus me concedeu um filho no lugar de Abel, visto que Caim o matou’” (Gn 4:25).

Gênesis 3:15 e 4:25 possuem palavras em comum em hebraico: “descendente” ou “filho”, “mulher”. Isso mostra que existe ligação entre os dois textos. Assim como, em Gênesis 4:25, o “descendente” é um indivíduo (nesse caso, Caim), assim também em Gênesis 3:15.

Em Gênesis 3:15, quem fere a cabeça da serpente é mencionado como “Ele”. Os antigos rabinos que produziram a Septuaginta (tradução grega das Escrituras hebraicas) traduziram a palavra como autós, que é usado somente para a terceira pessoa singular masculina.

Em outras palavras, a tradução literal é aquela citada na pergunta 2: “Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente [ou semente ou filho] dela; Este [ou Ele] lhe ferirá a cabeça.”

Uma recente tese doutoral mostra que Gênesis 3:15 tem o seguinte sentido: “Porei inimizade entre você [o tentador, singular] e a mulher [singular, Eva], entre a sua descendência [coletivo plural, todos os seguidores do tentador] e a descendência [coletivo plural, todos aqueles que seguem a Deus] dela; Ele [o Messias, singular] lhe ferirá a cabeça, e você [o tentador, singular] Lhe [ao Messias, singular] ferirá o calcanhar (Afolarin Olutunde Ojewole, “The Seed in Genesis 3:15: An Exegetical and Intertextual Study” [tese de Ph.D, Andrews University, 2002]).

5. Quem é representado pela serpente?

“Naquele dia, o SENHOR, com Sua espada severa, longa e forte, castigará o Leviatã, serpente veloz, o Leviatã, serpente tortuosa; matará no mar a serpente aquática” (Is 27:1).

“Depois disso Ele [Deus] me mostrou o sumo sacerdote Josué diante do Anjo do SENHOR, e Satanás, à sua direita, para acusá-lo. O Anjo do SENHOR disse a Satanás: ‘O Senhor o repreenda, Satanás! O Senhor que escolheu Jerusalém o repreenda! Este homem não parece um tição tirado do fogo?’” (Zc 3:1, 2).

De acordo com os rabinos, a serpente, Satanás e yetser ha-ra (o tentador) representam o mesmo poder do mal (Baba Bathra 16a).

6. Como o Messias realizaria a salvação, de acordo com Gênesis 3:15?

“O SENHOR Deus fez roupas de pele e com elas vestiu Adão e sua mulher” (Gn 3:21). A primeira morte (um sacrifício) ocorreu como resultado do pecado. Em hebraico, existe um jogo de palavras (trocadilho) em Gênesis 3:15. “Ferir a cabeça” e “ferir o calcanhar” indica que a serpente seria morta quando o descendente da mulher realizasse um “sacrifício” e Ele mesmo morresse para nos libertar do mal.

7. Segundo o ritual de sacrifício, como o Messias realizaria a salvação?

“Assim o sacerdote fará propiciação [purificação do pecado] em favor dele por qualquer desses pecados que tiver cometido, e ele será perdoado. O restante da oferta pertence ao sacerdote, como no caso da oferta de cereal” (Lv 5:13).

Os rabinos acreditavam que os sacrifícios estavam relacionados ao Messias. “O rabi Eleazar disse em nome do rabi Josei: ‘Essa é uma halakhá [lei tradicional] a respeito do Messias’” (Zebahim 44b, Sanhedrin 51b).

“Por que o templo sagrado é chamado de Líbano (o branco)? Porque ele embranquece os pecados de Israel” (Yoma 39).

8. Como a Bíblia descreve a natureza sobrenatural e sobre-humana do Messias?

“Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os Seus ombros. E Ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz” (Is 9:6).

“E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Mq 5:2, Almeida Revista e Atualizada).

“Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na Terra. Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel habitará seguro; será este o Seu nome, com que será chamado: SENHOR, Justiça Nossa” (Jr 23:5, 6).

O Talmude explica o seguinte sobre Jeremias 23:5 e 6: “O Messias terá o nome do Santo (bendito seja), pois é dito em Jeremias: ‘Será este o Seu nome, com que será chamado: O SENHOR Justiça Nossa’” (Talmude b. Baba Bathra 75b).

Sobre Miqueias 5:2, o Talmude declara: “E tu, Belém Efrata, que tem sido muito pequena para ser contada entre os milhares da casa de Judá, de ti sairá o Messias que reinará sobre Israel, e cujo nome tem sido pronunciado desde a eternidade” (Targum de Jonatã). Em hebraico, ter o “nome” pronunciado significa ter existência.

As Escrituras hebraicas mostram que Deus pode tomar a forma que desejar: tocha de fogo (Gn 15:17, 18); nuvem e coluna de fogo (Êx 24:12-18; 33:9-11); anjo (Gn 16:10-13; 31:11-13; Jz 6:11-24; Os 2:3, 4) e homem (Gn 18; Ez 1:26-28; Dn 7:9). Portanto, crer que o Messias é um Ser divino que nasceria como homem (veja pergunta 9) não contradiz as Escrituras.

Muitos judeus acreditavam que o Messias era um Ser divino, “o SENHOR menor”, que existia no Céu antes de vir à Terra (veja Robert L. Odom, Israel’s Angel Extraordinary [Bronx, NY: Israelite Heritage Institute, 1985]; idem, Israel’s Preexistent Messiah [Bronx, NY: Israelite Heritage Institute, 1985]).

