Por que, dentre todos os apóstolos, o único que teve o nome mudado foi Pedro? E por que o nome foi mudado justamente para “Pedra”? Por que todos os evangelistas, quando citam os apóstolos, sempre começam por Pedro ou Simão? Por que, num momento de tantas dúvidas dos discípulos sobre o cumprimento ou não da lei nos quesitos alimentares, é exatamente Pedro que tem a visão que fecha o assunto. Por que Deus parece querer sempre revelar a verdade por meio de Pedro? – B.
Prezada B., o nome de Pedro foi mudado para “pedregulho” (tradução de petrus) porque ele seria uma das bases da Igreja, que é fundamentada sobre a Pedra (petra, no grego). Pedro foi um líder importante da igreja cristã primitiva, mas a Bíblia menciona outros líderes como Tiago. Por ser mais impulsivo e enérgico, Pedro acaba se destacando.
Através de Mateus 16:16-20 tenta-se fazer crer que o apóstolo Pedro teria recebido de Cristo as “chaves dos Céu”, tornando-se, assim, o primeiro papa, ou cabeça visível da Igreja. Não é bem assim. Como este assunto é de fundamental importância, convido-o a procurar as referidas passagens em sua própria Bíblia:
1. De acordo com o próprio apóstolo Pedro, quem é a Pedra ou líder (cabeça) da Igreja? (ver Atos 4:8-12; 1 Pedro 2:4-8).
2. O que Paulo diz sobre o “fundamento da Igreja”? (1 Coríntios 3:11).
3. Discussão dos discípulos de Jesus (Mateus 18:1; Marcos 9:33-35; Lucas 22:24-26). Obs.: Essa discussão se deu após o suposto “primado” de Pedro. Se Cristo houvesse estabelecido Pedro como o “chefe”, os discípulos não teriam discutido sobre quem era o maior.
4. Paulo repreende a Pedro (Gálatas 2:11-16). Obs.: Segundo a concepção católica, o papa é infalível em matéria de fé e, portanto, seria um tanto estranho Paulo repreender ao “líder infalível”.
5. Quem cuidava da Igreja não era apenas Pedro (Atos 6:2; 14:22-25; 15:13,19; 12:17; 21:18; 1 Coríntios 15:7; Gálatas 2:9; Efésios 2:20; Apocalipse 21:14).
6. Em termos espirituais, é errado chamar alguém de pai (papa) (Mateus 23:9).
7. A Bíblia não autoriza que se ajoelhe diante de homens (Atos 10:25-26). Obs.: Também considera blasfêmia homens perdoarem pecados (ver Mateus 9:2-3; Marcos 2:7). Não se deve zombar de Deus fazendo o que Ele não permite (Gálatas 6:7; Apocalipse 19:10).
8. Pedro não possuía ouro nem prata, ao contrário do que se vê hoje no Vaticano (Atos 3:6).
9. Pedro era casado, contrariando o celibato (Mateus 8:14).
10. Jesus repreende a Pedro (Mateus 16:22-23). Obs.: Como Cristo poderia dizer “afasta te, satanás”, se Pedro fosse o papa?!?
11. Em Mateus 18:15-18, fica claro que o poder de “ligar e desligar” é da Igreja e não de alguém em especial. Aqui Jesus usa a expressão “ligardes” e “desligardes” no plural. A “chave”, como se nota em Lucas 11:52, é a própria Bíblia, pois ela pode nos garantir a entrada no Céu (leia João 5:39).
12. Então, quem é a verdadeira Pedra? (Efésios 2:19-22; Colossenses 1:18). Obs.: Como já indiquei acima, no grego, língua em que foi escrito o Novo Testamento, a palavra “pedra” tem duas grafias no texto: “...tu és petrus e sobre esta petra edificarei Minha Igreja.” Petrus significa pedra pequena, pedaço; e petra, Rocha. Cristo não poderia edificar a Igreja sobre algo tão inseguro quanto uma petrus. Por isso a Petra, a Rocha que é Cristo, é o único fundamento e “ninguém pode pôr outro” (1 Coríntios 3:11).
13. A “infalibilidade” do papa foi criada em 1870 pelo Concílio do Vaticano. Mas foi Leão I que deu ênfase ao primado de Pedro entre os apóstolos, ensinando que o que Pedro possuíra havia passado aos sucessores. Em 445, Leão I conseguiu que o Imperador do Ocidente, Valentiniano III, promulgasse um edito ordenando a todos que obedecessem ao Bispo de Roma – o papa – como portador que era do “primado” de Pedro. Entretanto, os autores católicos dos primeiros quatro séculos jamais defenderam, baseados em Mateus 16:18, que Pedro tenha recebido de Cristo qualquer primazia ou que ele tenha entregue esse poder aos bispos de Roma. Irineu e Eusébio estão de acordo nesse ponto: o primeiro bispo (ou papa) da Igreja de Roma foi Lino (ver História Eclesiástica de Eusébio, Livro III, c. 2).
Só para concluir, o notável gramático Eduardo Carlos Pereira nos chama a atenção para a forma do demonstrativo empregado – “esta” e não “essa”. “Esta” refere-se à pessoa que fala e “essa” à pessoa com quem se fala. Se a pedra fosse Pedro, o demonstrativo usado seria “essa” e não “esta”.
Que Deus a abençoe em sua procura pela verdade.
(Michelson Borges)