sexta-feira, janeiro 27, 2006

Dúvidas de um ateu

Gostaria de fazer algumas perguntas e quero que, por favor, você me esclareça, pois ninguém melhor que um cristão para responder tais indagações. Primeiro quero deixar bem claro que eu não tenho religião, não sou adorador do demônio, nem espírita e nem católico, não acredito nem em Deus e nem no diabo. Primeira pergunta: Há tantas religiões que falam de Deus, algumas até que rivalizam com outras, até mesmo com violência. Qual delas me levaria ao Paraíso? Segunda pergunta: Por que sua Bíblia não fala dos dinossauros? Terceira pergunta: Sua Bíblia fala que no juízo final o nome que não estiver escrito no livro da vida será lançado no lago de fogo, e o seu nome somente é escrito no mesmo após o batismo. Pois bem, suponhamos um índio, que mesmo antes do nascimento de Jesus estava vivendo sua vida em paz no mais profundo da floresta amazônica. Ele foi um bom índio, nunca roubou e nem matou. Ele envelhece e morre sem nunca ter ouvido falar em Jesus, mas segundo a lei do seu Deus ele deve sofrer o tormento eterno. Pergunto: Isso é um ato de um Deus justo? – M.

Prezado M., suas perguntas são muito pertinentes e é bom ver que você busca respostas, já que há tantos que, embora se digam sem religião ou ateus, não se dispõem a conhecer o “outro lado da moeda” a fim de decidir o melhor paradigma para sua vida. Vamos às suas perguntas:

1. Que religião nos levará ao Paraíso? Num primeiro momento, eu diria que nenhuma. Explico: Jesus afirmou que Ele é o “caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim” (João 14:6); “Quem crê em Mim tem a vida eterna” (João 6:47); e “a vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (João 17:3). Portanto, o único meio de salvação, segundo a Bíblia, é Jesus Cristo. Isso porque, sendo Deus Se fez homem (eis outro assunto digno de profundo estudo) e levou sobre Si nossos pecados, assumindo a conseqüência da má escolha da humanidade (Adão e Eva) – a morte, ou separação de Deus. É claro que ainda morremos, mas graças a Jesus temos a garantia da vida eterna em Sua segunda vinda, e isso não depende necessariamente de estarmos vinculados a essa ou àquela igreja. A igreja foi estabelecida por Deus como uma espécie de “hospital”, para ajudar a curar feridas e sustentar os cansados. Na igreja nossa fé é fortalecida pelo contato com Deus e com os irmãos. Se a vida eterna consiste em conhecer a Deus, a igreja deve prover esse conhecimento também.

A palavra “religião” (religio) também significa “religar”, ou seja, religar a humanidade caída a Deus, ajudando a manter a relação Criador/criatura. Entendo, portanto, que ter uma religião (a bíblica) é um privilégio que nos é concedido por Deus, já que ela (a religião bíblica) nos ajuda a manter essa relação com a única fonte e caminho da salvação, Jesus Cristo. “Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam o pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes [à igreja] o Senhor, os que iam sendo salvos” (Atos 2:47).

2. Na verdade, é possível que a Bíblia faça menção, sim, aos dinossauros. Note o que o livro de Jó, capítulo 40, versos 15 a 23, diz: “Contempla agora o beemote, que Eu criei como a ti, que come a erva como o boi. Eis que a sua força está nos seus lombos, e o seu poder nos músculos do seu ventre. Ele enrija a sua cauda como o cedro; os nervos das suas coxas são entretecidos. Os seus ossos são como tubos de bronze, as suas costelas como barras de ferro (...) Deita-se debaixo dos lotos, no esconderijo dos canaviais e no pântano (...) Eis que se um rio transborda, ele não treme; sente-se seguro ainda que o Jordão se levante até a sua boca.” Alguns dizem se tratar do hipopótamo ou do elefante, mas nenhum deles “enrija a cauda como o cedro”. A descrição confere melhor com um tipo de dinossauro herbívoro, como o Braquiossauro. A evidência fóssil da existência dos dinossauros é incontestável, e mesmo que a Bíblia não os mencionasse (como ocorre, por exemplo, com o gato), isso não mudaria os fatos. O que ela não poderia fazer é afirmar que eles não existiram. Aí seria um problema.

3. De fato, a Bíblia diz que no juízo final o nome que não estiver escrito no livro da vida será lançado no lago de fogo, mas o restante de sua pergunta não está bem de acordo com as Escrituras. Note o que diz o apóstolo Paulo, em Romanos 2:11 e 12: “Porque para com Deus não há acepção de pessoas. Assim, pois, todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram mediante lei serão julgados.” Jesus também disse que a “quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão” (Lucas 12:48). Portanto, cada um será julgado pelo nível de verdade que lhe foi revelado (o que não quer dizer que podemos rejeitar deliberadamente a verdade, uma vez que tenhamos a chance de conhecê-la). A Bíblia diz que Deus é justo e julgará tudo com justiça, por isso não precisamos temer o juízo. Um bonito exemplo de salvação pela graça é o do “bom” ladrão. Lucas 23:39-43 menciona os dois ladrões que foram crucificados ao lado de Jesus. Um deles se converteu ali e foi perdoado por Jesus, recebendo a garantia da vida eterna. Ele foi batizado? Praticou alguma boa obra depois? Evidentemente que não, pois morreu na cruz. Logo, não é o batismo ou a prática de boas obras que nos garantem a salvação. Novamente fica claro que ela é um dom de Deus. Evidentemente que se o ladrão convertido tivesse tido a chance de descer da cruz, começaria nova vida e seria batizado, já que o batismo cristão é o símbolo da união com Cristo e da vida nova pela fé.

Assim, se o índio bom, lá na selva amazônica, praticou a justiça conforme a aprendeu, Deus saberá como julgá-lo. É interessante que Zacarias 13:6 dá a entender que haverá pessoas no Céu que não terão ouvido falar do sacrifício de Jesus aqui, mas terão sido salvas por Ele: “Se alguém Lhe disser: Que feridas são essas nas Tuas mãos?, responderá Ele: São as feridas com que fui ferido na casa dos Meus amigos.”

Às vezes atribuímos a Deus características e ações que mesmo nós, seres humanos com tendência ao mal, jamais faríamos, como condenar alguém que ignora os fatos sobre Deus. João diz que “Deus é amor” (I João 4:8). E essa revelação deve nortear sempre nossos pensamentos e conclusões sobre o Pai celestial.

(Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia)

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