9. O que a Bíblia ensina sobre o nascimento sobrenatural do Messias?

“Por isso o SENHOR mesmo lhes dará um sinal: a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e O chamará Emanuel” (Is 7:14). Em hebraico, existe também outra palavra para “virgem”, que é betulah. Mas Isaías 7:14 usa a palavra almah. Por isso, alguns dizem que a tradução “virgem” está equivocada. A palavra almah significa “jovem em idade de se casar, que entrou na puberdade” e corresponde exatamente a “donzela” ou “moça”, em português. Essa palavra aparece outras oito vezes nas Escrituras hebraicas e sempre se refere a uma virgem (Gn 24:43; Êx 2:8; 1Cr 15:20; Sl 46 [título]; 68:25; Pv 30:19; Ct 1:3; 6:8).

A Septuaginta (primeira tradução das Escrituras hebraicas), produzida no século 3º a.C., traduz a palavra como parthenos, que em grego significa “virgem”. Isso mostra que os antigos judeus entendiam que Isaías 7:14 se refere a uma virgem.

Isaías 7-12 é conhecido pelos estudiosos como o “Livro do Emanuel”. No capítulo 9, o profeta menciona a mesma criança que a virgem daria à luz. Essa criança seria sobre-humana: “Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os Seus ombros. E Ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz” (Is 9:6). Seu reinado seria eterno e pacífico (Is 9:7; 11:1-9).

“O Redentor que um dia Eu [Deus] trarei não terá pai, como foi dito: Eis um homem cujo nome é Renovo e que germinará por Si mesmo, como Isaías disse: ‘Porque foi subindo como renovo perante Ele e como raiz de uma terra seca’ [Is 53:2]. Sobre Ele as Escrituras dizem: ‘Eu hoje Te gerei’ [Sl 2:7]” (Bereshith Rabbati sobre Gênesis 37:22).

10. Qual será a relação entre o Messias e Deus?

“O Espírito do SENHOR repousará sobre Ele, o Espírito que dá sabedoria e entendimento, o Espírito que traz conselho e poder, o Espírito que dá conhecimento e temor do SENHOR” (Is 11:2).

“‘O Espírito de Deus Se movia sobre a face das águas’ [Gn 1:2] mostra que o Espírito do Rei Messias estava presente, como está escrito em Isaías: ‘O Espírito do SENHOR repousará sobre Ele’ [Is 11:2]” (Gênesis Rabá 2:4).

11. Como o Messias realizaria a salvação, de acordo com a imagem do Servo Sofredor em Isaías 53?

“Contudo, foi da vontade do SENHOR esmagá-Lo e fazê-Lo sofrer, e, embora o SENHOR tenha feito da vida dEle uma oferta pela culpa, Ele verá Sua prole e prolongará Seus dias, e a vontade do SENHOR prosperará em Sua mão. Depois do sofrimento de Sua alma, Ele verá a luz e ficará satisfeito; pelo Seu conhecimento Meu servo justo justificará a muitos, e levará a iniquidade deles” (Is 53:10, 11).

Ao comentar Isaías 53:4, o Talmude explica: “Qual é o nome do Messias? Nossos sábios disseram: Leproso é o Seu nome, segundo os rabinos, porque está escrito: ‘Certamente Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças; contudo nós o consideramos castigado por Deus [em hebraico, leproso], por Deus atingido e afligido’” (Talmude Babilônico Sanhedrin 98b).

12. Quem é o Servo Sofredor em Isaías 53?

“Mas Ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre Ele, e pelas Suas feridas fomos curados” (Is 53:5).

Sobre Isaías 53:5, os rabinos explicavam o seguinte: “O rabi Huna disse em nome do rabi Akha: ‘Todos os sofrimentos foram divididos em três porções: uma para as gerações antigas e os antepassados, um para a geração da apostasia e uma para o Rei Messias, pois é dito: Ele foi traspassado por causa das nossas transgressões’” (Midrash Shemuel 16:1).

Esse servo não pode ser Israel. Antes de 49:5 e 6, o povo de Israel às vezes é chamado de “servo do SENHOR”. Mas, a partir desse texto, o Servo é alguém distinto de Israel, que fará que Israel retorne a Deus. Em Isaías 50:10, o profeta se dirige a Israel na segunda pessoa do plural (vós, vocês) e faz clara distinção entre Israel e o Servo: “Quem entre vocês teme ao SENHOR? Quem entre vocês obedece à mensagem do servo do SENHOR?” (tradução literal). Outra prova clara de que o servo do SENHOR não é Israel é o fato de ser “esmagado por causa de nossas iniquidades”, ou seja, dos israelitas (Is 53:5).

13. Que palavras em Isaías 53 ajudam a identificar o Servo Sofredor?

A palavra “prole” ou “semente” (zera), em Isaías 53:10, refere-se aos descendentes de Davi (veja Is 41:8; 43:5; 44:3; 45:19, 25).

A expressão técnica “escondem o rosto” ou “rosto escondido” (panim hester), em Isaías 53:3, é sempre ligada a Deus no livro de Isaías. Em outras palavras, é apenas de Deus que os israelitas “escondem o rosto” (Is 56:8; 65:15; 50:6).

A vinda do Servo é identificada como a revelação do “braço do SENHOR” (Is 53:1). A manifestação do Messias equivale à manifestação de Deus.

14. De que tribo e família de Israel deveria vir o Messias?

“E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Mq 5:2, Almeida Revista e Atualizada).

Israel “servirá ao SENHOR, seu Deus, como também a Davi, seu rei, que lhe levantarei” (Jr 30:9, Almeida Revista e Atualizada).

“O rabi Judá disse em nome de Rab: ‘Um dia, o Santo (bendito seja) levantará outro Davi, pois é dito em Jeremias: Servirão ao SENHOR, seu Deus, e a Davi, seu rei, que darei a eles’” (Talmude Sanhedrin 98b).

15. Qual seria o alcance da influência do Messias?

“Então purificarei os lábios de todas as nações, para que todas invoquem o nome do SENHOR e O sirvam juntas” (Sf 3:9, tradução literal). Os rabinos explicam: “Então darei aos povos uma linguagem pura, que possam invocar o nome do SENHOR, para servi-Lo de comum acordo. O nome do SENHOR não é outra coisa senão o Rei Messias” (Bereshith Rabbati 41:44).

16. Pode um profeta bíblico prever o tempo exato de um evento futuro?

“Toda esta terra se tornará uma ruína desolada, e essas nações estarão sujeitas ao rei da Babilônia durante setenta anos” (Jr 25:11).

“No primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, compreendi pelas Escrituras, conforme a palavra do SENHOR dada ao profeta Jeremias, que a desolação de Jerusalém iria durar setenta anos” (Dn 9:2).

Daniel foi “um dos maiores profetas. Cremos que ele conversava com Deus, pois não apenas profetizou acontecimentos futuros, mas também determinou o momento de seu cumprimento” (Flávio Josefo, Antiguidades XI, 7).

17. Qual é o propósito da profecia das 70 semanas?

“Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos” (Dn 9:24, Almeida Revista e Atualizada).

“A respeito do Rei Messias está escrito que Ele iria ‘trazer a justiça eterna’” (Bereshith Rabbati sobre Gênesis 14:18).

18. Que tipo de Messias está implícito na profecia das 70 semanas?

“Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido [em hebraico, Messias], ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos. Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido [o Messias] e já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas” (Dn 9:25, 26, Almeida Revista e Atualizada).

A introdução do capítulo (Dn 9:2) fala sobre a vinda de Ciro, que foi um libertador de Israel e é chamado de “ungido” (em hebraico, messias) (Is 45:1). Ciro encerra um período sabático (7 vezes 10 anos), enquanto que o Messias encerra um período de jubileu (7 vezes 7 vezes 10 anos).

Uma comparação entre o sentido das palavras da frase mostra que o primeiro “messias”, Ciro, seria um libertador local, apenas para Israel (“nossa visão”, “a visão de”, etc.). Já o Messias seria um libertador universal, para todos os povos (“visão”, “pecados”, “profetas”, etc.).

19. Qual é o ponto de partida das 70 semanas?

“Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido [em hebraico, Messias], ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos” (Dn 9:25, Almeida Revista e Atualizada).

“Dessa maneira, os líderes dos judeus continuaram a construir e a prosperar, encorajados pela pregação dos profetas Ageu e Zacarias, descendente de Ido. Eles terminaram a reconstrução do templo conforme a ordem do Deus de Israel e os decretos de Ciro, de Dario e de Artaxerxes, reis da Pérsia” (Ed 6:14).

20. Por que devemos considerar o decreto de Artaxerxes como o cumprimento da profecia?

“E você, Esdras, com a sabedoria que o seu Deus lhe deu, nomeie magistrados e juízes para ministrarem a justiça a todo o povo do território situado a oeste do Eufrates, a todos os que conhecem as leis do seu Deus. E aos que não as conhecem você deverá ensiná-las. [...]

“Bendito seja o SENHOR, o Deus de nossos antepassados, que pôs no coração do rei o propósito de honrar desta maneira o templo do Senhor em Jerusalém, e que, por Sua bondade, favoreceu-me perante o rei, seus conselheiros e todos os seus altos oficiais. Como a mão do SENHOR, o meu Deus, esteve sobre mim, tomei coragem e reuni alguns líderes de Israel para me acompanharem” (Ed 7:25, 27, 28).

Foi o último decreto. O decreto mais completo, pois também diz respeito ao templo, o centro da vida dos israelitas. O único decreto que é seguido por uma benção (v. 27, 28). Após esse decreto, o livro de Esdras deixa de ser escrito em aramaico (o idioma do exílio) e passa a ser escrito em hebraico (o idioma da restauração nacional de Israel).

21. Que tipo de “semanas” estão envolvidas na profecia das 70 semanas?

“Naqueles dias, eu, Daniel, pranteei durante três semanas de dias” (Dn 10:2, tradução literal).

Em hebraico, o texto diz “semanas de dias”. Isso mostra que as semanas mencionadas antes (no capítulo 9) são outro tipo de “semanas”.

“Determinei que o número de dias seja equivalente ao número de anos da iniquidade dela, ou seja, durante trezentos e noventa dias você carregará a iniquidade da nação de Israel” (Ez 4:5).

“Teus dias são como os de qualquer mortal? Os anos de Tua vida são como os do homem?” (Jó 10:5).

Os textos de Ezequiel e Jó, entre dezenas de outros das Escrituras, mostram que, para os hebreus, existia uma relação muito forte entre “dias” e “anos”. “Uma semana na profecia de Daniel significa uma semana de anos” (Talmude b. Yoma 54a). Na expressão “uma semana”, em Daniel 9:27, “uma semana representa um período de sete anos” (Lamentações de Rabbah 34).

22. Que datas estão envolvidas na profecia das 70 semanas?

Decreto de Artaxerxes: 457 a.C.
70 semanas de anos = 70 vezes 7 = 490 anos
457 a.C. + 490 anos = 34 d.C.

23. Que momento marca o fim das 69 semanas e, portanto, a chegada do Messias?

“Quando todo o povo estava sendo batizado, também Jesus o foi. E, enquanto Ele estava orando, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea, como pomba. Então veio do céu uma voz: ‘Tu és o Meu Filho amado; em Ti Me agrado’” (Lc 3:21, 22).

De acordo com os cálculos da resposta anterior, as 69 semanas se cumpriram em 27 d.C. Nesse ano, ocorreria a chegada do Messias.

24. O que aconteceria com o Messias e como esse evento afetaria “o sacrifício e a oferta” do templo?

“Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele” (Dn 9:27).

25. Que outro evento também foi predito na profecia das 70 semanas?

“Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido [o Messias] e já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas” (Dn 9:26).

“Daniel escreveu a respeito do governo romano e que nosso país seria assolado por eles” (Flávio Josefo, Antiguidades 10, 11, 7).

“As declarações dos profetas antigos diziam que a cidade de Jerusalém seria tomada e o santuário seria queimado durante a guerra” (Flávio Josefo, Guerras Judaicas 4, 6, 3).

“Rabba disse: ‘De fato, se sabia que o templo seria destruído, mas como se poderia saber quando?’ Abay respondeu: ‘Eles sabiam quando seria destruído porque está escrito: ‘Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade’” (Talmude Babilônico Nazir 32b).

26. Daniel 9:25-27 fala sobre o Messias e sobre a cidade de Jerusalém. Os dois assuntos parecem estar misturados. Como saber que assunto é mencionado em cada parte do texto?

Daniel 9:25-27 possui três frases. Cada uma ocupa um versículo inteiro. A primeira metade de cada frase fala sobre o Messias, e a segunda metade, sobre Jerusalém. Para facilitar a leitura, podemos organizar Daniel 9:25-27 da seguinte maneira:

Messias: “Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido [em hebraico, Messias], ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas. Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido [o Messias] e já não estará. Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares.”

Jerusalém: “As praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos. E o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas. Sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele.”

27. Como muitos judeus responderam a Jesus?

“Todos falavam bem dEle [Jesus], e estavam admirados com as palavras de graça que saíam de Seus lábios. Mas perguntavam: ‘Não é este o filho de José?’” (Lc 4:22).

“Nessa época, viveu Jesus, um homem sábio. Ele realizou milagres e ensinou as pessoas que receberam Seus ensinos com alegria. Muitos O seguiram” (Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas, 18, 3, 3).

28. Qual foi o principal argumento que convenceu a muitos judeus de que Jesus era o Messias?

“Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta” (Mt 1:22).

“Para cumprir o que fora dito pelo profeta Isaías” (Mt 4:14).

“Mas tudo isso aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos profetas” (Mt 26:56).

“E [Jesus] disse-lhes: ‘Foi isso que Eu lhes falei enquanto ainda estava com vocês: Era necessário que se cumprisse tudo o que a Meu respeito está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos’” (Lc 24:44).

“Assim combinaram encontrar-se com Paulo em dia determinado, indo em grupo ainda mais numeroso ao lugar onde ele estava. Desde a manhã até a tarde ele lhes deu explicações e lhes testemunhou do Reino de Deus, procurando convencê-los a respeito de Jesus, com base na Lei de Moisés e nos Profetas” (At 28:23).

29. Entre muitos judeus que afirmaram ser o Messias, qual é o único que superou o tempo e que ainda tem seguidores?

Disse o rabino Gamaliel ao Sinédrio: “Portanto, neste caso eu os aconselho: deixem esses homens em paz e soltem-nos. Se o propósito ou atividade deles for de origem humana, fracassará; se proceder de Deus, vocês não serão capazes de impedi-los, pois se acharão lutando contra Deus” (At 5:38, 39).

30. É possível para um judeu crer que Jesus é o Messias e permanecer sendo judeu?

Disse Paulo: “Sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas criado nesta cidade. Fui instruído rigorosamente por Gamaliel na lei de nossos antepassados, sendo tão zeloso por Deus quanto qualquer de vocês hoje” (At 22:3).

O Talmude relata uma série de rabinos famosos (por exemplo: Elisha ben Abuyah, Simeão ben Zoma e outros) que eram identificados como cristãos e ainda eram aceitos como judeus. Eles foram até mesmo considerados como sábios e líderes respeitados e tratados por seu povo “com sensível consideração” (veja Samson H. Levy, “The Best Kept Secret of Rabbinic Tradition”, Judaism [1972], p. 469).

(Traduzido e adaptado por Matheus Cardoso para o blog www.criacionismo.com.br)

terça-feira, novembro 02, 2010

Beijo na boca é pecado?

Querido irmão Michelson, me sinto muito feliz ao saber que na minha vida a vontade de Deus está se cumprindo. Porém, tenho algumas dúvidas no que diz respeito a namoro. Tenho 17 anos, sou adventista, e nunca namorei antes. Estou pretendendo começar agora e com o “pé direito” (conforme a vontade de Deus). Ao estudar a Bíblia tenho visto que ela quando se refere a “toque” entre pessoas do sexo oposto sempre é no contexto sexual (para confirmar leia Gn 20:4, 6; Rt 2:9; Pv 6:29). Pergunto: pode-se beijar na boca em um namoro cristão apenas como demonstração de afeto e não como um convite a algo mais? Deus não se entristecerá com essa atitude? Desde já, obrigado pela resposta. – J.

Prezado irmão J., sua preocupação é legítima e se constitui num bom sinal, já que muitos jovens não se preocupam hoje com esses “detalhes” de um namoro. A verdade é que todo namoro deveria ter início com ênfase no aspecto da comunicação, do diálogo. É assim que se conhece alguém e se pode perceber se é a pessoa certa com quem se quer passar o resto da vida. Afinal, embora nem todo namoro conduza necessariamente ao casamento, todo namoro deve ter isso em vista. Se o objetivo não é levar a coisa a sério (ainda que percebam depois que não devem se casar), melhor é nem começar.

O assunto das carícias é algo muito sério e deve ser considerado antes de se iniciar o relacionamento. Quando mantemos a mente pura, guiada pelo Espírito Santo, sabemos até onde podemos ir. As carícias (com seus devidos limites) fazem parte da demonstração de carinho que deve haver em um relacionamento mais íntimo que a amizade (o namoro). Sobre esse assunto, recomendo-lhe a leitura do livreto Namoro no Escuro (já esgotado na Casa, mas que algum irmão deve ter). Ali existe uma referência ao “retângulo do Dr. Tabuenca”, e que pode ser útil no estabelecimento de limites para as carícias. Segundo Tabuenca, deve-se imaginar um retângulo que vá da altura e da largura dos ombros da moça até seus joelhos (talvez mais abaixo seja melhor). Tudo o que fica de fora desse retângulo imaginário pode ser acariciado. Acariciar o que fica dentro do retângulo pode levar à excitação sexual e ao pecado, ainda que mesmo “apenas” na mente. E daí ao “ponto de não retorno”, como diz o autor do livreto, é um pulinho.

Sobre o beijo, creio que o princípio é o mesmo. Deve-se evitar beijos muito “quentes”, que excitem e tragam pensamentos sexuais. Mas novamente faço a ressalva de que pode ser que os pensamentos impuros estejam na mente, de antemão. A moça pode estar beijando com um sentimento de puro romantismo, ao passo que o rapaz talvez esteja pensando em sexo. Por isso, repito, a pureza mental vale para tudo e é o princípio de tudo. Higiene mental (obtida pela leitura da Bíblia, dos livros do Espírito de Profecia, de bons livros religiosos e da oração) é algo a que devemos nos habituar, se queremos ser salvos para a eternidade e felizes já nesta vida.

Procurem iniciar e terminar cada encontro com uma oração e leiam bons livros sobre namoro juntos. Não fiquem muito tempo sozinhos, vivendo a tal da “solidão a dois”. Participem juntos de atividades em família e na igreja, que podem promover situações ricas para um conhecimento mútuo. Conheçam mais a mente, o caráter e as emoções um do outro do que o corpo. Isso pode aguardar o contexto correto, ou seja, o casamento. Até lá, aproveitem bem o tempo para se certificarem de que a decisão de se doarem completamente um ao outro é a mais acertada. Lembrem-se de que Ellen White diz que se deve orar quadruplicadamente quando o assunto é namoro, de tão séria que a questão é.

Além do livro Namoro no Escuro, há também o Namoro Completo, da Nancy Van Pelt, e o Cartas aos Jovens Namorados, de Ellen White, todos da Casa. Leiam e discutam os assuntos juntos. Essa é uma fase maravilhosa da vida. Quando vivido sob as orientações de Deus, mesmo que o namoro seja rompido no futuro, vocês poderão continuar amigos e se olhar nos olhos sem nenhum constrangimento. E se vierem a se casar, a aura de pureza, bênção e felicidade se perpetuará entre vocês, que serão, então, uma só carne (se Deus assim o quiser).

Só para deixar claro que beijo na boca não é pecado, o livro bíblico de Cantares traz o seguinte (no contexto do casamento): "Beija-me com os beijos de tua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho" (1:2).

Que Deus os abençoe.

(Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia)

segunda-feira, novembro 01, 2010

Criação em sete dias ou milhões de anos?

Considero-me criacionista porque creio que Deus criou tudo o que existe. Mas que diferença faz se Ele criou a Terra em sete dias de 24 horas ou ao longo de milhões de anos? Em ambos os casos, Deus é o Criador.

Atualmente, muitos cristãos acham que não é necessário acreditar que a Criação ocorreu em seis dias de 24 horas há menos de 10 mil anos. Segundo eles, essa crença não faz qualquer diferença nas doutrinas bíblicas, em nossa salvação ou na vida prática. Tenho a convicção de que nossa crença sobre as origens é fundamental para as doutrinas bíblicas e nossa vida prática. E aí está incluída principalmente nossa salvação. Vejamos algumas razões para essa convicção:

1. O caráter de Deus. Em primeiro lugar, essa questão tem a ver com o caráter do Deus que adoramos. Algum tempo atrás, uma amiga me disse que pensava que “severo” e “carrancudo” são características de Deus. Eu lhe respondi: “Eu nunca adorei um Deus assim. Apesar de ser um Deus de justiça e misericórdia, Ele nunca é severo ou carrancudo.” E poderia ter acrescentado: “Ele nunca é cruel.” Que tipo de Deus teria criado a vida por meio da morte e extinções ao longo de milhões de anos? Certamente, não o Deus que percebe quando uma ave cai no chão!

Romanos 5:12 afirma que a morte entrou no mundo por causa do pecado. A entrada do pecado no planeta Terra é descrita em Gênesis 3, quando Adão e Eva desobedeceram a Deus e sofreram a consequência: a morte. Mas, em vez de aceitar o claro ensino bíblico de que a morte é um resultado do pecado, alguns cristãos apresentam a morte como o próprio meio que Deus usou para criar! Com isso, parece que Satanás, cujo maior objetivo é distorcer o caráter de Deus, conseguiu levar pessoas a crer em dois enganos: (1) Deus cria por meio de sofrimento, violência, catástrofe e morte; e (2) a morte não é o resultado do pecado, mas o meio para que ocorra o progresso das criaturas.

Pensemos sobre o caráter de Deus em termos de “evolução criativa”. Suponha que Deus realmente tenha criado ao longo de milhões de anos. Em que momento do processo surgiu a consciência moral? Quando a humanidade se tornou moralmente responsável? Em que ocasião na história primitiva Deus mostrou aos seres humanos que Ele é um Deus que cuida e em quem se pode confiar? Mesmo se pudéssemos estabelecer um momento na história em que Deus comunicou Seu amor a mentes que poderiam raciocinar, por que demorou tanto tempo? O caráter de Deus é severamente atacado por teorias de que Ele usou milhões de anos para criar.

2. A salvação. Se a humanidade tem evoluído durante milhões de anos e está sempre evoluindo, por que precisamos de um Salvador? Não haveria qualquer necessidade de uma morte em nosso lugar, ensino apresentado em Gênesis 3:15, desenvolvido ao longo do Antigo Testamento e se cumprindo na morte de Cristo na cruz. Se não é o pecado que traz a morte (Rm 6:23), então não precisamos de um Salvador que remova a morte que recebemos como consequência do pecado.

Se rejeitarmos o ensino bíblico sobre a origem da vida e do pecado, então a morte de Jesus seria apenas uma influência moral, um exemplo de amor (nem mesmo uma revelação do amor de Deus), em vez de ser “o salário do pecado” (Rm 6:23). A morte de Cristo é uma transação divina; ou seja, é uma reconciliação realizada por Alguém fora da história humana que nos salva, e não apenas a influência daquela morte.

3. O sábado. A próxima razão é a santidade do sábado (Gn 2:2, 3; Êx 20:8-11; Mc 2:27). Se o sábado não foi o sétimo dia de uma semana literal da Criação, qual é a razão para nos lembrarmos do aniversário da Criação? Se a semana da Criação não foi literal, o dia específico que guardamos como tempo sagrado se torna totalmente irrelevante.

4. A presença e atuação de Deus. Outro aspecto é a maneira como Deus atua em nosso mundo. Se Deus não pode falar e, imediatamente, tudo ocorrer (Sl 33:9), por que eu deveria crer em qualquer outra coisa que Ele afirma ter feito ou que fará? Posso crer no ensino bíblico sobre o juízo final? Se o processo de criação realizado por Deus é descartado, apesar de ser confirmado por João e Paulo (Jo 1:1-3, 10; 1Tm 2:13), existe razão para questionar também o nascimento virginal de Cristo, Sua morte na cruz e a ressurreição literal.

5. A volta de Jesus. Na Bíblia, os eventos históricos da criação, do dilúvio global e da segunda vinda de Jesus estão intimamente ligados (Mt 24:37-39; 2Pe 3:3-5). No modelo evolucionista, tudo está em processo de desenvolvimento. Segundo alguns modelos evolucionistas, Deus está dentro de todos os seres vivos e precisamos apenas encontrar o deus que vive em nós.

Que necessidade existe de se preparar para o retorno de alguém que não é distinto das criaturas? Além disso, se a vida está se desenvolvendo, por que não simplesmente aguardar esse processo? Por que antecipar o Céu? (De fato, muitos cristãos já abandonaram a ideia de que Deus intervirá na história humana e preocupam-se apenas com esforços humanísticos para melhorar a sociedade.)

6. O casamento. Casamento! Se Deus não criou o primeiro homem e a primeira mulher, se Ele não os abençoou como cônjuges e pais (Gn 1:28), quem pode dizer o que é o matrimônio? O casamento se tornaria qualquer coisa que for declarada pela sociedade atual. Ele não teria sido originado por Deus nem fora estabelecido como modelo de relacionamentos (Mt 19:4, 5).

7. A mensagem de Deus para o tempo do fim. Outro motivo está relacionado com a mensagem de Deus para o tempo do fim (Ap 14:6-12). Apocalipse 14:7 apresenta a razão para adorarmos a Deus: Ele é o Criador dos Céus e da Terra, do mar e das fontes das águas. Observe os paralelos entre a linguagem do texto e a linguagem do quarto mandamento da lei de Deus (Êx 20:11). Em uma época em que o mundo rejeita a Deus como Criador, Apocalipse 14 mostra que a mensagem do juízo, a criação e o sábado estão profundamente ligados e são ensinos fundamentais para o tempo do fim.

8. A Palavra de Deus. Penso que a grande questão seja esta: a Bíblia é a Palavra de Deus e possui autoridade, ou é apenas um poema mítico e metafórico? Gênesis capítulos 1 e 2; Êxodo 20:8-11; Salmo 19:1-6; 33:6, 9; 104; Mateus 19:4 e 5; Hebreus 11:3 e muitos outros textos devem ser considerados relatos confiáveis e verdadeiros da obra de criação realizada por Deus? Ou devemos distorcer a Palavra de Deus apenas por que não somos capazes de explicar tudo que existe no Universo?

Conclusão. Voltemos à pergunta inicial: Que diferença existe se cremos que Deus criou a Terra da maneira como descrita na Bíblia (principalmente Gn 1-2) ou se Ele a criou ao longo de milhões de anos?

Estou convicta de que isso faz toda a diferença. Escolhi ter um relacionamento com o Deus que me criou e que deseja ter comunhão comigo (Ef 3:9), que é digno de meu amor e adoração (Ap 4:11) e à imagem de quem fui criada (Gn 1:27). Esse Deus está comigo a cada momento da vida. Pela fé, sei que Ele está sempre presente ao meu lado. Como poderia amar ou me relacionar com um Deus que deu origem à vida através da morte e sofrimento que duraram milhões de anos?

O ensino bíblico sobre a criação e sobre os últimos eventos da história é o que fornece o alicerce para o centro da Bíblia: Jesus Cristo. Se esse alicerce é destruído, a grande mensagem da Bíblia – a salvação – é destruída completamente.

(Cindy Tutsch, D.Min., é líder de jovens e diretora associada do Patrimônio Literário de Ellen G. White. Traduzido e adaptado por Matheus Cardoso. Usado com permissão.)

domingo, outubro 24, 2010

O que a Bíblia ensina sobre uso de imagens?

Muitos cristãos utilizam desenhos e pinturas de personagens bíblicos, inclusive de Jesus. Alguns têm chegado a fazer esculturas representando cenas bíblicas. Isso não é proibido pelo segundo mandamento?

No segundo mandamento da lei de Deus, lemos o seguinte: “Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto” (Êx 20:4, 5). Um dos princípios mais importantes para entender a Bíblia é jamais ler apenas o trecho de uma frase, deixando de lado seu contexto. Somente quando lemos o texto completo, podemos entender seu sentido.

O segundo mandamento – Vejamos como esse princípio é importante. Se usarmos partes isoladas do segundo mandamento, poderemos chegar a conclusões absurdas. O texto diz, por exemplo: “Não farás para ti imagem de escultura.” Logo, se eu fizesse uma imagem ou desenho (para ser adorado ou não) e o desse para outra pessoa, não haveria pecado nenhum.

Além disso, o texto declara: “Nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.” Fora de contexto, isso significaria que não posso ter flores ou frutas artificiais ornamentando a casa, nem pinguim de geladeira, maquetes de construções, réplicas do corpo humano para estudantes de medicina. Eu também não poderia dar um boneco ou boneca a uma criança, nem dar-lhe papel e lápis para que ela faça um desenho. Ninguém defenderia tal extremo, mas é isso que a frase afirma, se a lermos de maneira isolada.

Como, então, entender o segundo mandamento? O objetivo de um texto geralmente fica mais claro no seu fim, na sua conclusão. Observe: “Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto.” Em outras palavras: Não faça representações ou figuras de qualquer pessoa ou coisa com o objetivo de adorá-las. Esse é o sentido do segundo mandamento.

Como podemos ter certeza de que o segundo mandamento realmente tem esse significado, e que ele não proíbe qualquer tipo de arte visual? Tudo que precisamos fazer é ver o que outros textos bíblicos têm a dizer sobre o assunto.

Artes visuais na Bíblia – No Antigo Testamento, o uso da arte na religião não era proibido. A habilidade artística era considerada um dom de Deus (Êx 31:2-5). Alguns dos móveis do tabernáculo foram decorados com representações de flores e frutas (Êx 25:31-36; 1Rs 6:29), o véu que cobria o tabernáculo e o véu que havia dentro dele tinham figuras de querubins (Êx 26:1, 31) e havia dois querubins de ouro e cima da arca da aliança (Êx 25:17-20). Deus mandou construir uma serpente de escultura, para que fossem curadas todas as pessoas que olhassem para ela (Nm 21:8, 9).

No templo de Salomão, a arca foi colocada entre dois querubins de tamanho grande, confeccionados por ordem de Salomão (1Rs 6:23), a pia grande estava apoiada em 12 touros de metal (1Rs 7:25), e os móveis tinham figuras de leões, touros e querubins (v. 29). Objetos artísticos em forma de romãs e lírios foram usados para decorar o próprio edifício (v. 15-22). O trono real possuía arte decorativa em forma de leões (1Rs 10:19).

Mesmo no local de adoração a Deus havia “imagens de escultura” e representações visuais ou “semelhança” de coisas que “há em cima nos céus” e “na terra”. Além disso, no templo de Salomão e em seu palácio havia diversas imagens. Mas, claramente, nenhuma dessas representações artísticas tinha o objetivo de ser venerada ou adorada. Portanto, o problema não é o uso dessas artes visuais, mas o mau uso delas. Mesmo objetos confeccionados por ordem de Deus podem ser usados de maneira distorcida. Prova disso é que a serpente de bronze tornou-se, posteriormente, objeto de adoração e, por isso, foi destruída pelo rei Ezequias (2Rs 18:4).

Artes visuais no cristianismo – Imagens decorativas retratando temas religiosos (por exemplo, peixes, pombos, profetas, etc.) são encontradas no início do cristianismo, em catacumbas e locais de reunião. Mas essas imagens tinham o mesmo objetivo que aquelas mencionadas na Bíblia.

Apenas no século 7º, a veneração de imagens se tornou amplamente difundida entre os cristãos. Os católicos argumentam que não adoram as imagens religiosas, mas apenas as “veneram” e as usam para se aproximar dos santos por elas representados. Entretanto, não podemos concordar nem mesmo com esse uso, porque a Bíblia ensina que é apenas por meio de Cristo que nos aproximamos de Deus (Jo 14:6; Rm 8:34; 1Tm 2:5) e que os justos mortos estão inconscientes na sepultura até a ressurreição (Sl 115:17; Ec 9:5, 10; Mt 16:27; 1Co 15:51-55; 1Ts 4:13-18).

Aplicações atuais – A Bíblia, portanto, não condena o bom uso de figuras e imagens religiosas. Apesar disso, são necessários bom senso e precaução ao usar artes visuais na igreja. O uso exagerado desse recurso poderia dar a impressão de que o consideramos essencial na adoração a Deus. Alguns cristãos, que não estudaram o assunto mais profundamente, poderiam interpretar como idolatria o uso de determinados objetos na igreja.

Outro aspecto a ser considerado é a representação de Deus. Cremos que ilustrações de personagens bíblicos (incluindo Jesus e os seres angelicais), já contemplados por seres humanos, são aceitáveis quando não destinadas à veneração e quando não desvirtuam o caráter do respectivo personagem. Mas Deus, o Pai, “que habita em luz inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver” (1Tm 6:16), jamais deveria ser reproduzido pela imaginação humana. Mesmo cenas bíblicas deveriam ser representadas de maneira respeitosa e fiel à descrição bíblica.

Com base no ensino bíblico sobre imagens, que consideramos acima, a escritora cristã Ellen G. White faz aplicações corretas à nossa época: “Alguns condenam figuras, alegando que são proibidas pelo segundo mandamento, e que todas as coisas desse gênero deveriam ser destruídas. [...] O segundo mandamento proíbe o culto das imagens. Deus mesmo, porém, utilizou figuras e símbolos para apresentar a Seus profetas as lições que deveriam ser dadas ao povo, para que, dessa forma, pudessem se entendidas melhor que de qualquer outra maneira. Isso apela para nossa compreensão, por meio do sentido visual” (Historical Sketches of the Foreign Missions of the Seventh-day Adventists, p. 212).

(Matheus Cardoso é editor associado da revista Conexão JA e editor assistente de livros na Casa Publicadora Brasileira; colabora na seção “Perguntas” do blog www.criacionismo.com.br)

Fontes:

Alberto R. Timm, “Idolatria”; Ángel Manuel Rodríguez, “Art or Idol?”; George W. Reid, “Statuary and the Second Commandment”; Gleason Archer, Enciclopédia de Temas Bíblicos: Respostas às principais dúvidas, dificuldades e “contradições” da Bíblia (São Paulo: Vida, 2001), p. 103.

quinta-feira, outubro 21, 2010

Duvidas sobre o mal, milagres e livre-arbítrio

Certa vez, quando perguntaram a Jesus quem havia pecado, Ele respondeu que o homem nascera daquele jeito [cego] para ser manifestar a glória de Deus. Ou seja, Deus colocou o problema apenas para se manifestar a glória dEle? É Deus quem coloca a dor, a doença, para, depois, curar ou matar? Jesus disse coisas como: “Não se preocupem com o dia de amanhã.” Mas Ele Se preocupou tanto que chegou a suar sangue! Outra coisa que me incomoda é a respeito de milagres, da probabilidade matemática. Cálculo simples: dois milhões de pessoas têm câncer, duas são curadas do nada. Milagre? Matematicamente falando, sim. Mas milagres acontecem aos que não são cristãos também... Mas o que mais me incomoda mesmo é sobre o livre-arbítrio. Como entender isso? – J.

Prezado J., primeiramente, entendo que não podemos simplificar tanto assim uma realidade que é muito mais complexa. Assuntos como livre-arbítrio, determinismo, milagres, etc. não podem ser resolvidos numa frase, num parágrafo e talvez nem mesmo em milhares de páginas. Fé não é confiar no que não vemos? Não é ter certeza do que esperamos? (Hebreus 11:1).

Certas expressões bíblicas não podem ser entendidas fora de seu contexto (o pensamento e a cultura judaico-oriental). Para os judeus, Deus era responsável por aquilo que Ele não impedia. Ex.: Foi Deus quem endureceu o coração de faraó ou foi o próprio faraó, com a permissão de Deus, já que Ele não força a vontade de ninguém? Assim, o cego de nascença nasceu assim por uma fatalidade deste mundo de pecado (como tantos outros nascem com tantos outros problemas). Mas, no caso dele, uma maravilha seria operada porque ele creu no Senhor. Como ocorreu com Jó, muito tempo antes, esse cego teria a honra de representar bem o caráter e as obras de Deus. Isso deve ser entendido à luz do grande conflito e levando em consideração a eternidade.

Todo mal no Universo provém de Satanás, o originador do mal. O que Deus faz, frequentemente, é reverter o mal em bem para nós. Assim, muitas vezes, Deus Se vale de uma doença (que ele permite, mas não causa) para nos conduzir de volta ao caminho da salvação ou para modelar nosso caráter. Curiosamente, de modo geral, aqueles que passam por uma dor encaram o problema de modo diferente daqueles que apenas observar quem sofre. Os mais revoltados com Deus por causa da existência do sofrimento são aqueles que apenas “filosofam” sobre o assunto. Não fosse assim, países pobres como os da África teriam multidões de ateus, enquanto países desenvolvidos da Europa seriam majoritariamente crentes. Mas a realidade é justamente o oposto disso.

Jesus suou sangue não por desconfiar do cuidado de Deus e por Se preocupar com o dia de amanhã. Ele passou por essa pressão imensa porque levou sobre Si nossos pecados. Não podemos comparar o que Ele experimentou com aquilo que nós experimentamos. Jesus não nos daria um conselho que Ele mesmo não vivesse. A agonia do Getsêmani e da cruz é algo singular experimentado por um Deus-homem que assumiu a culpa dos pecadores. E é justamente pelo que Jesus conquistou na cruz que podemos ter ainda mais certeza de que Deus nos ama e tem em vista o nosso bem – por isso podemos confiar nEle e descansar quanto ao futuro.

Quanto aos milagres, sem dúvida eles também acontecem na vida dos que não creem. A concepção e o nascimento são milagres. O nascer e o pôr do sol (na verdade, a rotação sincrônica da Terra) são milagres. A manutenção da proporção dos gases atmosféricos respiráveis – outro milagre. O funcionamento e a existência do Universo – tremendo milagre! Isso mostra a misericórdia de um Deus que manda chuva e sol sobre crentes e não crentes, sobre justos e injustos (Mateus 5:45). Deus nos mantém vivos e nos convida a uma vida de comunhão com Ele.

Mas quer saber qual é, para mim, o maior milagre? Uma vida transformada por Deus. Um ser impuro tornado puro. A índole má transformada num temperamento manso e submisso à vontade de Deus. Isso é milagre! Já vi curas e coisas maravilhosas que não poderiam ser explicadas de outra maneira senão pelo poder sobrenatural de Deus, mas isso não chega perto dos milagres que presenciei na vida de seres humanos que se deixaram transformar por Deus.

Finalmente, o livre-arbítrio. Creio que temos a liberdade de escolher entre a vida eterna e a morte eterna – e agradeço a Deus porque minhas escolhas se limitam a dois caminhos, senão, como ser humano limitado que sou e com tendência a más escolhas, eu me perderia na confusão, caso houvesse mais opções. Essas são as duas grandes escolhas que todo ser humano tem que confrontar. Mas há também as pequenas escolhas diárias que acabam afetando em alguma medida as grandes escolhas. Exemplo: Quem namorar? Com quem casar? Que amizades cultivar? No que trabalhar? Que faculdade cursar? O que comer? O que assistir na TV? Que músicas escutar? Etc. São decisões menores que acabam afetando as maiores, na medida em que nos aproximam ou afastam de Deus. E é Deus, o Espírito Santo, que nos influencia para as boas decisões, se nos mantemos próximos dEle por meio da oração, do estudo da Bíblia e do cultivo de bons hábitos de vida e de pensamento.

Mesmo em meio às nossas dúvidas e incertezas, temos que responder como Pedro: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna” (João 6:68). Se abandonarmos a Deus, para onde iremos? Temos que confiar nEle, pelas provas que Ele já deu de que nos ama e está nos conduzindo – com a nossa permissão – para a vida eterna. Lá todas as nossas dúvidas serão esclarecidas e nosso sofrimento terá fim.

Mas temos que chegar lá...

(Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia)

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